Por Conceição Gomes
Convidei, via Twitter, o editor-chefe do SB, Wesley Brasil, para um papo rápido
sobre essa trajetória, e ele gentilmente respondeu algumas perguntas. Valeu
Wesley, agradecemos o carinho e respeito!
E aí?! O SB tem como missão fazer o morador da baixada usufruir do seu território plenamente, tê-lo como primeira opção de diversão, fortalecer sua cultura histórica que é pujante. Nesses 15 anos de SB, você percebeu alguma mudança comportamental nos moradores da baixada em relação a esse pertencimento, a essa apropriação?
SB - Percebi sim! Mas sinto que essa mudança de
comportamento tem muito mais a ver com a mudança de geração e influência dos movimentos
de autoestima das favelas do que com o trabalho desenvolvido há décadas por
aqui. Ainda vejo muita gente querendo cravar que é o primeiro alguma coisa na
Baixada Fluminense, sendo que já existem muitas coisas por aqui iguais. Tem uma
galera que é curiosa pela história e isso é maravilhoso. A gente tá tentando
encontrar essas pessoas pra cercar o Site da Baixada de gente que deseja essa
mudança de comportamento através do que temos - e não emulando os sentimentos
que o carioca desenvolveu pelos seus subúrbios.
E aí?! Os
valores aos quais o SB estabelece dentro da sua linha editorial são fortes e
diretos (Respeito, Diversidade, Laicidade). Como o SB aplica esses valores
dentro do seu quadro corporativo? O SB tem em seu organograma pretos/pardos,
LGBTQIA+, seguidores de religiões de matriz afro-brasileira, mulheres ou
indígenas, em posições ou cargos de poder (de visibilidade ou protagonismo)?
SB - A
gente tem uma política bem interessante pra montar nosso time: temos focado em
sermos um ambiente tão legal a ponto de atrair gente doida pelo território como
a gente. E esse ambiente precisa deixar claro que é plural, que tá de coração
aberto. Pode reparar que a gente não tem um "trabalhe conosco", por
exemplo. Somos atualmente 9 pessoas entre voluntários e bolsistas. Nesse meio
tem de tudo sim: homem, mulher, hetero, LGBTQIA+, preto, branco, alto, baixo,
morador de bairro central, morador de bairro mais isolado... mas, essa
construção foi acontecendo mesmo, não foi uma busca, foi mais um resultado do
ambiente que a gente tenta construir e mostrar pra quem curte nosso corre.
E aí?! Nos
últimos tempos, nós da imprensa, viramos alvo de críticas, desrespeito e
ataques, obviamente, sabemos que tem muito coleguinha e canal de comunicação
que ajuda em muito esse movimento, com fake news e total descaso pela
profissão de simplesmente INFORMAR e trazer assuntos relevantes para a
população DEBATER, TROCAR IDEIAS e formar pensamentos críticos sobre a sua
própria vida em sociedade, independente de credo ou etnia. E o SB, sofreu com
esse comportamento público? Qual a leitura que o SB faz desse movimento de
incredulidade da população, tendo como ponto de vista o quadro histórico
jornalístico brasileiro dos últimos 50 anos?
Wesley Brasil - Editor Chefe do SB Foto: Divulgação |
E aí?! Nesses
15 anos de vida do SB, escolha 03 grandes momentos do site que te deram a
certeza de estar trilhando no caminho certo.
SB - Uma
muito marcante foi quando ajudamos a derrubar uma lei homofóbica em Nova
Iguaçu. Cobrimos o movimento popular que expôs o assunto e organizou um
protesto. Essa cobertura foi parar na Globo News e em outros veículos, ganhando
repercussão nacional.
Eu também colocaria num bolo
aí, como segundo momento marcante, os tantos momentos em que levantamos uma
biografia ou alguma reportagem que seria invisível pra mídia tradicional, mas
ganhou repercussão nas páginas do SB. Neste sentido acho que a gente tá devendo
um apanhado, sei lá, um museu só com essas histórias.
Por último, eu particularmente
listaria a nossa conquista recente na Benfeitoria. Porque ela foi uma vitória
ao lado dos leitores, a gente mostrou a capacidade que tem pra articular
pessoas com tanta credibilidade a ponto de convencê-las a contribuir
financeiramente com o nosso trabalho. E o resultado dessa arrecadação tá aí
nítido, com o SB mais vivo do que nunca, toda semana pautando a discussão sobre
o território nas redes, articulando ações que ultrapassam a publicação de
reportagem pra se tornar assunto mesmo, como a vinda do filme do Marighela pra
Baixada Fluminense, a cobertura do TEDxRuaDaMatriz e outros - só pra citar os
mais recentes.
E aí?! Vivemos
a era digital em sua forma mais plena e atuante da história, até então,
facebook, Twitter, instagram, youtube, tik-tok ... e todos foram e são um
desafio para a comunicação continuar de pé, a forma como era feito o jornalismo
há 30 anos atrás não cabe no mundo atual. Hipoteticamente, ou, utopicamente,
como você e o SB veem o futuro do jornalismo brasileiro, e o que esperam e
desejam dele?
SB - Caramba,
pergunta complexa... Acho que as mídias estão convergindo demais, né, então é
difícil cravar um futuro. Hoje mesmo fui lavar a louça e pedi pra minha Alexa
tocar FM O Dia. Quem disse que o rádio morreu? Mas já não era o aparelho AM/FM
tocando: era um robô com inteligência artificial... O que posso tentar prever é
que cada vez mais veículos apoiados por audiência e projetos comerciais
alinhados com o editorial continuem surgindo e crescendo. Quero imaginar que
mais veículos como o nosso (que não está a serviço de nenhum projeto de poder)
ganhem cada vez mais espaço nas telas dos brasileiros, e isso resulte em
diálogos mais interessantes e criativos para as pessoas no dia-a-dia.