Caros
leitores, vocês devem ter ficado se perguntando o Porquê do nosso silencio
durante esse período eleitoral. Simples, como veículo de comunicação
acreditamos que nossa função é a de informar, e não a de provocá-los tendo nós
como formadores de opinião. Isto não significa que não tenhamos um perfil
editorial, temos sim e muito bem definido, nosso lema é Arte + Cultura +
Educação = Cidadania, e por isso nosso foco principal está sempre dialogando
com estas diretrizes, além do que, nossos colegas de profissão levaram a
questão à exaustão, ora com muito e ora sem apuro nenhum. Porém, nada nos
impede de fazer nossas próprias reflexões, e a nossa jornalista, Conceição
Gomes, que gosta de uma reflexão sempre pautada na história do nosso país e do
mundo, fez este texto abaixo e resolvemos publicá-lo:
Analisando
os resultados das pesquisas eleitorais sempre concluo que ali está um
quantitativo limitado de pessoas com uma opinião. Se o órgão pesquisador ouviu
2.000 pessoas o resultado é baseado somente na opinião de 2.000 pessoas, ou
seja, esse quantitativo não representa a maioria. Mas, percebo que a maioria da
população acredita naquele resultado como sendo uma unanimidade em um universo
de 6.498.837 habitantes. Esta constatação me faz crer no quão ingênuo e
limitado o nosso povo é.
Reportemos
a um passado não muito distante, mais precisamente, 1964. Lendo o artigo ‘Fatos
e Imagens: Artigos ilustrados de fatos e conjunturas do Brasil’ do FGV – CPDOC
que diz:
As
pressões da direita militar e o combate à esquerda armada
levaram à construção de uma máquina de repressão política feroz e
serviram de pretexto para o endurecimento progressivo do regime
autoritário inaugurado pelos golpistas em 1964. Nos primeiros dias após o
golpe, uma violenta repressão atingiu os setores politicamente mais mobilizados
à esquerda no espectro político, como por exemplo, o CGT, a União Nacional dos
Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude
Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Milhares de pessoas foram
presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de tortura foi comum,
especialmente no Nordeste. O líder comunista Gregório Bezerra, por exemplo, foi
amarrado e arrastado pelas ruas de Recife. Entretanto, o golpe militar foi
saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do
empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários
governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara,
Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos
setores de classe média pediram e estimularam a intervenção militar, como forma
de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise
econômica. Os militares que assumiram o poder em 1964 acreditavam que o
regime democrático que vigorara no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial
havia se mostrado incapaz de deter a "ameaça comunista". Com o golpe,
deu-se início à implantação de um regime político marcado pelo
"autoritarismo", isto é, um regime político que privilegiava a autoridade do
Estado em relação às liberdades individuais, e o Poder Executivo em detrimento
dos poderes Legislativo e Judiciário. Não havia um projeto de governo bem
definido, além da necessidade de se fazer uma "limpeza" nas instituições
e recuperar a economia.
Lendo
isso, me soou tão atual que continuei a pesquisa até me deparar com estas
informações recentes:
Em entrevista à BBC Brasil, o líder do governo no Senado,
Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse que o principal objetivo de Temer é equilibrar
as contas públicas e resolver a crise fiscal. Segundo ele, este é o caminho
fundamental para a economia voltar a crescer e gerar empregos. São reformas que
alteram direitos de trabalhadores, aposentados e que podem resultar em cortes
em áreas como saúde e educação. "O principal objetivo desse governo é
reorganizar a economia, sobretudo a partir da despesa pública. Vivemos uma
crise fiscal muito grave e, como consequência, temos uma crise econômica e
social", disse o senador Aloysio Nunes.
O
site www.em.com.br noticiou em Setembro de 2016:
O governo do presidente Michel Temer aproveitará o 7 de
Setembro para marcar um novo período nas relações do Palácio do Planalto com as
Forças Armadas. A ideia é mostrar que acabou a temporada em que os
investimentos na área militar ficavam em segundo plano na hora de distribuir os
recursos orçamentários. No ano que vem, primeiro ano do orçamento feito pelo
governo Temer, os valores destinados globalmente a todas as despesas do setor
subirão de R$ 82 bilhões para R$ 93 bilhões, conforme inscrito no projeto de
lei orçamentária para 2017 enviado na semana passada ao Congresso Nacional. “A
Defesa teve seu orçamento muito comprimido de 2013 para cá. O que faremos é dar
alguma descompressão que permita a continuidade dos projetos”, comenta o
ministro da Defesa, Raul Jungmann. Das três Forças, entretanto, a que obteve
maior acréscimo em seu orçamento global para 2017 foi o Comando do Exército. Os
valores subiram de R$ 34 bilhões este ano para R$ 40 bilhões.
Após toda essa leitura confesso que me apavorei ao saber, que uma grande parcela da sociedade
votou nulo, branco ou se absteve no segundo turno das eleições para Prefeito do
Rio de Janeiro. Entendo que o panorama sócio-político do país é desestimulante,
mas deixar de exercer um direito que nos foi impedido por 21 anos, e que o
reconquistamos a custa de muita tortura e assassinatos, é no mínimo
desrespeitoso. Com essas palavras antes que me acusem e condenem, esclareço que não estou
colocando em pauta as opções de escolha dos candidatos, apenas, fazendo uma leitura
real do momento econômico e político pelo qual estamos passando, e isso é muito
maior que religião ou plataformas partidárias.
Se
temos uma política corrupta é porque NÓS permitimos que ela o fosse, com a nossa
omissão e ‘mania’ cultural de achar que a culpa é sempre do outro, e nunca se
comprometer ou admitir que TODOS fazem parte desta máquina, somos elos da mesma
engrenagem. Não adianta apontar o dedo para um elo culpando-o do mau funcionamento,
quando outros três dedos estão voltados para si.
Posso
até estar com mania de ‘conspiração’, mas, me é tão claro um poder minando a
força e esperança do povo, até que este povo implore para que o regime político
mude e faça a ‘limpeza’ necessária para a máquina voltar a funcionar em
ótimo estado. Esse filme já passou e pode ser reprisado a qualquer momento,
diferentemente da época em que ele foi rodado onde as informações demoravam a
chegar, aproveite hoje a possibilidade que temos em ter todas as informações em
tempo real. Com a internet como elemento de busca cheque, apure, desconfie,
confira todas as notícias que chegam até você. Faça a sua parte e ajude ao elo
do seu lado a fazer a dele também, reflita que o bem maior e único que um
cidadão pode ter é o seu RACIOCÍNIO, como ver futuros cidadãos detentores de
raciocínio lógico e livre quando lhes são tirados no ensino médio as
disciplinas de filosofia e arte? Qual o raciocínio lógico de um país que acaba
de sediar o maior evento esportivo do mundo tira a Educação Física da grade
curricular como obrigatória? Além de Mens
sana in corpore sano, é uma questão de saúde pública.
Enfim,
são reflexões em uma noite primaveril que não apaga o temor do dia seguinte,
mas aumenta o desejo de ver o meu povo educado, politizado e conhecedor de sua
força, um povo que tem o controle remoto da cabine de cinema em suas mãos e que
só verá esse filme de novo na tela do cinema ou na tv de casa apenas como
lembrança, para que jamais seja esquecido e nunca mais vivenciado.
“Por mais bem votado que tenha sido o presidente eleito,
seu capital eleitoral (“votos”) tem de ser, no dia seguinte, convertido em
capital político (“apoios”). Do contrário ele reina, mas sem a famosa “base
aliada”, não governa.”
Fernando Henrique Cardoso