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Mês de setembro, noite quente de quinta-feira, atípica para a estação do ano. A quadra de uma escola de samba, localizada na baixada fluminense está começando sua movimentação com a chegada de pessoas de várias partes da cidade do Rio de Janeiro caminhando em direção a entrada da escola, passam pelo meio de camelôs que vendem comidas e bebidas variadas. Os manobristas gritam oferecendo vagas em troca de poucos reais, e dos carros descem sambistas e personalidades do universo do carnaval. Já dentro da quadra, decorada com as cores da escola, azul e branco, o clima é de expectativa, a bateria esquenta seus instrumentos e o puxador canta sambas de outros carnavais que ainda fazem sucesso. Moisés desce do palco e circula pela quadra apertando a mão de cada diretor e presidente de ala, num ato de cordialidade. Ao som da bateria, com muita animação, cerveja e samba no pé, a presença dos passistas masculinos e femininos no meio da quadra dá inicio ao espetáculo. Nos camarotes bebidas e petiscos são oferecidos a uma camada privilegiada no samba.
Ronaldo tem uma empresa que leva turistas nacionais e estrangeiros aos pontos turísticos da cidade. Ele explica a um grupo de americanos de dentro de um luxuoso camarote da agremiação como funcionam os eventos ligados à manifestação mais popular do mundo.
“As
passistas com o poder de sedução sambam como se chamassem os homens para o
pecado, com o seu requebrado, sorriso convidativo, vestindo apenas biquínis
bordados com stress, com adereços de plumas e paetês nos cabelos, braços e
tornozelos ”riscam” o chão com seus passos em cima de seus saltos altos que
enfeitiçam quem as olhe. Já os passistas, se misturam a elas, com seus
movimentos e gestos de malandros da antiga Lapa, vestem calças e sapatos
brancos, e a camisa com as cores da escola, como se fossem os mestres de
cerimônia do evento, causam um misto de desejo e intimidação com seus sorrisos
e trejeitos sedutores em quem os vêem.
Os
integrantes da comissão de frente, a primeira ala a entrar na avenida, composta
em sua maioria de homens altos ou por mulheres belas, ou ainda, por homens e
mulheres juntos são considerados o cartão de visita de uma escola de samba, a
primeira impressão, o primeiro impacto, pois a escola começa seu enredo a
partir deles. As baianas, essa ala composta hoje em dia por mães, tias,
madrinhas, esposas, e, até avós de muitos integrantes da agremiação, têm a
finalidade de homenagear as baianas que chegaram ao Estado do Rio de Janeiro no
início do século, trazendo segredos da culinária baiana e influenciaram na
história da cidade. No início, os homens se travestiam delas e vinham com
navalhas na barra da saia pela lateral de toda a agremiação durante o desfile para
defender sua escola de grupos rivais, e hoje, graças à idéia de uma das grandes
damas da história do carnaval, a saudosa “Dona Neuma da Mangueira”, elas vêm em
uma ala composta apenas pelo sexo feminino, sua presença é obrigatória no
desfile das agremiações, porém, não é um quesito a ser julgado.
O
mestre-sala e a porta-bandeira entram e encenam um conto de fadas. Ele com
garbo e elegância, e seu inseparável lenço ou leque em uma das mãos tentando
cortejá-la, e ela, com glamour e simpatia seduz o mestre-sala, carrega a
bandeira na altura da cintura, bailando como um redemoinho levando o emblema
que identifica a escola, fazendo com que todos que estão presenciando a cena
torçam pelo final feliz da estória, o namoro.
A bateria
entusiasmada não para, seus integrantes parecem soldados cheios de garra e
disposição em um campo de batalha, seguindo as ordens de seu general, no caso
em questão, seu mestre. A bateria é o coração de uma escola, ela é quem
determina a velocidade do samba, o entrosamento dela com o puxador devem ser
perfeita. O mestre de bateria é responsável por determinar o ritmo de cada
instrumento. Por isso, seu ouvido e seus conhecimentos devem ser apurados, pois
ele será o general por um batalhão disposto a tocar e fazer o coração pulsar,
levando o ritmo da escola.
A frente
desse batalhão e ao lado do mestre de bateria vem a rainha de bateria, uma
mulher de beleza estonteante e medidas anatômicas invejáveis, é responsável por
manter a libido e a garra dessa ala composta em sua maioria de homens, eleita
através de uma votação interna.
O motivo da festa realizada na própria quadra das agremiações tem como função o de apresentar o protótipo do enredo a ser desenvolvido pela agremiação para os convidados, presidentes de ala, diretoria, e a comunidade.”
Os modelos iniciam o desfile de fantasias na passarela armada no meio da quadra com a apresentação do carnavalesco, que explica o que significa cada figurino, e o setor em que ela virá dentro do enredo escolhido e aprovado pela agremiação.
No camarim, mestre-sala e porta-bandeira discutem seus feitos, ela chama
atenção dele asperamente na frente de camareiras e modelos por ele não ter
feito o combinado, e não prestar atenção na apresentação, num ato grosseiro;
ela segura seu braço e diz que não podia realmente esperar nada melhor de um
amador incompetente, saindo em seguida e deixando seu parceiro sem graça
perante aos outros artistas que assistiram tudo, ele emudece e sem saber o que
responder a Larissa, pergunta asperamente o que todos estavam olhando, e se
nunca tinham visto um desentendimento entre profissionais. O mestre-sala é
irmão do agente de viagens, e na saída da quadra, eles se esbarram, e Ronaldo
pede a seu irmão caçula que ligue para a mãe deles, pois ela está com saudade e
muito preocupada, o sambista diz que está tudo bem e promete ligar, e se, der
tempo passará um final de semana com ela.
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