Converse com a gente ...

Equipe

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Ser Mestiço é Legal III - Continuação



       Não podemos fugir a nossa responsabilidade social em permitir segregações, dividir as etnias pode ser perigoso, movimentam-se em nosso Estado grupos neonazistas, pessoas que se vêem “puras” e acreditam que devam “eliminar” nordestinos, negros e homossexuais do convívio social. 
      “O mundo ocidental está se mesclando de tal forma que parece não haver mais a possibilidade de se encontrar indivíduos absolutamente ‘puros’ no sentido cultural, social, biológico e étnico. Porém, muitos sujeitos híbridos não têm consciência de sua mistura, imaginando-se ‘puros’ ou negando a própria composição, camuflando sua existência e, às vezes, colaborando com processos fanáticos de absolutismos religiosos e/ou étnicos. Por outro lado, a promoção de uma realidade mesclada, em que contrários coexistem, enfrentando suas diferenças, respeitando e não as anulando, evitando os fundamentalismos, parece ser uma perspectiva mais positiva e tolerável para a organização de todo o contínuo híbrido que as mais variadas sociedades vivenciam desde os primórdios de sua formação. 
      O hibridismo não é um fenômeno moderno, porém é profundamente reforçado e exposto com o advento da colonização e pós-colonização do globo. O híbrido tem por finalidade nomear algo ou alguém cuja formação é mista, derivada de fontes heterogêneas. Este termo passa a ser empregado fortemente nos estudos da cultura a partir dos deslocamentos e migrações acentuadas do século XX... O híbrido constitui a identidade do duplo, dinâmica, flexível e plurivocal em contraposição à concepção hierárquica da identidade pura, única, autêntica, univocal e uniforme que, além de infecunda, é anticomunitária... Atualmente, as metrópoles centralizadoras do poder passam a ser ‘invadidas’ por movimentos migratórios desenfreados com sujeitos advindos das mais diversas partes do planeta e, nesta fusão humana, o hibridismo cultural atinge seu ápice. É uma reviravolta histórica, resultante da frequente exploração das nações postas à margem em que, fatidicamente, o criador é ‘tomado’ por suas criaturas. 
     Não é mais uma questão de se investigar a proposta homogênea e unilateral imperialista, pois esta já não existe mais, é utópica e ilusória uma vez que somos todos sujeitos de comunidades híbridas e multiculturais. Mesmo diante dos projetos neo-imperialistas de alguns países, a pureza étnica, por exemplo, cai por terra. Revertendo o movimento do centro para a periferia que caracterizou a era colonial e fez das colônias ‘o local dos sincretismos e hibridismos’, os grandes ‘centros globais’ são agora internacionalizados e hibridizados neste novo momento histórico pós-(ou neo) colonial (COSER, 2005, p. 176)”. Trecho do texto “O Entre-Lugar na Literatura Regionalista: Articulando Nuanças Culturais” Leoné Astride Barzotto, págs. 23 e 24, 2010.

       Um país que tem a capacidade de agregar o diferente harmoniosamente, vide o Saara, maior comércio popular da cidade e estado do Rio de Janeiro, onde temos Árabes, Turcos, Asiáticos, Portugueses, Alemães e seus descendentes, todos dividindo o mesmo espaço e respeitando-se mutuamente, não pode ser uma nação degenerada, fadada ao fracasso. Digo respeitando-se mutuamente porque se não o fosse, teríamos aqui a nossa própria ‘Faixa de Gaza’. Exatamente por causa desse multicolorido e profusões de sabores e credos, que hoje somos as “It Girls” ou “O Cara” para o resto do mundo, estamos conquistando o respeito e admiração da Europa e EUA, coisa inimaginável até bem pouco tempo. E de um ponto de vista bem otimista, acredito que o Brasil possa vir a ser em futuro bem próximo, exemplo e exportador de “Bem Viver” baseado em “Vivendo e Convivendo com as Diferenças”. É fato que ainda estamos caminhando e ainda temos muitos quilômetros a percorrer para realmente fazermos parte do grupo de países desenvolvidos cultura e economicamente, e enquanto não tivermos de fato políticas públicas que acabem com as desigualdades e discriminações continuaremos estacionados no subdesenvolvimento, e, acredito, que um povo conhecedor e sabedor de suas raízes, com educação de qualidade para todos independente de cor, condição social e credo, está muito próximo deste desenvolvimento necessário e esperado por todo habitante deste planeta. 
    “O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afro descendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada”. Trecho do texto sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – Parecer nº 003/2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E aí!? O que vc tem a dizer sobre isso?