A primeira coisa que vemos no desfile de uma escola
de samba é a Comissão de Frente, formada por 10 a 15 pessoas, por algum
tempo era apenas uma apresentação simples, geralmente eram os baluartes
(direção e velha-guarda) que vinham à frente carregando bastões como se fossem
guardiões da escola a protegerem. Na década de 40, Portela foi a primeira
escola de samba a inovar nessa apresentação do desfile, com componentes
luxuosamente vestidos de fraque e cartola fazendo coreografias ritmadas com o
samba, anos depois com a contratação de artistas plásticos e coreógrafos, a
Comissão de Frente ganhou glamour nos
ricos figurinos que seguem o enredo e nas coreografias que fazem a co-relação
entre Enredo+Letra do Samba+Ritmo. Mas, foi na década de 90 que as comissões de
frente tornaram-se alvos de críticas e elogios, ‘Quem não lembra as impactantes comissões da carnavalesca Rosa Magalhães
na Imperatriz Leopoldinense?’ Rosa e
Imperatriz transformaram esse quesito amplamente discutido, em 1993 sagrou-se
como uma marca da agremiação e da carnavalesca.
Comissão de Frente da Imperatriz de 1994 |
A escola de samba que ultimamente tem se destacado bastante no quesito Comissão de Frente é a Unidos da Tijuca. Nos últimos anos a agremiação tem surpreendido e emocionado o público levando para a Marquês de Sapucaí comissão que muda de roupa em um piscar de olhos, cabeças que caem, bastões que flutuam sozinhos, entre outras coisas.
E é aqui que entra o personagem da nossa entrevista de hoje. Fabrício Negri, ator, cantor, bailarino e personagem principal da Comissão de Frente da G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio, em 2015 apresenta o enredo “A Grande Rio é do Baralho!” que permeia o duplo (ou vários) sentido(s) das cartas, hora num jogo como o poker ou o buraco, hora na adivinhação como o tarô, ou ainda, uma insinuação de jogo de cartas marcadas no desfile de carnaval. “... Carnaval
2015. Há quem guarde um coringa... quem trate a disputa com a malícia de um
poker, a inteligência de uma partida de sueca ou como os velhos malandros, bons
no carteado. Previ, sonhei e imaginei. A Grande Rio despista os jogadores e dá
sua cartada na Avenida. A sorte está lançada! Façam suas apostas!”. Trecho do Enredo de 2015 da Grande Rio.
FN - Comecei fazer aula de sapateado por curiosidade, pois sempre fui fã de Fred Astaire e Gene Kelly e daí 01 mês depois minha professora Patrícia Carillo, me indicou para fazer parte da Orquestra Brasileira de Sapateado da Stella Antunes, no espetáculo Sapato Musical, para ser sub do personagem justamente do Fred Astaire, achei aquilo uma loucura mas topei o desafio, tive 04 meses para passar do nível básico ao profissional, fui para a Academia do Tap e fazia aulas com o mestre Flávio Salles o dia inteiro. Consegui! O ator que fazia o papel se machucou e acabei assumindo depois de 01 mês de temporada. Foi um dos maiores desafios que tive, todos acreditaram em mim e no fim eu consegui. Como era um musical, também atuava e cantava. Foi a primeira vez que estava juntando o canto, a dança e atuação num espetáculo, isso foi em 2000, desde então nunca mais parei.
E aí?! - O teatro musical veio a você por acaso ou era objetivo profissional? Qual (espetáculo) foi o primeiro?
FN - O primeiro foi o Sapato Musical. Depois fiz Sinatra - Olhos Azuis do produtor e diretor Cláudio Figueira. Eu sempre fui apaixonado por musicais, influência de minha mãe que quando eu era criança comprou um cd do Andrew Lloyd Webber, compositor famoso de musicais como Cats e O Fantasma da Ópera, ouvíamos o dia inteiro, diria que aos 07 anos eu já sabia O Fantasma da Ópera do começo ao fim, então sempre foi um sonho. Aos 13 anos tive minha estréia no teatro com ‘Diário de um adolescente hipocondríaco’ de Sura Berditchevsky, mas só anos depois comecei nos musicais. Desde então já fiz: 7 - O Musical; Beatles num céu de diamantes; Fascinante Gershwin; Xanadu; Shrek O Musical; Meu Amigo Bobby; Rádio Nacional; Emilinha e Marlene; Agnaldo Rayol - A Alma do Brasil entre outros. Sou apaixonado pelo que faço!
E aí?! - Os Musicais da, e, na Broadway, Manhatttan (NY/EUA), são uma referência mundial do melhor que há em espetáculos. Para você, o Brasil está em que escala (de 0 a 10) para a profissionalização dos nossos espaços e das pessoas deste segmento? O que falta em sua opinião para melhorar esse quadro?
FN - Diria que estamos no 08 (rsrsrs), temos já todos os profissionais capacitados para fazer, entre artistas, produtores, diretores e áreas técnicas, só falta mesmo o investimento. Um musical na Broadway custa em média 10 milhões, alguns até muito mais. Aqui no Brasil essa é uma realidade distante, poucas produções conseguem o dinheiro necessário, tenho esperança que isso mude logo.
Fabrício Negri |
E aí?! - Voce sempre gostou de carnaval? Em que momento ele (carnaval) entrou na sua vida? Como foi que voce chegou à Comissão de Frente, e qual escola foi a primeira?
FN - Sempre amei, também desde criança. Via todos os desfiles, dava notas para cada Escola e fazia o meu ranking das melhores. Primeiro fui assistir aos desfiles e fiquei louco com a grandiosidade daquilo tudo. Depois desfilei numa ala, que ganhou no ano o Estandarte de Ouro de melhor ala, achei aquilo o máximo. A primeira Comissão de Frente foi em 2005 na Tradição com o coreógrafo Sérgio Lobato, em seguida fui pra Mocidade com a Ana Botafogo e depois Viradouro com o Sérgio mais uma vez. Em 2008 comecei na Unidos da Tijuca, com meu primo Rodrigo Negri e a Priscilla Mota. Desde 2010 temos tido muito sucesso com nossas Comissões, nota máximo todos os anos, 3 campeonatos e eu fazendo o personagem principal à frente da Comissão. Uma história fantástica que eu sonhei desde criança e nunca imaginaria que seria tão apoteótica assim. Em 2015 estamos estreando na Grande Rio.
E aí?! - Geralmente, o carnavalesco quando faz o enredo, já distribui a concepção de fantasia nos setores e isto inclui, obviamente, a Comissão de Frente. O coreógrafo da comissão interfere nesse momento criativo do carnavalesco para melhor adaptar figurino com os movimentos da coreografia? A partir de que mês vocês se reúnem e começam a falar de carnaval, e quando começam os ensaios?
FN - Desde que sai o enredo começamos a conversar sobre o assunto e a desenvolver idéias. O Rodrigo e a Priscilla tem carta branca para criar o que quiserem, claro que é em parceria com o carnavalesco sempre. Os ensaios começam só depois que é definido o samba, portanto a partir de novembro.
E aí?! - Falando em coreografia, como ela é definida? O coreógrafo segue os passos do enredo, do samba enredo ou da fantasia? Ele tem carta branca para desenvolver a coreografia como bem quiser?
FN - O Rodrigo e a Priscilla são grandes coreógrafos, muito musicais, sempre desenvolvem a partir do samba, da letra e claro mesclando a coreografia com os efeitos. Carta branca total em tudo, na coreografia, na criação da cena e dos personagens e no desenvolvimento dos efeitos.
E aí?! - E já que estamos falando do coreógrafo, o Rodrigo Negri é seu parente (risos)?
FN - Pois é, é meu primo (rsrs). Mas não é por isso que trabalhamos juntos, é afinidade artística mesmo, eles confiam em mim e tem me dado oportunidades fantásticas. Afinal de contas o jurado não dá 10 porque eu sou primo do coreógrafo (rsrs).
Fabrício Negri em vários momentos na Comissão de Frente da Unidos da Tijuca |
E aí?! - Voce ficou na campeã de 2014, Unidos da Tijuca, de 2008 a 2014. O ditado diz: ”Não se mexe em time que está ganhando!” Porque mudou, mudou por quê?
FN - Foi uma história linda na Unidos da Tijuca, com 03 campeonatos, fizemos muitos amigos e isso não muda. Mudamos de Escola para experimentar novos desafios. Eu tinha até pensado em parar depois do Carnaval passado, fomos campeões, nota máxima no nosso quesito e vivi uma das maiores emoções da minha vida representando o Ayrton Senna, não tinha mais para onde ir, nem o que pedir do Carnaval, todos os sonhos realizados. Com essa mudança para a Grande Rio me veio um desafio novo, não tive como dizer não.
E aí?! - A Grande Rio vêm falando das cartas, tanto no jogo como na adivinhação. A Comissão de frente vem para embaralhar a vida das outras agremiações, ou para colocar as cartas na mesa e apresentar um Royal Straight Flush? Dá pra contar um pouquinho (risos) do figurino para nós?
FN - A Grande Rio vem apostando nesse enredo autoral do carnavalesco Fábio Ricardo, com uma comunidade muito forte, com novas contratações, resumindo, pronta para colocar as cartas na mesa e ser campeã. O Carnaval de 2015 será o mais disputado dos últimos anos, com 08 agremiações com chances reais de título, então a briga será grande. Tudo é segredo no momento, um bom apostador guarda seu trunfo na manga (rsrs), mas só adianto que a Escola vem forte, muito forte, com uma vontade de ganhar muito grande e com uma equipe se preparando para isso com muito trabalho.
E aí?! - Pra encerrarmos nossa entrevista, diga aos leitores do E aí?! O que será imperdível no desfile da Grande Rio, algo tipo #valeapenaconferir?
FN - Nossa Comissão de Frente!!! O trabalho está lindo!!! Será de grande impacto, não percam!!!
Não se preocupe Fabrício Negri, não
perderemos por nada, até por que teremos que comentar depois se a Grande Rio
jogou mesmo pra ganhar ou se tudo não passou de um blefe (risos).
“- o cumprimento da função de saudar o público e apresentar a escola, sendo obrigatória a exibição em frente às cabines de julgamento;
- a coordenação, a sintonia e a criatividade de sua exibição, que será obrigatória em frente às cabines de julgamento, podendo evoluir da maneira que desejar;
- a indumentária da comissão de frente, que poderá ser tradicional (fraques, casacas, summers, ternos, smokings etc., estilizados ou não) ou realizada de acordo com o enredo, levando em conta, neste caso, sua adequação para o tipo de apresentação proposta”.
Samba Enredo 2015 - A Grande Rio é do Baralho!
O jogo começou
Sou eu quem dou as cartas na avenida
E nessa disputa de poder, eu não quero saber
Vou jogar pra vencer
Sou “rei”, venha ser a minha “dama”
No castelo de quem ama
Sou teu “servo” minha linda flor
A surpresa está na manga
Meu trunfo de maior valor
Sou eu quem dou as cartas na avenida
E nessa disputa de poder, eu não quero saber
Vou jogar pra vencer
Sou “rei”, venha ser a minha “dama”
No castelo de quem ama
Sou teu “servo” minha linda flor
A surpresa está na manga
Meu trunfo de maior valor
Pra saber o meu destino… fui buscar
A resposta no tarô e encontrei o amor
A chave para abrir o meu caminho
No raiar de um novo dia, a cigana revelou
A resposta no tarô e encontrei o amor
A chave para abrir o meu caminho
No raiar de um novo dia, a cigana revelou
Estrelas me guiam a luz do luar
Além dos mistérios eu vou viajar
A “água” da “terra” eu vejo brotar
O “fogo” ardendo envolto no “ar”
O meu amanhã como posso saber?
Chegou minha hora, eu não posso perder
De um jeito esperto, num lance incerto
A última carta vai surpreender
Canta Caxias, o meu coringa é você
Além dos mistérios eu vou viajar
A “água” da “terra” eu vejo brotar
O “fogo” ardendo envolto no “ar”
O meu amanhã como posso saber?
Chegou minha hora, eu não posso perder
De um jeito esperto, num lance incerto
A última carta vai surpreender
Canta Caxias, o meu coringa é você
Eu vou na ginga, jeito malandreado
Vem cá menina, começou o carteado
Se você veio ver, então vamos jogar
Chegou Grande Rio, pode apostar!
Vem cá menina, começou o carteado
Se você veio ver, então vamos jogar
Chegou Grande Rio, pode apostar!
12/02 – Show da Velha
Guarda da Grande Rio - Na próxima quinta, dia 12 de fevereiro, o Caxias
Shopping realiza o último show da Velha Guarda da Acadêmicos do Grande Rio. No
palco, componentes da velha guarda relembram canções de outros carnavais, além
de cantar sambas antigos, músicas de compositores da escola e, claro, o samba
enredo de 2015 “A Grande Rio é do Baralho” que conta a história das cartas. E o
melhor: o evento é gratuito. Aquecimento final para a apresentação da escola na
avenida.
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