Para que você possa tirar alguma dúvida, ou confrontar as
opiniões distintas ou de concordâncias entre nós sem mudar de página
publicaremos todas as reflexões aqui mesmo, assim basta rolar para cima e/ou para
baixo o cursor e satisfazer sua curiosidade ou interrogação. Mas, se preferir lê-los individualmente o link de cada artigo está em https://www.blogeai.com.br/p/colunistas.html Ok?
Ressaltamos que nossa intenção não é criticar, julgar ou
estabelecer verdades absolutas, apenas mostrar a você o que compreendemos e
absorvemos deste espetáculo, e, o devolvemos diluído em percepções.
O nosso respeitoso Muito Obrigado e boa leitura!
Série Bronze – Intendente, não existe
mais quente!
Já cheguei na Intendente Magalhães – sexta-feira 22/04 –
surpresa ao encontrar um set da Globo montado, onde gravavam cenas para uma
nova série da emissora. Não, não catei nada, só sei que o ator Luiz Miranda
estava na cena, rs.
Doze agremiações desfilaram e mostraram seus enredos, uma
alegria para o povo que ocupava as arquibancadas e calçadas para assisti-las. E
puderam testemunhar a alegria contagiante da Unidos do Santa Marta e da
Acadêmicos do Peixe; a elegância do Jardim Bangu e Acadêmicos do Dendê. União
Cruz-Maltina, Unidos de Manguinhos e Arrastão de Cascadura acredito serem as grandes
concorrentes a passarem para a série Prata.
Destaco dois momentos que fixaram em minha mente:
·
A
Império de Petrópolis, devido às chuvas que assolaram a cidade causando mais de
300 mortes, deixando muitos desabrigados e hospitalizados, não desfilou, apenas
passou ao som de um surdo de marcação. Conversei com o Presidente da Agremiação
– Ivo Mendes, ou como é mais conhecido - Mestre Ivo, e ele contou que estavam
ali por respeito ao público e pelo compromisso acertado com a SUPERLIGA – Liga Carnavalesca
do Brasil muito antes da tragédia. Pura emoção, comoção, tristeza e beleza,
sim, beleza, a beleza da resiliência e resistência. #ABRACEPETROPOLIS
·
A
imponência, interpretação e representatividade de Karen Rodrigues – destaque do
abre alas da Vicente de Carvalho representando a Mãe África – AR-RA-SOU!!
Por fim, foi uma estreia cheia de cores, sabores, samba,
emoção e povão, como estava sentindo falta de confraternizar com as pessoas. E
não acabou não, sexta e sábado (29 e 30/04) tem a série PRATA, e no domingo
01/05 desfilam as agremiações dos grupos B e C da LIVRES – Liga Independente
Verdadeiras Raízes das Escolas de Samba. Ê viva o carnaval, viva a vida!
Conceição Gomes, jornalista e amante das artes.
É com muita cautela que escrevo esse texto; primeiro porque
envolve Escolas de Samba que são verdadeiras mestras em contarem a história do
povo preto no Brasil e no Mundo, e, segundo por falar de religiões de Matriz
Africana e sua ancestralidade.
Começo esse texto alertando que não se trata de uma crítica e
sim, de um pedido de reflexão, para que juntos, eu e você, possamos entender o
momento no qual estamos vivendo em relação a negritude e, também, sobre os
temas (enredos) abordados pelas escolas de samba em sua grande maioria.
Fiquei fascinado e decepcionado na mesma proporção ao
assistir os desfiles das escolas de samba. Fiquei fascinado, pois, acredito que
esse tenha sido o carnaval onde mais se exaltou a cultura preta em todos os
tempos, mas decepcionado por ver muito do mesmo. São tantas histórias a serem
contadas, que o fato da escravidão e do culto aos Orixás ficam em um outro
patamar de importância diante de tantas conquistas alcançadas.
As agremiações cariocas trouxeram para avenida uma explosão
de informações sobre o tema Cultura Negra, envolvendo em sua grande
maioria a presença de Orixás na Marquês de Sapucaí, inclusive tradições até
então, mantidas em segredo quase que absoluto, como no caso de uma Escola
tradicionalíssima que mostrou o culto aos ancestrais e também o culto as
senhoras do segredo, as chamadas de JUSTAS pelos mais antigos sacerdotes do Candomblé
por se tratar de preceitos que envolvem muito cuidado ao ser explorado.
Mas, isso aqui no Brasil, pois em terras africanas não há
tanto mistério, lá do outro lado do Atlântico, tem-se a consciência clara do
status que esses cultos possuem e por isso há o devido cuidado. Sabemos,
inclusive, que grande parte do “mistério” existente no Candomblé, prevalece por
conta de uma forma de resistência e sobrevivência dos povos pretos traficados.
Na realidade, algumas práticas, que aqui são secretas, na África são realizadas
em praças públicas pelos povos Yorubás, Bantus e Fons no exercício de sua
religiosidade.
Tivemos, também, na passarela do samba uma outra escola da
baixada fluminense querida e tradicional, que soube delinear muito bem o seu
enredo ao falar sobre Exú. Ela foi coesa em sua apresentação e abriu o leque do
verdadeiro simbolismo desse Orixá, com vistas no seu culto dentro e fora do
Brasil, promoveu conhecimento sem entrar em méritos mais exclusivos daqueles
que militam em qualquer uma das vertentes das religiões de matriz africana.
Trouxe a público, de maneira lúdica, a importância dessa divindade dentro da
cultura de nosso povo.
Outro, excelente, exemplo foi o de uma Escola de Samba da
zona norte do Rio que contou a história de Martinho da Vila, que é cantor,
compositor, religioso e que contribuiu muito com a sua arte para elevarmos o
conceito de sociedade. E é isso que sintetiza minha linha de raciocínio.
Precisamos mostrar que somos todos iguais em nossas diferenças! Pode parecer
clichê, mas enquanto não houver conscientização sobre esse fato, não haverá
progresso, verdadeiramente humanitário.
Acredito que falta explorar mais a influência cultural de
personalidades pretas. Juristas, literatas, artistas, arquitetos, contextos
múltiplos que tiveram, e ainda têm, grande importância na formação desse país,
como por exemplo, os negros muçulmanos, chamados de Povo Malê, que contribuíram
e muito, para a organização social e política do povo preto no solo do novo
mundo na época da escravidão.
Não quero desmerecer o trabalho árduo, e muito bem-feito,
dentro da proposta das agremiações, mas quero novidades! Quero um povo preto
respeitado pela sua capacidade de transmutar a dor que sofreram em valores
culturais incontestáveis.
Compreendo a importância desse formato brasileiro, mas creio
que precisamos fazer da cultura preta algo ainda mais inclusivo do que já é.
Sem aprofundamentos, no entanto, tornando-a acessível popularmente, ao menos no
que tange a religiosidade. Despertando o interesse de todas as camadas de
maneira séria, sucinta e transparente. Sendo tratada, fundamentalmente, como
CUL-TU-RA! Precisamos sair das amarras da escravidão e exaltar os feitos dos
negros, negros que tiveram um papel importante na formação sócio, política,
econômica e cultural do atual Brasil, e a maioria do seu povo os desconhecem.
Ao explorarmos por esse Brasilzão, passamos por arquiteturas
complexas desenvolvidas por pretos, comemos quitutes maravilhosos da culinária
preta, somos representados na política por parlamentares pretos, somos curados
por médicos e cientistas pretos, dançamos com e como os pretos,...e tudo isso
não acontece pelo fato de serem pretos, mas por serem pessoas, seres humanos
capacitados para serem o que são e fazerem o que fazem, sem diferença de raça,
cor ou credo. Tudo que é produzido não é do preto para preto; é de preto para a
sociedade, é de ser humano para ser humano.
O preto não pode e não deve mais ser visto como uma cultura a
parte, e sim, como uma cultura que FAZ PARTE. Inerente a nossa culinária,
nossas expressões, nosso vocabulário, nossa métrica de vida e por aí vai. Na
minha concepção está no momento de passarmos para uma outra fase da luta pela
igualdade e respeito, dando destaque ao que somos hoje, pelo que fizemos antes
e o que ainda faremos!
Fabio Seabra, que embora não tenha a
negritude explícita na pele, possui coração e alma pretos.
Este Carnaval não foi igual a nenhum
outro que passou... e, creio, não haverá parâmetro em futuros desfiles para explicar
a catarse em que se transformou a passarela do samba, no Rio de Janeiro, com os
enredos apresentados pelas Escolas de Samba.
O maior espetáculo da terra se transformou no maior manifesto da cultura preta base-formadora-esteio
desse povo mestiço de muitas cores, etnias, línguas e conceitos como jamais
visto, aceito, esperado e necessário.
A pandemia correu mundo, medo e morte,
calou tambores, fechou missais e bíblias, guardou tempo e preceito, extinguiu
risos e alegrias, atingiu casa grande e senzala, não poupou ninguém. Veio
forte, faminta, devastadora, fome de tempos, gana do matar, cova aberta a céu
aberto, dor no peito dilacerado. E matou, arruinou, destruiu. Protegida pelos
descrentes, capitães de gado, senhores de curral, inescrupulosos líderes e
pastores da injustiça correu mundo, de dentes arreganhados, terror, apocalíptica,
Peste, Morte, Fome, Guerra, juízo final...
Joelhos ao chão, oferendas, pedidos,
preces, rezas, iluminação, cura, sobrevivência do corpo, da alma, da cultura,
do perpetuar de povos de todas as cores, unidos em comunhão de fé, pelo bem
maior da raça... HUMANA, sem distinção, sem mordaça ou grilhão de qualquer cor ou
forma. Saiu a máscara, a vacina chegou, povo dançou, comemorou o retorno do
tambor, do toque, do afoxé, da missa, do ritual, da louvação, agradecimento. O
Sagrado atendeu e outra vez a luz venceu, caminhos de saber, do bem fazer e o
mal vencer.
Se, em 1922, a Semana de Arte Moderna
revelou artistas, pintores, poetas e compositores devidamente cantados, dando o
título à Estácio de Sá, em 1992, os múltiplos enredos do conturbado Carnaval
fora de época de 2022 – 100 anos depois
– alçou a cultura de gueto, de terreiro, de favela, de submundo, da área de
serviço para a sala de visitas, protagonista com mérito e honra, na
tela da Vênus Platinada, invadindo os cantos da casa, sentando no sofá de gobelin
francês da sala de estar, misturando cachaça ao champagne, trazendo dendê,
pimenta e padê, laroyê, gargalhada e alguidar da encruzilhada, mojubá, agueré de
caçador, de preceito e fé, Babás e Yás...
Exu e Pombagira com marafo e dendê se
sentaram à mesa da Tradicional Família Brasileira, convidados VIP, credencial “Trânsito
Livre”, em verso e prosa, vermelho e preto. O chorar das ondas cortadas pelas
calungas cruzando oceanos de sangue negro e dor ressoou forte em Iphones e plataformas
digitais, derrubando seguidores de pseudo-influencers
que nada tem a dizer, calando bocas de afofô, libertando o grito dos excluídos,
de Estamiras por esse Brasil a fora ... fala Majeté!
O batuque do malandro do beco
marginal das favelas, Seu Zé, exu de encruzilhada, e Maria Padilha, rainha da
madrugada, ecoou das vielas, marcado no atabaque, no timbau, no adjarin e
aguidaví ditando ritmos, preces e chamamentos... E eles desceram, vieram,
chegaram, dançando e cantando, plena energia, boca que tudo come, olho
que tudo vê, caminho, segredo, sagrado, social, vital, mastigando
conceitos, separatismos, preconceitos, intolerância, misoginia, desrespeito,
exclusão... Festa Para Deuses Negros na
Corte Niloargoliana da Marquês de Sapucaí!
Do arco íris da serpente Dan, Oxumare,
vieram Oxuns e Yemanjas de leque abebé; Oguns, de espada na mão em luta contra
o dragão da intolerância... Omolus e Obaluaiês mastigando doenças e mazelas da
alma e da chibata, e as cuspindo nos pântanos onde velhas senhoras do barro da
vida, corujas da eternidade, saluba, moldam novos seres imbuídos
com o sopro da vida de um novo tempo de Oxalá, de respeito e lugar de fala e
destaque. Vieram Iroko, Ewa, Osain e Logun... Okô, Obá, Ghyan e até os erê,
curumim Ka’u’hê, todo o povo de aruanda pra vencer demanda! Sou
da fé, do axé, da arruda e guiné, benção meus velhos, meus ancestrais! Cantaram
pretos, mulatos, mestiços, reis, princesas, guerreiros, imortais...
E as cores de Exu, preto e vermelho
encarnado, irão tomar a avenida no desfile das campeãs, invertendo o batuque do
xirê, onde ele é primeiro e inconteste. Exu abriu caminhos, não deixou portas
fechadas, arreganhou as encruzilhadas para o povo negro passar. Vai retornar, faceiro,
campeão, ladino, justiceiro, boca que tudo come, olho que tudo vê, fechando na
madrugada, no romper da alvorada sua gargalhada vai ressoar...
A abertura da festa deixou para Oxala,
respeitado e velho senhor, branco da paz e harmonia, chegando em águia
altaneira, paciência, sabedoria, sobrevoando o baobá, fresco remanso, trono de
descanso para o igbin ancião, Epa Baba! O tempo é tempo quando Oxala chegar. E
o tempo chegou. Exu anunciou, riu, gargalhou, abriu o portão para as águas,
lento e doce caminhar de meu Pai Osaalá.
E o transgressor Exu se manifestou em
outros grupos, o Besouro Mangangá, deu o título ao Império Serrano, da Serrinha
de Madureira do Jongo de Tia Maria de Resistência Negra de Pele Preta rogai por
nós.
Sinal de novos tempos, farol no
horizonte, quebra de correntes, Anastácia nunca mais, grito guardado no peito: BASTA!!
Abrem-se os portões, descerram a cortina, entra em cena povo pretooooooooo,
chegou
a horaaaaaa... traz para a rua seu canto, dança, cultura, raiz, fé,
joga na rua o padê, abre os caminhos que Exu vai passar, gargalhante e
brincante, arrelio, com fome ... de VIDA, DE ARTE, DE MARCAR PRESENÇA NO SOLO PRETO
DESTE PAIS DE CAROLINAS, STELAS, MILTONS, XICAS, DAYANES, NITINHAS, DANDARAS,
ZUMBIS, OLGAS, GILS, BESOUROS E TANTOS OUTROS SEM NOME, INDIGENTES NUNCA MAIS.
Rogerio Madruga, Brasileiro, Mestiço, Omon Osaalufon,
amante da festa pagã mais sagrada do mundo.
Resumo dos desfiles das escolas de samba na cidade do Rio de Janeiro de 2022
Após
o jejum de quase dois anos sem nossos principais rituais do reinado de Momo na
cidade do Rio de Janeiro em decorrência de uma pandemia mundial, os desfiles
das escolas de samba finalmente aconteceram no mês de abril, mês em que já
temos outras comemorações tradicionais como; o Domingo de Ramos, Dia do Índio, Sexta-feira
Santa, Sábado de Aleluia, Domingo de Páscoa, São Jorge e Tiradentes. A escolha
por essa data não poderia ser em minha humilde opinião mais assertiva, pois foi
incluída entre dois feriados municipais, não alterando tanto assim as
atividades dos envolvidos no processo.
Mas, não foi fácil para ninguém do
samba interromper seus projetos mais uma vez por conta de um vírus mortal,
afirmo que muitos chegaram a achar que a peste não iria embora nunca mais, eu
fui um desses, que declarava aos quatro ventos o quanto estava cansativo esse
recesso, foram escolas particulares fechando, aulas online com menos de trinta por cento dos alunos assistindo, pessoas
perdendo emprego, moradores sendo despejados ou voltando para casa de seus
parentes por não poderem quitar seus alugueis, muitos imóveis fechados, pessoas
lutando por um osso na lixeira dos supermercados e açougues e muita gente
morrendo, e se contaminando, por sinal, ainda estamos com algumas feridas
abertas devido as sequelas deixadas pelo Corona Vírus.
Muitos acharam prudente o
cancelamento do evento por achar que seria mais sensato preservar vidas, muitos
faziam boicote aos desfiles em redes sociais, com intuito de nos deixar com a
máxima culpa, esses mesmos que não deixaram de frequentar bares, festas
privadas, viagens e muita, mas muita aglomeração no transporte público. Por
outro lado, os amantes do rito defendiam que não se tratava apenas de folia. Foram
dois ou mais lados se pronunciando e todos com seus argumentos, alguns
plausíveis, mas a maioria com o cunho político e partidário. Cheguei a ler também
que um dos motivos reais para o cancelamento seria a falta de material para a
construção de fantasias e alegorias, o povo do samba criticava ausência de
produtos específicos, e os altos valores postos nos poucos balangandãs que
estavam no fim de estoque das lojas especializadas.
No entanto, são milhões em dinheiro circulando
na cidade e que é benéfica para a economia criativa e para os cofres públicos,
portanto, todos saem ganhando com os desfiles das escolas de samba, são os
fabricantes, os vendedores, inclusive os ambulantes, que são comerciantes
informais e que também necessitam quitar suas dívidas e levar o pão para seus
lares, a rede hoteleira, pontos históricos que servem de recepção aos
visitantes, mas seríamos pegos de calça arriada com uma nova onda da COVID19 há
quase um mês antes da data marcada previamente pelo calendário católico. A
possibilidade de transferência de data causou um rompimento entre os gestores e
foliões, primeiro porque teríamos problemas com os ingressos já vendidos e o
outro problema seria a devolução para os turistas que não poderiam permanecer
por mais tempo na cidade.
A proposito será que ainda é cedo para
sabermos se a atitude na realização do evento trará mais consequências
positivas ou negativas? Independentemente da resposta que teremos não se pode deixar
de alegar que corremos riscos sim, e conscientes, tendo em vista que na China
ainda estão em lockdown. No entanto, o povo foi às ruas, adquiriram suas
fantasias, compraram seus ingressos de arquibancada, frisa, camarotes e até os
ambulantes do entorno podiam assistir de seus televisores e celulares dentro de
suas barracas a sua escola favorita desfilar, isso demonstra que independente
do risco, era algo necessário a ser corrido por cada um dos envolvidos.
O amor ao nosso tradicional carnaval
era sentido por muitos integrantes de forma diversa, muita gente chorando ao lembrar
da batalha que foi para colocar o carnaval na avenida, das perdas dos entes
queridos, do orgulho na conclusão do trabalho artístico artesanal, de
finalmente poder colocar na pista o seu melhor que é o pavilhão com seu enredo
todo pronto ou não, recheado de inúmeras vidas afetadas ou não, com histórias e
vivencias diferentes trazidas para avenida por cada componente, seja brincante,
técnica ou artística.
Na Marques ou na Intendente Magalhaes,
os dois principais palcos de apresentação das muitas escolas de samba esteve
pronto em tempo para as agremiações passarem, incluindo as agremiações de fora
do município. Na estrada Intendente Magalhaes, no bairro de Campinho, divisão
entre Madureira e Jacarepaguá, é onde desfilam as escolas que lutam para chegar
entre as mais ricas na Marquês, vimos de tudo, escolas que nem chegam a ”botar
o bloco na avenida” por não conseguirem concluir seus trabalhos, escolas com
poucos integrantes outras com mais integrantes, mas o destaque principal foi o
povo abraçando, curtindo e levando a família inteira para as arquibancadas e
barracas de gastronomia ao som de muito samba e regada a uma boa cervejinha
gelada.
É na Intendente que encontramos o
carnaval conhecido como o “carnaval do povo” e que a cada ano se torna maior, mais
assistido e mais estruturado, os projetos para as melhorias são antigos, mas é com
um passo de cada vez que conseguiremos trazer comodidade. E quem ganha é o
folião, o julgador e o público, o carnaval desse ano pela primeira vez tem a
transmissão da TV Alerj, possibilitando acesso àqueles que optaram por ficar em
casa.
Mais estruturado com o lançamento da Revista
Prêmio Machine que foi distribuída para o público, jurados e jornalistas. A
revista possibilitou o acompanhamento dos enredos, da ficha técnica de cada
agremiação, sendo o primeiro documento público a ter uma relação atualizada e
disponibilizada com nomes e cargos de profissionais e artistas, facilitando
assim o trabalho de todos os profissionais envolvidos com a festa.
Na Marques de Sapucaí, mais especificamente
nas duas primeiras noites encontramos a série ouro, as agremiações que lutam
para ir para o especial, também é o mesmo grupo de escolas que subiram da
Intendente Magalhaes e que se não tiverem boas colocações voltam para lá. Esse
grupo em específico contou com muitas escolas que já fizeram lindos desfiles no
grupo especial, Também encontramos escolas que sobem e descem e para ser
sincero estou falando do grupo mais gostoso de desfilar por não ter a mesma
pressão do grupo especial. Esse grupo sofreu também com a escassez de material,
inclusive algumas agremiações fizeram mutirão para concluir suas obras,
sofreram com a falta de integrantes, o que até então era muito raro.
Será que os desfilantes estão realmente
cansados de tantos ensaios como muito foi argumentado, ou será que, a geração
que amava sair desfilando em dez ou dezesseis escolas estão envelhecendo? Eu
tiro por mim que desfilava em duas comissões de frente e ainda vinha em mais
três escolas como guardião ou composição de carro, mas isso já tem um tempinho,
né? Hoje em dia eu só desfilo para não ficar triste e deprimido vendo meus
amigos passando e venho somente em duas e está bom!
Esse fato me fez lembrar o sumiço
gradativo das baianas, muitas migrando para o protestantismo, ou cansadas de
ter que desfilar com fantasias muito pesadas. Eu amo as baianas e a velha
guarda, e esse ano eu pude sentir a felicidade nelas, porque elas sobreviveram,
por isso esse carnaval é o começo de uma nova era, com novos valores para cada
uma delas, como eu amo os cabeças brancas das agremiações, são meus verdadeiros
Griot’s. Meus respeitos!
Não posso deixar de falar das polêmicas
notas indevidas que algumas escolas ganharam e das que já eram dadas como
campeãs antes mesmo de se apresentarem. O fato é que todas merecem ganhar o prêmio,
o prêmio da superação, o prêmio de melhor homenagem, enfim. Todos os anos
assistimos inúmeros bate-boca entre os torcedores nas redes sociais, são
inúmeras acusações e meias verdades sendo postadas, são muitos julgadores
formados pelo google e embasados
pelos comentários e áudios que circularam nos grupos de WhatsApp. Lamento essas movimentações porque prejudica a imagem do
evento e tira a credibilidade de nossa festa, que foi tão linda e tão
necessária para todos nós.
Sobre o grupo especial, sem palavras
para os erros primários em algumas escolas que por errarem metragem de carro e
não testarem seus mecanismos acabaram entrando com carros danificados pelas
arvores e o viaduto localizados na concentração, como se os obstáculos tivessem
sido criados na semana do carnaval; o despreparo dos diretores de carnaval e
harmonia que foram incapazes de sequer lerem o regulamento da LIGA, e com isso
perderam pontos em obrigatoriedades, descumprindo normas pré-estabelecidas
entre a Liga e os gestores.
Citarei alguns exemplos: Os carros acoplados
da minha querida Mocidade que enguiçou em frente aos jurados, respectivamente
os módulos quatro e cinco, quando na verdade se os responsáveis colocassem
lençóis, cordas ou correntes entre os tripés que formavam um único elemento não
perderiam o décimo que poderia mudar completamente sua pontuação.
O globo no alto do carro da Portela
que chegou arriado. Ele foi erguido antes de passar por baixo do viaduto, na
hora da passagem o elevador enguiçou e não conseguiu desviar o elemento cênico
causando uma enorme fissura na escultura.
E para finalizar, a minha
queridíssima Beija-Flor com composições que poderiam ter entrado no carro
alegórico bem antes de passar pelo viaduto, a falta de tempo hábil dificultou a
subida de três personagens, obrigando a direção do carro a arrancar os santos Antônio
- nome dos bastões onde nos seguramos nos carros alegóricos. Resultado, a
escola já havia enviado o “abre alas” informando a quantidade de brincantes, e
com isso o rolo compressor perdeu ponto em alegorias nos mesmos dois módulos supracitados
no caso da Mocidade Independente.
E para concluir eu deixo aqui a minha
felicidade em ter podido acompanhar de perto todo o processo criativo das
agremiações, desde a concepção dos enredos, a escolha dos sambas de enredo, os
ensaios, os comentários nas páginas das agremiações, as demissões, as
contratações, as renovações de contratos, os incidentes e acidentes e todo os
bastidores da maior festa popular do mundo.
Sobre o resultado para a Grande Rio,
foi a vitória de uma agremiação que sempre perdeu para ela mesma, mas nunca
perdeu a esperança de acertar e gradativamente veio trazendo menos artistas,
menos enredos embranquecidos e patrocinados para a alegria do povo, do chão da
escola e dos sambistas que já não gritam
mais as palavras: “linda”, “maravilhosa”, para as personalidades enxertadas nas
agremiações, eu sinto muito orgulho dessa consciência mesmo que tardia, de que
se não samba não deve estar no lugar de passista, venha no carro alegórico,
venha em uma ala, mas não ceife o sonho de meninas, moças e mulheres pretas, ou,
da comunidade que merecem e lutam para ter seu talento valorizado. Isso serve
para todas as escolas, da Intendente Magalhaes à Marques de Sapucaí.
O carnaval de 2022 será marcado como
o carnaval do empoderamento, da valorização a ancestralidade, do respeito as
religiões de matrizes africanas, do orgulho de ser preto, da sororidade, do
olhar mais crítico, do se redescobrir preto independentemente da quantidade de melanina
em nossa pele, da resistência, do tambor que voltaram a ecoar com muito mais
força e disposto a invocar nossos antepassados para estarem conosco na saudação
e louvação a Exú, depois a todos os Orixás, aos Erês e aos que passaram antes
de nós, são os responsáveis pelo legado que nos foi deixado para que possamos
seguir e passar o bastão às novas gerações que desfilam no último dia de
carnaval na Marques de Sapucaí, ainda sem patrocínios e público, mesmo com a entrada
franca.
O que será que nos aguarda em 2023?
Daqui a pouco eu te conto, o carnaval vem logo aí!
Paulo Cesar Alcantara
Adorei os textos! Lindo! Parabéns.
ResponderExcluirAgradecemos imensamente sua leitura e interação, sua opinião é muito importante para nós.
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