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sábado, 10 de janeiro de 2015

Ser Mestiço é Legal II - Continuação

         O “darwinismo social” ou “teoria das raças”, pensamento social do século XVIII, determinava que: “... os mestiços exemplificavam a diferença fundamental entre as raças e personificavam a “degeneração” que poderia advir do cruzamento de “espécies diversas...” A idéia de que o mestiço, à semelhança da mula, não era fértil, teóricos deterministas advogavam interpretações opostas, lastimando a extrema fertilidade dessas populações que herdavam sempre as características mais negativas das raças em cruzamento. As raças humanas como “espécies diversas”, deveriam ver na hibridação um fenômeno a ser evitado... Ou seja, as raças constituiriam fenômenos finais, resultados imutáveis, sendo todo cruzamento, por princípio, entendido como erro, e compreender a mestiçagem como sinônimo de DEGENERAÇÃO NÃO SÓ RACIAL COMO SOCIAL, estabelecendo que existiria entre raças humanas a mesma distância encontrada entre o cavalo e o asno.” O Espetáculo das Raças, Schwarcz, Lilia Moritz, (1993) cap.02, pgs.56 e 58.

         Seguindo o raciocínio de comparações entre humanos e animais, vejamos que os primeiros exemplares de cavalo aparecem nas planícies africanas há quatro milhões de anos atrás. O cavalo árabe é a raça mais pura e antiga que existe e suas referências recuam há pelo menos 2.500 anos a.C.. Curiosidades sobre ele remontam ao seu tipo físico “atípico” em relação a outras raças. Por exemplo, ele tem 17 costelas quando as outras têm 18; 05 ossos lombares as outras 06 e 16 vértebras quando o normal são 18.  A raça Puro Sangue é a mais rápida e uma das mais valiosas do mundo, conserva o registro genealógico das primeiras raças Inglesas e Irlandesas. A evolução da raça derivou no cruzamento de 03 garanhões orientais: O Byerly Turk, o Darley Arabian e o Godolphin Arabian. As características físicas do Puro Sangue são também bastante peculiares: seus rins são mais fortes dos que o de um cavalo normal, o que lhe proporciona mais potência no galope; as narinas são maiores que as de um cavalo normal, o que ajuda na oxigenação rápida e obviamente mais fôlego; as costas são longas e muito inclinadas o que permite passadas longas com pouco esforço. Para conhecer a idade de um cavalo faz-se a análise de sua dentadura. Bom, até aqui vimos que o cruzamento beneficiou os cavalos, dando-lhes melhor estrutura física e beleza, e quanto ao conhecimento de sua idade, o fiz propositalmente, já que os negros escravizados também eram avaliados por sua arcada dentária para saber de sua saúde e idade. Sobre as narinas também faço uma menção proposital, sendo isso uma das características físicas do estereótipo negro, e finalmente lembrando que os negros mais altos e fortes eram mais caros e separados para serem reprodutores, tais quais os 03 garanhões orientais.

         Passemos agora para o cruzamento especificamente humano brasileiro. Da chegada dos europeus em território brasileiro, estima-se que havia aqui cerca de 5.000.000 de índios nativos divididos em 04 tribos (Tupi-Guaranis, Tapuias, Aruaques e Caraíbas). Os portugueses dividiam os índios em dois grupos: os “mansos” e os “bravos”. Os mansos eram os aliados dos portugueses e os bravos se aliavam a outros europeus inimigos. A coroa portuguesa concedia vários benefícios e honrarias às lideranças indígenas, revelando assim uma “política indigenista” que era aplicada aos índios aldeados e aliados e outra aos considerados inimigos. Ambos de grande importância no processo de colonização fossem como mão-de-obra cativa ou como povoadores do território, participaram ativamente como guardiões das fronteiras e controladores dos escravos africanos, por sua exímia capacidade de seguir pistas; eram contratados pelos proprietários de engenho como capitães-do-mato. Pronto já temos a base de nossa “cruza”: Índios Nativos + Brancos Europeus + Negros Africanos, daí teremos: Branco + Índio = Mameluco ou Caboclo; Branco + Negro = Mulato e Índio + Negro = Cafuzo.

         Segundo o Censo e a Pnad/IBGE de 2011, a população brasileira está dividida em 47,8% de Brancos, 8,2% de Pretos, 43,1% de Pardos e 1% de Indígenas/Amarelos. Isso demonstra a negação e desconhecimento étnico do povo brasileiro sobre si mesmo, e do não entendimento entre os órgãos estatais e privados, representantes de políticas públicas, organizações e movimentos sociais em estabelecer o que é inegável, a miscigenação. Porque a mestiçagem ainda é negada? Qual o motivo de não se ter como opção de cor a terminologia Mestiço no Censo? Cada vez me convenço mais que o termo pardo é utilizado para mascarar o termo mestiçagem, que por muito tempo foi conceituada como degradação de uma espécie. Mas, hoje, em pleno século XXI, continuarmos com esse conceito e pré-conceito étnico no Brasil, é dar um novo nome, uma nova denominação a “raça” e conseqüentemente ao “racismo”.

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