Por Rogério Madruga
Foto J.R.Antunes |
E o
tempo da serpentina e do confete voltou. O giro da baiana, o esplendor dos
pavilhões, a corte e elegância dos casais de MS e PB, o fausto das alegorias e
a beleza das fantasias... tudo ao som da música maior da cultura nacional, o
Samba.
E na
noite de domingo, abriu o espetáculo o Império Serrano mostrando que seu lugar
deve ser entre as grandes. Tradição merece respeito. A despeito de falhas, fez
um desfile coeso e grandioso em homenagem a um grande artista... Flores em vida
para Arlindo Cruz... Serrinha chorou de alegria.
A atual campeã, a tricolor de Caxias, ficou só com o bagaço da laranja no enredo homenageando Zeca Pagodinho. Vindo de
um campeonato apoteótico, a Grande Rio não apresentou o mesmo nível e fez um
desfile arrastado, mesmo com um refrão chiclete no samba enredo, pesando a mão
em fantasias. Aplausos para o setor dos erês, lúdico e doce e, também, para a sacada na composição da fantasia do primeiro casal: É Ogum, é abre caminho, é vence demanda..
A
Mocidade Independente de Padre Miguel em justa homenagem a Mestre Vitalino trouxe alegorias com acabamento ruim e falta de cuidado estético, embora com boas
ideias na concepção ao (re)utilizar materiais que seriam descartados, como
sarrafos de madeira, latas de tinta e
galhos secos. O samba nada empolgante não atrapalhou o bailado da bela roupa do primeiro casal de MS/PB.
A
Unidos da Tijuca passeou pela Baía de Todos os Santos com as pinceladas ousadas
da paleta do seu carnavalesco e trouxe uma acertada e necessária Yemonja preta, em belo
espetáculo de sua Comissão de Frente. Figurinos variados, fugindo da mesmice e
na assinatura particular de seu carnavalesco. Erros na última alegoria afastam
a possibilidade de o Pavão levantar o caneco.
O
Salgueiro pintou a avenida de vermelho, branco e luxúria com seus delírios...
Alegorias gigantescas quase levam a erro logo na cabeça da escola. Reincidente,
aliás. Belas cores, excelência em acabamento dos carros e figurinos luxuosos são
prejudicados pela evolução. Na comissão de frente, bela concepção do elemento
alegórico e dos componentes, porém, a coreografia ficou sem dizer a que dança
veio. Terá sido delírio?
A
Estação Primeira fechou a primeira noite dos desfiles dando um show com sua
bateria. Teve paradinha para todos os gostos. O samba funcionou e a arquibancada
respondeu ao passar da verde e rosa. A primeira porta-bandeira estreou com pé
quente na defesa do pavilhão de Cartola. Mangueira arrebata a todos com
um desfile coeso, rico e criativo, deixando sua comunidade com vontade de
gritar “é campeã!”.
É isso, sono bateu... Amanhã tem mais.
E a
segunda noite chegou e o público aguarda ansiosamente por mais um espetáculo na
Marquês de Sapucaí. Uma noite de grandes desfiles e, principalmente, de grandes
histórias...
Você
já tinha pensado em como o búfalo chegou na ilha de Marajó? Foi isso que a
Paraíso do Tuiuti trouxe para avenida: a história da chegada dos búfalos na
ilha do Pará. Outra vez, a professora Rosa Magalhães e João Vítor brindam
o público com um enredo cheio de informações históricas, trabalho típico da
mestra dos campeonatos. Afora isso, a azul e amarelo de São Cristóvão cruza a
avenida com alegorias bonitas, belas fantasias e uma comissão de frente
bastante impressionante contando a história do mogangueiro e encantando o
público. Parabéns, Tuiuti, por um desfile
bastante expressivo.
A
Portela faz um dos desfiles mais aguardados do ano, afinal, não é todo dia que
se comemora 100 anos. A majestade do
samba abre seu desfile trazendo seu símbolo maior, a águia altaneira, em dourado
e cravejada de joias. Nada mais justo para quem faz 100 anos de avenida. Então, todo respeito e todos os aplausos a azul e branco de Madureira. Todavia, erros
primários por problemas mecânicos em carros alegóricos tira a possibilidade de a
águia de Madureira levantar o caneco no seu Centenário. Levando para a avenida
toda a sua história em um desfile orquestrado, a azul e branco peca pela falta e também pelo excesso: drones pontilham
a avenida estrelando um céu em azul e branco. Emocionante, porém não fazem
parte dos quesitos julgados. Faltaram histórias da história da maior campeã do
Carnaval carioca. Parabéns, Portela pelo seu Centenário, e que venham muitas
novas comemorações.
Terceira
a desfilar, a Vila Isabel faz um espetáculo arrebatador na Marquês de Sapucaí
com luxo, excelente acabamento, criatividade, alegorias bem pensadas e um São
Jorge que encantou a avenida. A swingueira de Noel manteve o ritmo e garantiu à
Vila Isabel um dos melhores desfiles da noite. E se o enredo eram Festas, a
Vila Isabel fez festa ao se colocar como favorita ao campeonato de 2023. Paulo
Barros, o carnavalesco, se esmerou em belos figurinos e alegorias e fez um dos
melhores desfiles de Carnaval de sua história.
Quarta
agremiação a desfilar, a Beija-Flor de Nilópolis, rolo compressor da passarela,
traz uma nova versão para o 7 de Setembro e questiona: se não fosse como a
história nos conta, de quem seria o protagonismo? Reconhecida pelo seu
grandiosismo, a Deusa da Passarela apresenta problemas na primeira alegoria: um
incêndio que, embora tenha sido na área de armação, pode comprometer a escola
com a perda de décimos no quesito Alegorias e Adereços. Samba funcionando, comunidade
cantando com força, a Beija Flor faz um desfile grandioso, informativo,
histórico e questionador. A plástica, porém, não seguiu a máxima “o menos é mais”,
substituída pelo “mais é demais”... mal acabamento em alegorias e fantasias
repetitivas, visualmente pesadas, levaram a uma confusão estética, ofuscando o brilho do desfile, sem
tirar seu mérito de ensinamento. Deixa Nilópolis cantar....
Penúltima
escola a entrar na avenida, a Imperatriz Leopoldinense nos conta em formato de
cordel lúdico a história de onde foi parar Lampião após ter sido recusado no
inferno e também no céu. Então, Capitão Virgulino, o que aconteceu? Leandro
Vieira, carnavalesco da verde e branco de Ramos, faz uma pesquisa histórica e
apresenta na avenida um desfile recheado de belas fantasias, inusitadas
alegorias, excelência em acabamento e
uma paleta de cores impressionante que faz com que o espectador não pisque os
olhos para não perder nada. Destaque para a Comissão de Frente e a figura de um
cachorro bastante extrovertido, brincante e brincalhão... um retrato do
nordeste na Marquês de Sapucaí.
Pintura de Rosa Egipcíaca feita pelo artista Galindo Acervo Luiz Mott |
E assim, se encerram os desfiles do grupo especial neste ano de 2023. Se, na primeira noite de desfiles tivemos uma grande expoente - nessa minha análise muito particular - que foi a Mangueira, nessa segunda noite o caldo engrossou, as plumas se embolaram e a briga pelo caneco será das melhores como não se via há bastante tempo. Aguardemos a Quarta-feira de Cinzas, cada um puxando brasa para sua sardinha e se segurando em suas crenças. Mais uma vez, Evoé, Carnaval Carioca, Evoé, Cultura Brasileira e vamos aguardar os resultados.
Rogério Madruga é Produtor Artístico e Podcaster - rogerio.m.madruga@gmail.com
PARABÉNS, Rogério!! Comungo de muitas percepções em sua análise. O resultado, hoje, será definido por décimos entre grandes agremiações. Evoé!
ResponderExcluirNão sou “o cara” do samba, mas sou público que reconhece e admira o peso do carnaval em nossa história e cultura. As suas observações, Madruga, me deixam mais em consonância com o valor, incomensurável, que possui uma agremiação para seus amantes. Obrigado por tando. Belo texto. Fabio Seabra.
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