O “darwinismo
social” ou “teoria das raças”, pensamento social do século XVIII, determinava
que: “... os mestiços exemplificavam a diferença fundamental entre as raças e
personificavam a “degeneração” que poderia advir do cruzamento de “espécies
diversas...” A idéia de que o mestiço, à semelhança da mula, não era fértil,
teóricos deterministas advogavam interpretações opostas, lastimando a extrema
fertilidade dessas populações que herdavam sempre as características mais
negativas das raças em
cruzamento. As raças humanas como “espécies diversas”, deveriam
ver na hibridação um fenômeno a ser evitado... Ou seja, as raças constituiriam
fenômenos finais, resultados imutáveis, sendo todo cruzamento, por princípio,
entendido como erro, e compreender a mestiçagem como sinônimo de DEGENERAÇÃO
NÃO SÓ RACIAL COMO SOCIAL, estabelecendo que existiria entre raças humanas a
mesma distância encontrada entre o cavalo e o asno.” O
Espetáculo das Raças, Schwarcz, Lilia Moritz, (1993) cap.02, pgs.56 e 58.
Seguindo o raciocínio de comparações entre humanos e animais, vejamos
que os primeiros exemplares de cavalo aparecem nas planícies africanas há
quatro milhões de anos atrás. O cavalo árabe é a raça mais pura e antiga que
existe e suas referências recuam há pelo menos 2.500 anos a.C.. Curiosidades
sobre ele remontam ao seu tipo físico “atípico” em relação a outras raças. Por
exemplo, ele tem 17 costelas quando as outras têm 18; 05 ossos lombares as
outras 06 e 16 vértebras quando o normal são 18. A raça Puro Sangue é a mais rápida e uma das
mais valiosas do mundo, conserva o registro genealógico das primeiras raças
Inglesas e Irlandesas. A evolução da raça derivou no cruzamento de 03 garanhões
orientais: O Byerly Turk, o Darley Arabian e o Godolphin Arabian. As
características físicas do Puro Sangue são também bastante peculiares: seus
rins são mais fortes dos que o de um cavalo normal, o que lhe proporciona mais
potência no galope; as narinas são maiores que as de um cavalo normal, o que
ajuda na oxigenação rápida e obviamente mais fôlego; as costas são longas e muito
inclinadas o que permite passadas longas com pouco esforço. Para conhecer a
idade de um cavalo faz-se a análise de sua dentadura. Bom, até aqui vimos que o
cruzamento beneficiou os cavalos, dando-lhes melhor estrutura física e beleza, e
quanto ao conhecimento de sua idade, o fiz propositalmente, já que os negros
escravizados também eram avaliados por sua arcada dentária para saber de sua saúde
e idade. Sobre as narinas também faço uma menção proposital, sendo isso uma das
características físicas do estereótipo negro, e finalmente lembrando que os
negros mais altos e fortes eram mais caros e separados para serem reprodutores,
tais quais os 03 garanhões orientais.
Passemos agora para o cruzamento especificamente humano brasileiro. Da
chegada dos europeus em território brasileiro, estima-se que havia aqui cerca
de 5.000.000 de índios nativos divididos em 04 tribos (Tupi-Guaranis, Tapuias,
Aruaques e Caraíbas). Os portugueses dividiam os índios em dois grupos: os
“mansos” e os “bravos”. Os mansos eram os aliados dos portugueses e os bravos
se aliavam a outros europeus inimigos. A coroa portuguesa concedia vários
benefícios e honrarias às lideranças indígenas, revelando assim uma “política
indigenista” que era aplicada aos índios aldeados e aliados e outra aos
considerados inimigos. Ambos de grande importância no processo de colonização
fossem como mão-de-obra cativa ou como povoadores do território, participaram
ativamente como guardiões das fronteiras e controladores dos escravos
africanos, por sua exímia capacidade de seguir pistas; eram contratados pelos
proprietários de engenho como capitães-do-mato. Pronto já temos a base de nossa
“cruza”: Índios Nativos + Brancos Europeus + Negros Africanos, daí teremos:
Branco + Índio = Mameluco ou Caboclo; Branco + Negro = Mulato e Índio + Negro =
Cafuzo.
Segundo o Censo e a Pnad/IBGE de 2011, a população
brasileira está dividida em 47,8% de Brancos, 8,2% de Pretos, 43,1% de Pardos e
1% de Indígenas/Amarelos. Isso demonstra a negação e desconhecimento étnico do
povo brasileiro sobre si mesmo, e do não entendimento entre os órgãos estatais
e privados, representantes de políticas públicas, organizações e movimentos
sociais em estabelecer o que é inegável, a miscigenação. Porque a mestiçagem
ainda é negada? Qual o motivo de não se ter como opção de cor a terminologia Mestiço no Censo? Cada vez me convenço
mais que o termo pardo é utilizado para mascarar o termo mestiçagem, que por
muito tempo foi conceituada como degradação de uma espécie. Mas, hoje, em pleno
século XXI, continuarmos com esse conceito e pré-conceito étnico no Brasil, é
dar um novo nome, uma nova denominação a “raça” e conseqüentemente ao
“racismo”.
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