Na década de 90 a palavra de ordem era ‘Reengenharia’
- era um sistema administrativo utilizado pelas organizações para se
manterem competitivas no mercado e alcançarem as suas metas,
reformulando o seu modo de fazer negócios, suas atividades e tarefas e/ou
processos. Hoje a palavra é ‘Reinventar’ ou ‘Readaptar’, não é uma tarefa
fácil, precisa de coragem e muita disposição e foi isso que uma amiga e o
marido resolveram fazer, quer dizer, se viram obrigados a fazer.
Sônia Condessa, 49 anos, formada em Economia; atuou
por +/- 10 anos como Inspetora de Pintura Qualificada na Indústria Naval; condição
trabalhista dos últimos 02 anos – DESEMPREGADA.
Márcio Fernandes, 51 anos, atuou por +/- 20 anos no
mercado de trabalho como Gerente
de Compras de uma grande empresa do ramo de
confecção (considerada a maior do Brasil e uma das 10 maiores no mundo),
desligado do ramo de confecção foi para uma empresa no ramo da pintura
industrial e jateamento, desenvolvendo a mesma função ganhava metade do salário
anterior, permaneceu por 02 anos; condição trabalhista dos últimos 08 meses –
DESEMPREGADO.
Márcio Fernandes e Sônia Condessa |
Calma, essa não é uma história triste, digamos que é
uma história de... superação... NÃÃÃOOO!!! (risos). Não agüento mais essa
palavra, em todos os programas de TV, lá está a tal ‘SUPERAÇÃO’. Essa é uma
história real de brasileiros normais que sobrevivem em uma sociedade surreal.
Sônia e Márcio se conheceram em um baile de carnaval
há mais de 20 anos (quem disse que amor de carnaval não dura?), tiveram duas
lindas filhas, uma mora e estuda em Goiânia/GO, e a caçula ainda mora com os
pais e teve que se readaptar também à nova condição financeira.
Com o quadro de desemprego estampado na sala de estar
da família, começaram as ideias de como atravessar essa tsunami (me lembro de
alguém em um passado não muito distante dizendo em rede nacional, que era só
uma marolinha, é isso mesmo produção?). Enfim, continuando...
As sugestões vieram recheadas de um humor provinciano
tão legal, que prefiro contá-las no formato diálogo:
Márcio: - Vamos vender sacolé?! Se conseguirmos ganhar uns R$ 500 no mês, já dá pra pagar uma conta de luz.Sônia: - Voce tem noção da quantidade de sacolés que teremos que vender para alcançarmos a marca de R$ 500 ao mês????Márcio: - Então o que voce acha de montarmos um Lava-jato?Sônia: - Ah! Perfeito! Num lugar que cai água uma vez na semana, já tô até vendo o tamanho do lucro mensal.
Gargalhadas a parte, foram muitas ideias até chegarem
ao “Xis do Gaúcho”. Gaúcho porque Márcio é de Santa Cruz do Sul, município que
fica a 150 km
de Porto Alegre/RS, e é do sul esta iguaria tão peculiar. Trata-se de um
sanduíche, chamado "Xis", por referência muito distante ao famoso
cheeseburger. A receita para fazer Xis foi até hoje totalmente oral,
transmitida somente de xiseiro para xiseiro. O xis gaúcho tradicional tem
pouquíssimas opções, todos os sabores têm 90% dos ingredientes idênticos, o que
muda (e dá o nome ao xis) é somente o tipo de carne, o pão para este sanduíche
deve ser MUITO grande, um pão pequeno não conseguiria segurar todos os
ingredientes.
E assim, a Vascaína e o torcedor do Internacional
começaram seu novo e primeiro negócio (uma paixão compartilhada pelo casal:
Futebol). Inicialmente ficou estabelecido que fosse
apenas delivery e com uma
meta de vender 50 sanduíches por semana, logo, 200 ao mês. Dispondo de uma
pequena chapa e muita disposição, o casal montou em sua residência uma
verdadeira fábrica de produção de Xis, a distribuição de tarefas ficou assim:
Maria (Irmã de Sônia) – na cozinha auxiliando nos cortes de temperos, como
tomates, cebolas, alfaces etc; Samanta – montagem inicial do sanduíche; Sônia –
chapa; Márcio – embalagem e entrega do sanduíche.
Hoje, após 07 meses (apenas) de trabalhos iniciados são
vendidos aproximadamente 350 sanduíches por semana, o que equivalem a +/- 1.400
Xis por mês, além disso, a equipe que antes era formada por apenas 04 pessoas,
hoje contam com 10 pessoas, e muito em breve precisarão de mais, porque agora
além do delivery estão também atendendo no local, mais precisamente na varanda
da casa.
Obviamente que fui comprovar (e provar) isto bem de
perto. Pra começar voce é apresentado a um pão de 20 cm de diâmetro, depois
escolhe o sabor: Frango, Calabresa, Carne, Filé ou Coração, qualquer um têm
200gr de peso. Este big-gigante sanduíche prensado ainda vem com vários
acompanhamentos opcionais: Maionese (a melhor que já comi na minha vida,
receita super-mega-ultra secreta da Sônia), Catchup, Mostarda, Tomate, Alface, Queijo,
Ovo, Milho e Ervilha. Aí é só alegria!!! (risos).
Viu, não disse que não era uma história triste?! Eu
diria que é uma história de recomeço. O casal que descrevi nunca tinham se imaginado
fora do padrão financeiro confortável que mantinham, se viram obrigados a
reavaliar suas vidas e pré conceitos estabelecidos por
uma sociedade que
inferioriza qualquer trabalho digno, mas sem um status sócio-econômico pré-definido.
A verdade é que não tá fácil pra ninguém! Divagando
ou não, só sei que vale a pena tentar, tentar, tentar... E conseguir. Se for
comendo um Xis do Gaúcho melhor ainda, como dizia minha mãe: O pensamento flui
melhor de estômago cheio!
Tels.: 21 – 2672-0426 / 97671-1141 / https://www.facebook.com/xisdogauchocaxias/?fref=ts
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAdorei a matéria, pena que não entrega aqui na Lapa��
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