Por Conceição Gomes
Foto: Reprodução Instagram |
O Brasil, definitivamente, é o
país dos esquecidos. Propositalmente e literalmente, ou não!
AD provocou minha reflexão e
memória com duas postagens no instagram de forma bem aguçada, e, para fechar a
semana, uma notícia e pedido de adesão a um abaixo assinado foram a gota d’água
para esse texto.
Sobre a atitude violenta,
geralmente, não generalizando, dos policiais no Brasil. E quando AD faz a
descrição, a tipologia desses servidores, é uma constatação triste e ao mesmo
tempo profundamente esclarecedora para quem ainda tem dúvidas sobre racismo
estrutural, neocolonialismo e lavagem cerebral de massa através do poder,
religião e educação doutrinária. Aliás, uma boa dica sobre educação doutrinária
é ler “A Educação na Alemanha Durante o Terceiro Reich e Seu Papel na
Doutrinação das Crianças e Jovens” de Gabriele Alves Vicente e Marcos Antônio
Witt.
Um trecho da postagem diz: ‘...muitos dos nossos algozes, quase
sempre vieram do mesmo lugar que a gente. Que eles sabem quem somos e que eles
consomem a nossa cultura... Vocês estão mais próximos da gente e são mais
parecidos conosco, do que com o sistema que vocês juraram proteger.’
A reflexão é sustentada na pergunta que AD faz: ‘Você conhece algum filho de rico que sonha em ser policial?’.
Honestamente, tenho apenas conhecimento de alguns jovens classe
média, claramente estimulados por games americanos, que integraram as Forças
Especiais Policiais (CORE, BOPE, SOE etc.). Salve Capitão Nascimento!
Sobre o Ginasta Ângelo
Assumpção, o mini currículo do atleta de 24 anos passeia por: Campeão da Copa
do Mundo de Ginástica Artística, Tricampeão Sul-Americano, Hexacampeão Brasileiro
Individual e por Equipe. E, com tudo isso, o cara está DESEMPREGADO. Aí, você
pode estar pensando – ‘Ah! Mas, o Brasil inteiro está passando por isso.’ Ok.
Porém, vamos saber o porquê?
Resumidamente, Ângelo foi alvo
de comentários racistas em um vídeo por seus companheiros de equipe, no
Snapchat de Arthur Mariano, em 2015. Rolou suspensão, processo etc. Entretanto,
os abusos não pararam em 2016 quando o STJD arquivou o processo. Por ser
bolsista, não associado do Clube Pinheiros, e não expressar gratidão por sua
classificação social, os ataques continuaram.
E, em 2019, ao se queixar com
a diretoria do clube sobre essas ações racistas dos técnicos e colegas de
profissão, foi suspenso, e ao fim da suspensão sua carta de DEMISSÃO chegou. Se
bateu curiosidade sobre os detalhes, procure na internet e deixe de preguiça,
rs.
Neste momento em que o assunto
‘antirracismo’ está sendo referenciado nas mídias e redes de forma
assídua, com hashtags, telas pretas, acredito ter chegado a hora de pô-lo em
prática. Cadê o clube que vai colocar a cara na janela e comprar essa briga?
Qual empresa vai assumir a postura antirracista e patrocinar Ângelo?
Fechando a conta da semana,
recebo e vejo várias mensagens e posts sobre o musicista Luiz Carlos Justino, integrante
do projeto ‘Orquestra de Cordas da Grota’ (Grota é uma comunidade em Niterói). * O violoncelista, negro, foi parado em uma blitz no Centro de Niterói e preso.
Contra ele havia um mandado de prisão por um crime a mão armada que ele teria
cometido em 2017, na Vila Progresso.
Luiz Carlos Justino - Foto: Mariana Gama |
Luiz Carlos Justino (RJ),
Rafael Braga (RJ), Gabriel Silva Santos (BA), Leonardo Nascimento (RJ),
Vinicius Romão da Silva (RJ), Matheus Fernandes (RJ), Gabriel Souza (SP), Marcelo
Dias (SP) ... Esses nomes são de homens, jovens pretos, que foram presos
injustamente ou sofreram injúrias na internet. Evitei os assassinatos para não
ser acusada de estar fazendo mimimi ... São atores, dj’s, fotógrafos,
musicistas, gays, estudantes, moradores de rua ...
São pessoas. São HUMANOS. “Humano”
vem do latim HUMANUS, relacionado a HOMO, “homem”, e HUMUS,
“terra”, pela noção de “coisas terrestres”, em oposição a “seres divinos”, de
uma raiz sânscrita MAN, “homem”.
A definição de humano pode ser
escolhida como substantivo masculino: Homem; o ser humano; o indivíduo que
pertence à espécie humana. Ou como adjetivo: Relacionado com o homem, indivíduo
dotado de inteligência e linguagem articulada, pertencente à espécie humana.
Perceba que em nenhum dos
casos acima cores, credos ou sexualidade estão relacionados. Embora, todos
esses elementos sejam fundamentais para uma ação, considerada pelo ator que a
comete, como justa, ou no mínimo, preventiva.
Segue a pergunta: Até Quando?
Esta será a minha hashtag sobre esses assuntos de agora em diante #TePerguntoAteQuando.
Chadwick Boseman |