Por Conceição Gomes
Vou
escrever as minhas impressões sobre os últimos filmes e séries que assisti. Ah!
E não posso deixar de dar minha opinião sobre o novo álbum do Victor Chaves, o
Projeto VC. Ai gente, sou fã, fazer o quê?
Mas
aí, vem o subconsciente advogado do diabo me infernizar, quem assistiu ao filme
Jojo Rabbit entenderá o que estou querendo dizer. Assim sendo, vou
apelidar esse subconsciente de JR.
JR – Não acredito que
você vai escrever sobre ‘O
Dilema das Redes’ e ‘Quanto Tempo o Tempo Tem?’, e deixar de comentar a mais nova denominação de sentença
para o crime de estupro: O Estupro Culposo!?
Oi???
Estupro culposo?? Bom, valendo-me do que aprendi na faculdade de jornalismo, fui
apurar a história. Após ver na internet todo o burburinho do caso, o comentário
de um Desembargador aposentado na página do site Conjur explicando
minuciosamente o ocorrido, lendo e relendo a matéria, além de assistir ao vídeo
da audiência do site do The Intercept Brasil, consegui chegar aos seguintes
fatos:
- O Intercepet se valeu de
um trecho1 da Lei 13.7182 que tipifica os crimes de importunação
sexual, publicada em 25 de setembro de 2018, para exemplificar o que constituía
dolo e modalidade culposa3 no
caso de Mari Ferrer.
- O juiz não fez valer sua autoridade em
relação ao advogado de defesa, que humilhou a vítima e passou em muito de um
limite aceitável.
- Na sentença, o juiz determinou que, como não
foi possível determinar a vulnerabilidade da vítima (já que os exames
toxicológicos mostraram que ela não estava alcoolizada nem drogada), valeria o
princípio in dubio pro reo (expressão latina que significa
literalmente na dúvida, a favor do réu).
Triste realidade da mulher
desde sua existência primeira. E este é um caso que ganhou volume em
visibilidade, já as meninas do Quilombo Kalunga4
ainda esperam por um desfecho satisfatório. São vítimas constantes de estupro
há mais de vinte anos, geralmente pelos próprios patrões, homens de 20 a 70
anos de idade, de famílias classe média.
Quilombo Kalunga - Foto: Valter Campanato |
Ok. Vou aliviar um pouco a
indignação falando dos filmes que assisti ...
JR – Lá
vem você de novo com ‘O Dilema das Redes’ e ‘Quanto Tempo o Tempo Tem?’
Sim. Quero deixar registradas as minhas impressões sobre esses filmes. Mesmo com uma diferença de cinco anos
de produção entre eles, para mim foram complementares. Não em contexto, mas,
sim, em relativização ao que se fazer do e com o seu tempo “livre”.
O primeiro me vendeu a ideia: ‘Essa
invasão de privacidade e lobotomia vai dar merda, então vamos nos assegurar
juridicamente que sairemos ilesos com um ‘mea culpa’, e para não perder a
viagem, lobotomizar mais um pouquinho.’
O filme não apresenta
novidades, tudo já era sabido por nós há muito tempo, claro que não com a riqueza
de detalhes, mas a vigilância virtual é uma realidade desde 2004 com o Orkut,
do Google, seguido do facebook, do Zuckerberg. Ele induz, mesmo que
subliminarmente, àqueles que em tudo acreditam a realmente crer que têm o
controle sobre o que ver e seguir nas redes.
E vem justamente num momento
pandêmico, em que a internet é o grande, se não, único, caminho de comunicação
e visibilidade equitária no mundo. Além da propaganda reversa, a partir do
momento que citam repetidamente para diminuir, tomar cuidado com os ACESSOS ÀS
REDES, o cérebro humano entende: ACESSE, VEJA AS OPINIÕES SOBRE, INFORME-SE
MAIS ... De brinde cai em nossos colos de paraquedas os avatares do facebook,
principalmente quem assistiu ao filme foram os primeiros a participar da
brincadeira.
O segundo foi minha redenção,
chamou-me de volta à realidade. O que realmente importa para mim? O que eu faço
do e com o meu tempo? As novas tecnologias e a globalização promovem uma
produção constante, crescente e simultânea de conteúdo e informação. Quem disse
que preciso estar nesta velocidade atroz para ser considerada competitiva,
atuante e produtiva? O compartilhamento da privacidade por meio de redes
sociais é importante para quem? Filósofos, cientistas e religiosos têm
percepções e teorias distintas sobre a contagem do tempo. Será que realmente dá pra contar o tempo?
JR - Enfim,
Quanto Tempo o Tempo Tem? Quanto tempo até você saber pelo Presidente da
República que o Brasil é um país de ‘maricas’?
O quêêêê?????? Acho melhor nem
comentar, posso ser incluída no Mapa de Influenciadores que a BR+ Comunicação
(empresa contratada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia) preparou e entrar
para o grupo de ‘detratores’ do governo. Se bem que as atitudes governamentais
que ganham foco e viralizam, para mim, são cortinas de fumaça para que assuntos
como a mineração de urânio (o mundo querendo se livrar disso e a gente inventando ideia), o apagão do Amapá (tragédia anunciada para outros
Estados neste verão), COVID-19 (isolamento e lockdown são NECESSÁRIOS, flexibilização é irresponsabilidade), entre outros, não sejam devidamente discutidos
e noticiados amplamente.
JR –
Calma, isso é só a beira do abismo, porque você vai despencar quando pensar no
João Alberto Freitas assassinado no Carrefour, em Porto Alegre, e a cereja do
bolo foi o presidente da Fundação Palmares chamá-lo de marginal. Ah! Bota aí na
conta que agora racismo e homofobia podem ser também sintomas de bipolaridade,
depressão e síndrome do pânico.
😮😯😡👿Para quem ainda insiste na teoria do “mimimi” ou “vitimização” indico assistir a série ‘Afronta!’ de Juliana Vicente, ou, ainda, rever caso já tenha assistido – Cara Gente Branca (Dear White People), baseado no filme homônimo de 2014, os capítulos 5 e 6 da 1ª temporada são perfeitos, altamente elucidativos.
JR – E as eleições? Novela internacional e nacional com capítulos interessantes:
- Biden que se cuide porque vai pólvora do Brasil pra ele.
- Washington Reis impugnado e reeleito, agora depende do julgamento do TRE, entretanto, independentemente do resultado, os bairros de Duque de Caxias que são atendidos pela empresa de transporte – Viação União – continuarão com o tempo de espera no ponto do ônibus de no mínimo 01 hora e 30 minutos, durante a semana, e aos domingos e feriados simplesmente NÃO têm.
- No Rio, parece que Zé Pilintra é o cara! Ainda bem.
E não pense que a deficiência da Viação União no atendimento à população dos bairros Parque Duque, Parque Beira Mar, Vila Guanabara e trechos da Vila São Luis em Duque de Caxias, é por causa da redução da frota em decorrência do COVID-19. Não, esta é uma deficiência de décadas.
Chega JR! O mundo não
vai me enlouquecer e tampouco me contaminar com um ódio sugestivo.
Então ... No início de
novembro foram disponibilizados as últimas músicas e clipes do Projeto VC, álbum
do cantor e compositor Victor Chaves, composto de dez canções e clipes; e um
mini documentário. Uma delícia de se ouvir para quem gosta de letras e melodias
simples, entretanto, carregadas de romantismo, verdades e de uma genialidade
despretensiosa de Victor tanto como músico como arranjador.
A música “Claridade” é uma ode
ao amor, literalmente, sua linha melódica me fez lembrar de Cesária Évora, cantora Caboverdiana que fez o gênero musical
‘morna’ tornar-se conhecido mundialmente, aliás, que delícia é a versão de ‘Mar
Azul’ dela com Marisa Monte. Eita que dei uma viajada nos pensamentos... Como dizia ... Claridade é uma ode ao amor, um striptease sentimental. Quando Victor a postou no Youtube, só voz e violão, letra e melodia já faziam ecoar essa beleza íntima, e agora após a costura com outros instrumentos, virou um 'bolerão' que dá uma vontade danada de dançar.
"Mar de Estrelas" me parece ser o novo marco civilizatório da carreira de Victor, a letra já induz a isso - 'Chega de mentir pra si, é o fim do ciclo de velhas canções ...'. Confesso que fiquei triste por "Você Não Ama a Quem Você Deseja" não ter entrado no álbum, uma das minhas preferidas. Quando ele a publicou no youtube ela tinha uma levada meio Dire Straits, e seria interessante ver/ouvir o novo formato.
Em "Outra Vez, Te Amo", Victor apresenta de forma magistral o seu lado musicista, cada frase no violão de arrepiar.
E a você que chegou até aqui lendo essa turbulência de fatos, reflexões e impressões, experimentando de minha intimidade (subconsciência) desejo uma boa semana, e uma vida (saudável) com esperança e luz. Até a próxima!
“Todo grande sonho começa com um
sonhador. Lembre-se sempre, você tem uma força interna, a paciência, e a paixão
para alcançar as estrelas para mudar o mundo.” - Harriet Tubman
1Tipo subjetivo: adequação típica - O elemento subjetivo do crime —
importunação sexual — é o dolo constituído pela vontade consciente de praticar
a ação descrita no tipo penal, qual seja, praticar, na presença de alguém e sem
a sua anuência, ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia
ou a de terceiro. No entanto, o dolo somente se completa com a presença
simultânea da consciência e da vontade de todos os elementos constitutivos do
tipo penal, mas, principalmente, do não consentimento da vítima. Com efeito,
quando o processo intelectual-volitivo não abrange qualquer das elementares
constitutivas do tipo penal, o dolo não se completa e sem dolo não se tipifica
o crime de importunação sexual, e não há previsão de modalidade culposa. Trecho
de: Anatomia do crime
de importunação sexual tipificado na Lei 13.718/2018 – 30/09/2018.
2A lei foi criada para preencher lacunas
do sistema penal em relação a crimes de cunho sexual, devido aos fatos
ocorridos nos transportes públicos de São Paulo em agosto de 2017 (aqueles
criminosos ejaculando em mulheres sem chance de defesa).
3... Segundo o promotor responsável pelo
caso, não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não
estava em condições de consentir a relação, não existindo portanto intenção de
estuprar – ou seja, uma espécie de ‘estupro culposo’. O juiz aceitou a
argumentação. The Intercept Brasil – 03/11/2020.
4Comunidade quilombola Kalunga - Maior
quilombo reconhecido oficialmente no país, contempla o território que abrange
os municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás na Chapada dos
Veadeiros, no nordeste goiano. Estamos falando de 253 mil hectares de terras,
com uma população de aproximadamente entre 9 e 11.000 pessoas. Desses 253 mil
hectares, apenas 31 mil foram titulados e entregues à Associação Quilombo
Kalunga. O restante ainda se encontra em processo de regularização fundiária.