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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

E Começa a Folia no E aí?!

     O país já está em ritmo de festa, e no Rio, Momo já é o dono do pedaço, obviamente o E aí?! não iria ficar de fora dessa folia. A partir de hoje, 20 de janeiro, sob as bençãos de São Sebastião, publicaremos tudo (que for possível e interessante) sobre CARNAVAL, a maior festa popular do mundo, não deixem de conferir também as datas e horários dos desfiles na nossa agenda. E pra começar ... vamos começar do início, é isso mesmo, pura redundância...

Tia Ciata


       A partir da segunda metade do século XIX, desembarca no Rio de Janeiro, ex-escravos vindos da Bahia, se aglomeraram na colônia baiana que Heitor dos Prazeres chamava de Mini-África, essa colônia ou Mini-África ficava entre a Praça Mauá e Pedra do Sal até a Cidade Nova. Os desdobramentos dos valores e linguagem da tradição dos orixás (Candomblé), no âmbito da cultura passam a chamar de Mundo do Samba, e assim não podemos deixar de citar Tia Ciata, Tia Bebiana e Hilário Jovino. Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, foi iniciada no Candomblé em Salvador, onde nasceu, filha de Oxum, migrou para o Rio de Janeiro, acompanhando a torrente de baianos que vinham nos navios erguendo a bandeira branca para sinalizar para a Pedra do Sal que estavam chegando.
      Tia Ciata teve quinze filhos, e os criou através de seus negócios de doces e aluguel de roupas. Dava muitas festas, o samba raiado, com mote e partido alto, o samba corrido, riscado nos pés, o samba de roda, que era constantemente perseguido pela polícia. Para conseguir promover essas reuniões, as baianas pediam licença à polícia para fazer um baile, um chá dançante, então se dava na sala da frente, o baile, nos fundos do quintal, o samba. Tia Ciata, cozinheira de mão-cheia da culinária afro-baiana, reunia à sua volta os melhores músicos negros da época. Outros Tios e Tias como: Amélia Silvana dos Santos, mãe de Ernesto dos Santos, o Donga; Perciliana Maria Constança, mãe de João Machado Guedes, o João da Baiana; Tia Sadata, da Pedra do Sal, que foi uma das fundadoras do rancho carnavalesco Rei de Ouro, juntamente com Hilário Jovino; Tia Gracinha, mulher do afamado Assumano Mina do Brasil, entre várias outras Tias, formaram essa ambiência cultural que marcaria definitivamente a identidade sócio-cultural do Estado do Rio de Janeiro.
       E foi nessa ambiência cultural que o samba atingiu as rádios, com Donga, e também as ruas, com os ranchos, que estimulou o maxixe, o choro, e o surgimento de nomes como, além dos já citados, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, Sinhô etc. A introdução dos ranchos no carnaval carioca foi invenção de Hilário Jovino Ferreira, Ogã do terreiro de João Alabá, ficando mais conhecido na época como Lalu de Ouro. A tradição dos ranchos ou pastoris do ciclo natalino, de origem baiana, tinha seu ponto alto na Lapinha, em São Domingos, onde residia Bebiana de Iansã; todos os ranchos iam cumprimentar Tia Bebiana na Lapinha. A partir do sucesso do Rei de Ouro, Hilário fundou diversos ranchos, como a Jardineira, Filhas de Laranjeiras, Reino das Magnólias, Riso Leal, Ameno Reseda e muitos outros. Embora os ranchos de carnaval, com o tempo, tenham alterado as características iniciais, Hilário nunca deixou de reverenciar Tia Bebiana. 
      Durante as primeiras décadas do século XX, os ranchos se destacavam no carnaval do Rio de Janeiro. Eles instituíram as figuras graciosas do mestre-sala e porta-estandarte. Com a proliferação dos ranchos no Rio, Tia Ciata recebeu de Miguel Pequeno, que era um dos que acolhiam em sua casa os baianos recém-chegados ao Rio, os papéis com licença da polícia para fundação do rancho Rosa Branca. Ela investia o que ganhava na expansão e desenvolvimento de sua comunidade, fortalecendo seus vínculos institucionais, da vida no santo e no trabalho, tanto que ela aceitou curar uma ferida crônica do Presidente da República, Wenceslau Brás, com seus conhecimentos das folhas, adquiridos no candomblé. Uma vez curado, o Presidente, em agradecimento, nomeou o marido de Tia Ciata para ocupar um posto no Gabinete do Chefe de Polícia. Esta nomeação e este contato com a Presidência permitiram que a casa de Tia Ciata e de outras Tias e Terreiros ficassem afastados das perseguições policiais. Comemorava as festas dos orixás em sua casa na Praça Onze, onde, depois da cerimônia religiosa, se armava o pagode. Partideira cantava com autoridade, respondendo o refrão nas festas que se desdobravam por dias, cuidando que as panelas fossem sempre requentadas e o samba nunca morresse. 
      A organização da instituição religiosa, os valores de sua hierarquização se multiplicavam no âmbito comunitário, propiciando a constituição dos ranchos. Os ranchos, no seu início, eram todos despreocupados de alegorias, isentos de luxo e apenas, isto sim, com suas baianas caprichosamente vestidas com saias bonitas e sandálias de fino acabamento. Baianas que, bem no ritmo, afinadas na marcação dos pandeiros, dos tamborins, dos ganzás, cantavam harmoniosamente. O extenso grupo familiar de Tia Ciata se organizava no rancho Rosa Branca, onde despontava como porta-estandarte, sua filha, Fátima, e, no bloco satírico O Macaco, fundado por Germano, seu genro, sua neta Licínia da Costa Jumbeba era a porta-estandarte, e o neto, Marinho, mestre-sala. Marinho também participava do rancho Recreio das Flores, onde se organizavam os trabalhadores da estiva, participantes da Companhia dos Pretos, depois denominada Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café. O Recreio imprimiu aos ranchos a possibilidade de montar uma ópera ambulante. Assistindo óperas no Municipal, lendo clássicos da literatura e da mitologia grega, fez vários sucessos no carnaval, apresentando temas como Aída, de Verdi, Inferno e Paraíso, de Dante. E com histórias dos deuses do Olimpo, com fantasias luxuosas e feérica iluminação, através dos holofotes do cais, que obtinha licença para utilizar nos cortejos, o Recreio das Flores assim se destacava.
      Tia Ciata faleceu em 1920, e até hoje é lembrada e homenageada pelo mundo do samba e do candomblé, e a Ópera do Recreio das Flores, hoje, se transformou nos enredos das Escolas de Samba que podemos assistir na Marquês de Sapucaí no carnaval. Verdadeiros mágicos, os carnavalescos, artesãos e suas agremiações, nos dão o prazer de ver e/ou participar dessa grande Ópera Popular, se bem que hoje em dia, já não são mais tão populares no sentido econômico da questão, os ingressos para assistir os desfiles são bem caros, e as fantasias para desfilar também, porém, a marca da versatilidade genuína existente em nós brasileiros, nos fez revitalizar os blocos, diversão barata e que põe à prova toda nossa criatividade, nas fantasias, nas marchinhas e até nos nomes dos blocos. Então, que se faça a alegria e a magia.

Axé!

Um comentário:

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E aí!? O que vc tem a dizer sobre isso?