Com muito orgulho e honra publicamos aqui em caráter inédito e exclusivo, o conto 'Mestre-Sala' de autoria de Paulo César Alcântara, Produtor Cultural, Professor, Ator e amigo-colaborador do E aí?! faremos a publicação em etapas, para que voce, nosso leitor, possa apreciar a leitura com calma. Boa Leitura e Divirta-se!
1
Mês de agosto, imagem turva de um senhor exaltado, gesticulando, apontando o dedo no rosto de alguém, demonstrando irritação, mas não se pode ouvir o que ele grita. E no final de seu discurso, dá as costas, bate a porta da sala, sai da casa em passos rápidos, sem olhar para trás. Coloca seus óculos escuros e entra em seu carro.
Agitação nos corredores de um hospital público do Rio de janeiro, a equipe médica atende a uma senhora, e do lado de fora, há especulação de que seja derrame. Os vizinhos a encontraram em casa desacordada e com as suas roupas sujas. Dona Elisa morava sozinha, mas antes do acontecido tinha recebido a visita de uma parenta, e de um homem misterioso. Sua sobrinha chegou após Elisa ter dado entrada no hospital, aflita, com os documentos de sua tia nas mãos, providenciou a remoção para uma clínica particular, a imagem daquela mulher de óculos escuros, cabelos preso, unhas postiças, uma enorme bolsa, calça jeans trabalhada e saltos altíssimos de acrílico, chamava a atenção de todos.
Nervosa ao celular, a sobrinha interrompeu o lanche que fazia na cantina para ser fotografada por mulheres que a reconheceram da televisão. O sorriso se mantém mesmo nervosa com estado de sua tia. O público pede autógrafo e foto e, ela atende aos pedidos. Após conseguir a remoção de Elisa, acompanha sua tia na ambulância, segurando sua mão, tentando saber o que aconteceu, já que a senhora tinha uma boa saúde. Elisa lacrimeja e com dificuldade tenta falar, sem êxito. O paramédico que acompanha a remoção pede a sobrinha para não forçar a paciente, ter bastante calma, porque ela estava fora de perigo e precisava apenas de tempo e dedicação para se reabilitar. A sobrinha tira os óculos para secar as lágrimas, olha para fora da ambulância através da janela, e percebe que algumas pessoas acompanhavam a saída do veículo; levantou a sobrancelha, colocou os óculos, e o sorriso de volta, fazendo sinal de tudo bem.
A faxineira limpa a casa de dona Elisa, arruma o quarto, lava o banheiro, arrastando os móveis da sala encontra uma abotoadura de ouro, e a guarda no bolso. Quando Larissa, sobrinha de Elisa, chega, a faxineira entrega a abotoadura a ela e diz que encontrou o objeto ao lado do telefone, e que achava que pertencia ao moço que às vezes visitava a sua madrinha. Não conseguiu explicar como ele era fisicamente, porque era dispensada pela senhora sempre que ele estava prestes a chegar.
Em outro ponto da cidade, o agente de turismo, Ronaldo, apresenta a Pedra do Sal para turistas espanhóis, contando a história dos afros-descendentes, a escultura de Zumbi, o terreirão do samba, o sambódromo, a cidade do samba, a fundação José Bonifácio, e informando os acontecimentos importantes ocorridos nos bairros que se tornaram conhecidos por pertencer a ‘Pequena África’. Uma espanhola se dispersa do grupo a procura do que ela acreditou ter visto. “Um vulto mágico” passou rapidamente por entre as ruelas, enfeitiçou-a enquanto a turista ouvia o som de percussão diferente. Ela perguntou quem ele era, e antes de deixá-la perdida nas escadarias do Morro da Conceição, tinha se identificado como o samba.
2
Mês de setembro, noite quente de quinta-feira, atípica para a estação do ano. A quadra de uma escola de samba, localizada na baixada fluminense está começando sua movimentação com a chegada de pessoas de várias partes da cidade do Rio de Janeiro caminhando em direção a entrada da escola, passam pelo meio de camelôs que vendem comidas e bebidas variadas. Os manobristas gritam oferecendo vagas em troca de poucos reais, e dos carros descem sambistas e personalidades do universo do carnaval. Já dentro da quadra, decorada com as cores da escola, azul e branco, o clima é de expectativa, a bateria esquenta seus instrumentos e o puxador canta sambas de outros carnavais que ainda fazem sucesso. Moisés desce do palco e circula pela quadra apertando a mão de cada diretor e presidente de ala, num ato de cordialidade. Ao som da bateria, com muita animação, cerveja e samba no pé, a presença dos passistas masculinos e femininos no meio da quadra dá inicio ao espetáculo. Nos camarotes bebidas e petiscos são oferecidos a uma camada privilegiada no samba.
Ronaldo tem uma empresa que leva turistas nacionais e estrangeiros aos pontos turísticos da cidade. Ele explica a um grupo de americanos de dentro de um luxuoso camarote da agremiação como funcionam os eventos ligados à manifestação mais popular do mundo.
“As passistas com o poder de sedução sambam como se chamassem os homens para o pecado, com o seu requebrado, sorriso convidativo, vestindo apenas biquínis bordados com stress, com adereços de plumas e paetês nos cabelos, braços e tornozelos ”riscam” o chão com seus passos em cima de seus saltos altos que enfeitiçam quem as olhe. Já os passistas, se misturam a elas, com seus movimentos e gestos de malandros da antiga Lapa, vestem calças e sapatos brancos, e a camisa com as cores da escola, como se fossem os mestres de cerimônia do evento, causam um misto de desejo e intimidação com seus sorrisos e trejeitos sedutores em quem os vêem.
Os integrantes da comissão de frente, a primeira ala a entrar na avenida, composta em sua maioria de homens altos ou por mulheres belas, ou ainda, por homens e mulheres juntos são considerados o cartão de visita de uma escola de samba, a primeira impressão, o primeiro impacto, pois a escola começa seu enredo a partir deles. As baianas, essa ala composta hoje em dia por mães, tias, madrinhas, esposas, e, até avós de muitos integrantes da agremiação, têm a finalidade de homenagear as baianas que chegaram ao Estado do Rio de Janeiro no início do século, trazendo segredos da culinária baiana e influenciaram na história da cidade. No início, os homens se travestiam delas e vinham com navalhas na barra da saia pela lateral de toda a agremiação durante o desfile para defender sua escola de grupos rivais, e hoje, graças à idéia de uma das grandes damas da história do carnaval, a saudosa “Dona Neuma da Mangueira”, elas vêm em uma ala composta apenas pelo sexo feminino, sua presença é obrigatória no desfile das agremiações, porém, não é um quesito a ser julgado.
O mestre-sala e a porta-bandeira entram e encenam um conto de fadas. Ele com garbo e elegância, e seu inseparável lenço ou leque em uma das mãos tentando cortejá-la, e ela, com glamour e simpatia seduz o mestre-sala, carrega a bandeira na altura da cintura, bailando como um redemoinho levando o emblema que identifica a escola, fazendo com que todos que estão presenciando a cena torçam pelo final feliz da estória, o namoro.
A bateria entusiasmada não para, seus integrantes parecem soldados cheios de garra e disposição em um campo de batalha, seguindo as ordens de seu general, no caso em questão, seu mestre. A bateria é o coração de uma escola, ela é quem determina a velocidade do samba, o entrosamento dela com o puxador devem ser perfeita. O mestre de bateria é responsável por determinar o ritmo de cada instrumento. Por isso, seu ouvido e seus conhecimentos devem ser apurados, pois ele será o general por um batalhão disposto a tocar e fazer o coração pulsar, levando o ritmo da escola.
A frente desse batalhão e ao lado do mestre de bateria vem a rainha de bateria, uma mulher de beleza estonteante e medidas anatômicas invejáveis, é responsável por manter a libido e a garra dessa ala composta em sua maioria de homens, eleita através de uma votação interna.
O motivo da festa realizada na própria quadra das agremiações tem como função o de apresentar o protótipo do enredo a ser desenvolvido pela agremiação para os convidados, presidentes de ala, diretoria, e a comunidade.”
Os modelos iniciam o desfile de fantasias na passarela armada no meio da quadra com a apresentação do carnavalesco, que explica o que significa cada figurino, e o setor em que ela virá dentro do enredo escolhido e aprovado pela agremiação.
No camarim, mestre-sala e porta-bandeira discutem seus feitos, ela chama atenção dele asperamente na frente de camareiras e modelos por ele não ter feito o combinado, e não prestar atenção na apresentação, num ato grosseiro; ela segura seu braço e diz que não podia realmente esperar nada melhor de um amador incompetente, saindo em seguida e deixando seu parceiro sem graça perante aos outros artistas que assistiram tudo, ele emudece e sem saber o que responder a Larissa, pergunta asperamente o que todos estavam olhando, e se nunca tinham visto um desentendimento entre profissionais. O mestre-sala é irmão do agente de viagens, e na saída da quadra, eles se esbarram, e Ronaldo pede a seu irmão caçula que ligue para a mãe deles, pois ela está com saudade e muito preocupada, o sambista diz que está tudo bem e promete ligar, e se, der tempo passará um final de semana com ela.
3
Duas noites depois, durante show da cantora Alcione em uma conceituada casa de espetáculos, entre uma música e outra, ela canta “Queda de braço”
“Hoje cedo eu acordei,
com o coração acelerado cheio de paixão,...”
A cantora pede aplausos em agradecimento pela presença do público e de algumas pessoas ilustres em seu show, entre elas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação azul e branco da baixada, Robson e Larissa. Os dois se levantam e no meio de tantas palmas e luzes em seus rostos, retribuem o carinho do público e da interprete; Larissa agradece o carinho, manda beijos para a cantora e grita: “Maravilhosa, eu te amo!”. A cantora elogia o trabalho do casal, agradece a contribuição que ambos dão para o carnaval carioca, e começa a cantar “A loba”, dedicando a canção a porta-bandeira que de sua mesa acompanha o refrão olhando para seu homem.
“Sou doce, dengosa, polida
Fiel como cão, sou capaz de te dar minha vida...”
Após o show, Larissa pede ao marido que a acompanhe até o camarim para abraçar a cantora que tanto ama, mas Robson se nega, alegando cansaço e sono. A sambista insiste em ir vê-la, e vai sozinha até o camarim. Abraçou e beijou carinhosamente a cantora, e disse que tudo o que ela canta, é como se estivesse narrando suas emoções, que é a única cantora que consegue interpretar não somente o que ela sente, mas o que muitas mulheres sentem mulheres que como ela ama loucamente seus maridos. A cantora agradece o elogio, convida para tirar fotos, pergunta onde está Robson, que ela viu ao lado dela na platéia, e a sambista dá uma desculpa e muda de assunto, a cantora retribui o elogio dizendo que ela é uma excelente representante feminina no universo do samba, por todos os prêmios recebidos durante sua carreira e a convida para participar de um clipe de sua nova canção.
Robson é fã de cantores e compositores de samba de roda, de quadra e de partido alto, ele tem um acervo enorme com inúmeros discos e filmes documentários sobre esses mestres, já Larissa, é fã da cantora Alcione, por se identificar pelas canções que retratam exatamente o que ela viveu e vive no relacionamento, muitas vezes o casal canta refrões de músicas como forma de se comunicarem, de dizer um para o outro o que estão sentindo, a musicalidade é muito presente na vida deles, que se dedicam à paixão por suas profissões intensamente
Larissa encontra Robson desligando o celular do lado de fora da casa de espetáculos, onde estava esperando por ela sentado no capô do carro. Os dois voltam pra casa em silêncio como dois estranhos ouvindo o cd de Jovelina Pérola Negra. Robson fumando ao volante como se não tivesse ninguém ao seu lado, pergunta como está sua madrinha, a irmã de sua falecida sogra, e ela responde secamente que ainda não esta bem, mas que precisa saber o que houve com ela no dia em que passou mal. Ele pergunta por que ela é sempre tão grossa com ele, inclusive, na frente dos outros, fazendo ele se sentir humilhado e sem graça muitas vezes. Larissa ao se olhar no espelho retrovisor percebe que tem um carro seguindo o casal, e comenta com o marido, que assustado, verifica imediatamente pelo seu retrovisor dianteiro e esquerdo; e por não conseguir ver nada, diz com ar despreocupado, que é impressão dela.
E volta à conversa com um ar mais sério, dizendo que está cansado de dar carinho e só receber agressões verbais, de somente ele ter que lutar para compreendê-la, de ter que ceder sempre, e por causa da mudança de humores ele se sente obrigado a aceitar seus caprichos. Larissa olha com ar de quem não sabe o que fez de errado e permanece calada, seu silêncio deixa Robson triste, ao chegar em casa e entrarem na garagem, a porta-bandeira ainda cismada olhando pra trás, tem a intuição de que estavam sendo seguidos, o que a faz voltar até o portão, olha e nada vê, se assusta ao ser tocada carinhosamente no braço por seu homem, que a abraça carinhosamente pega-a no colo, e enchendo-a de beijos a leva para dentro de casa. Ela pede para que a coloque no chão, e acredite no que está dizendo pelo menos uma vez na vida.
Longe dos olhos do casal, um carro passa devagar e quase para na frente da casa, em seguida, arranca em alta velocidade sumindo na estrada.
Já no quarto do casal, depois de tentar convencer sua esposa a tirar a idéia de perseguição da cabeça, Robson se deita, imediatamente apaga a luz do quarto e se joga na cama em cima de Larissa, tentando descontraí-la, fazendo carinhos e cócegas, sendo asperamente interrompido por sua mulher que está com maus pressentimentos, e pergunta a ele se tem certeza de que não viu nada. Ele responde que não percebeu nada e começa a beijá-la, acariciando seu corpo e despindo sua mulher de uma forma diferente, sem sentimentos, sem a delicadeza de costume. Robson sabe muito bem como relaxar sua mulher, deixando-a arrepiada pelos seus carinhos, mas se realizando e finalizando seus desejos bem antes do tempo que geralmente levam, deixando Larissa ainda ardendo de desejo na cama.
Robson se levanta suado, ascende um cigarro dentro do quarto, o que não tem hábito de fazer, anda de um lado para o outro angustiado, enfim caminha em direção ao banheiro, e embaixo do chuveiro é surpreendido por sua esposa que pergunta o que está acontecendo, afinal de contas ele estava estranho há algum tempo, e já não fazia várias coisas, principalmente na cama. Sem obter resposta, Larissa indignada volta para o quarto, senta na beira da cama, e pergunta por que ele não quis ir até o camarim falar com a “Marron”. Ele enrolado na toalha, responde mais uma vez, que estava doido pra chegar em casa, tomar um banho relaxante e dormir. Ela pergunta irritada: - E ainda teve que me procurar, não é? Na verdade desejava algo que lhe confortasse, mas o sarcasmo e mágoa foram tudo que sobressaiu na resposta de seu companheiro. - Isso eu já estou acostumado! Toda noite se deixar você quer, só não sei o que faço pra melhorar a relação e mudar esse seu temperamento áspero comigo!? Larissa triste e magoada percebe a indiferença de Robson em suas palavras, mas como sempre, segura de si, acha que se trata de mais uma crise boba e passageira como tantas outras que já viveram, e que nada que uma boa viagem não resolva a situação do casal. Ele pega rapidamente no sono e ela começa a lembrar de quando se conheceram e iniciaram o namoro.
4
Larissa é mais velha que Robson, e o conheceu em uma das diversas viagens que alguns sambistas fazem pelo mundo, foi no Canadá, em Toronto, em um espetáculo anual chamado “Brazilian Ball”, realizado no centro de convenções Metro Conection Center, quando em uma visita na torre mais alta do mundo “Canadian National Tower”. Robson pediu para tirar uma foto ao lado dela e depois a chamou para passear na cidade coberta de neve. Robson era um técnico da produção do espetáculo, e fazia participação como capoeirista no show, e depois de muito conversarem, ele confessa que jamais pensou em um dia conhecê-la pessoalmente e ter a oportunidade de viajar o mundo mostrando parte da cultura brasileira.
Larissa se encantou com o interesse do rapaz pela cultura de suas raízes e achou maravilhoso perceber, ele, mesmo sendo tão jovem, mas com tanto conteúdo e sede de aprender, que resolveu convidá-lo e ensiná-lo a ser o seu parceiro de dança, já que seu parceiro anterior estava se afastando da carreira para se dedicar a projetos de ONG’S, inclusive a uma escola de mestre-sala e porta-bandeira, nessa época; Robson tinha dezessete anos de idade e ela vinte e seis. Ele sonhava em ser um reconhecido mestre de capoeira, e conseguir comprar uma casa para sua mãe, que trabalhou muito para criar a ele e seu irmão mais velho, sua paixão pelo carnaval e a capoeira veio de seu pai que era da velha guarda de uma extinta agremiação. A herança musical veio de sua mãe, que desfilava na ala das baianas, e que com o falecimento de seu pai e a fusão da escola de samba a qual eles pertenciam, resolveu se afastar e apenas acompanhar os desfiles pela televisão.
Larissa demora a pegar no sono e quando consegue, sonha que está à margem de uma cachoeira de águas cristalinas, na qual sua imagem se refletia, ao jogar água no rosto com as mãos percebe que está toda cortada, porque a água se transforma em vidro quando é jogada de encontro ao seu rosto, deixando-a toda ensangüentada. Desesperada com as feridas, ela acorda assustada e suada, com a respiração ofegante, parecia que o sonho fora tão real. Robson permanece dormindo de costas para ela. Angustiada, a sambista vai ao banheiro e verifica seu rosto, e ainda com medo, pega a toalha de rosto, molha embaixo da torneira, passando lentamente em seu rosto, e confere que tudo não passou de um pesadelo.
Na manhã seguinte, pega a sunga de seu marido que dormia pelado ao seu lado, leva até o cesto de roupas para ser lavada, começa a escovar os dentes, quando Robson entra no Box para uma ducha, ela volta para o quarto e sente falta do par de meias que ela tinha dado de presente a ele e que não estavam dentro do par de sapatos usados, na noite anterior. Desconfiada, ela pergunta onde ele colocou o par de meias que estava usando quando saíram, e ele responde que saiu sem elas, deixando-a desconfiada pela certeza de tê-lo visto calçando-as. Sabendo que Robson está mentindo, Larissa desconversa, mudando para o assunto que a estava deixando preocupada. O sonho que perturbou sua noite, ouvindo de seu marido que ela dormiu preocupada com o que achou ser uma perseguição e acabou estimulando aquele sonho. Ele avisa que vai para a casa de dona Iracema, sua zeladora de santo, para resolver alguns problemas e aproveitar para saber como andam as coisas para ele, e ela pergunta se ele esta cuidando das obrigações religiosas como deveria.
Num jogo de búzios, no terreiro de candomblé do qual é ogan, dona Iracema vê uma nuvem carregada de decepções e tragédias em seu caminho, pergunta por que Robson não tem aparecido para cumprir com suas funções se ele não estava viajando a serviço naquele momento. Ela recomenda cautela com as pessoas de seu convívio, sugere que fale menos sobre sua vida, que seja mais consciente em suas atitudes, finaliza mandando tomar banho de ervas, preparar e entregar uma oferenda a seu orixá, xangô, o rei da justiça. Robson espantado alega para Iracema, que vai tudo bem no seu trabalho e projetos, ignorando o aviso. Ela pergunta como vai sua vida amorosa e não obtém resposta imediata, refaz a pergunta e o sambista responde secamente que vai bem, sem nenhuma anormalidade, apenas a monotonia de sempre, por isso encerra o assunto como se não tivesse nada mais a ouvir da senhora que olha atentamente para a mesa de jogo com ar de desconfiança.
O rapaz tenta se levantar da mesa de jogo, quando é segurado pelo braço por dona Iracema, que o puxa de volta pra se sentar e terminar de ouvir o que tem a dizer, e nesse momento, ela o alerta seriamente pra tomar muito cuidado com os seus atos, porque dessa vez seria pego desprevenido pelas costas de um lugar onde jamais imaginou, e que seria fatal. Inclusive pediu para se lembrar da lenda de seu orixá na qual viveu um triangulo amoroso com Obá e Oxum. Robson sorri e agradece a preocupação, não dando importância ao aviso.
Hoje em dia, Robson é um famoso e respeitado mestre-sala. Faz espetáculos em empresas nacionais e internacionais, viaja o mundo todo ao lado de sua esposa Larissa, participa de espetáculos na cidade do Rio de Janeiro, dá palestras e cursos de bailado para turistas nacionais e estrangeiros, coleciona prêmios nessa categoria. Seus contratos são um dos mais caros do mundo do samba carioca.
Ele pernoita na casa de candomblé para dar o “Osé” no santo, ritual de limpeza das louças e peças do orixá, o que somente ele e a zeladora podem fazer. Sob o olhar de dona Iracema, ele informa a Larissa pelo celular que dormirá no barracão, e pergunta se está tudo bem com ela, a seguir, recebe duas ligações, em uma delas, no meio do assunto, pergunta se a pessoa estava seguindo ele na noite anterior até a porta de sua casa. Após desligar o telefone irritado, dona Iracema pergunta se está tudo bem, e Robson responde balançando a cabeça que sim com um ar de preocupação, porém, suas atitudes são suspeitas, está distante mentalmente, e no meio da noite, ela percebe que ele ainda não dormiu e que está pensativo, e decide continuar com as perguntas, e o sambista desabafa que está insatisfeito com o casamento que ultimamente tem sido uma rotina e que tem pensado em abandonar Larissa caso ela não mude o tratamento com ele.
Ela o aconselha a mudar essa situação, tomar cuidado com uma mulher d’Oxum que apareceu no jogo e, que vai virar sua cabeça. Ele diz que se sente muito grato a tudo o que Larissa fez no início da relação, mas que guardava mágoas de sua indiferença e frieza, de sua forma rude de tratá-lo, deixando-o em segundo plano sempre, exigindo o máximo dele, para que ele se tornasse no profissional que hoje ele é, deixando de curtir mais a vida na fase em que deveria ter conhecido e aproveitado mais as mulheres. O mestre-sala também recorda e comenta sobre os tombos que levava quando estava aprendendo a bailar, das broncas que ela dava e ainda dá, em qualquer lugar, sempre para o seu bem, mas de forma muito severa e rígida. Ogan e zeladora de santo acendem um cigarro do lado de fora do barracão e Robson continua seu desabafo...
Em meio ao relato ainda com as imagens em sua mente, com sua zeladora fazendo carinho em sua cabeça, ele chora como uma criança e por final pega no sono, ela o deixa dormindo, sai na ponta dos pés, apaga a luz e fecha a cortina do quarto em que ele estava.
5
Larissa em sua casa demora a pegar no sono, acostumada a dormir com seu marido, ela se agarra ao seu travesseiro por não acreditar que ele realmente esteja no barracão, e começa a chorar ao sentir o seu cheiro no lençol e na fronha, ela é perdidamente apaixonada, mas nunca demonstrou da forma que ele queria, apenas exigia dele que fosse um homem de atitude mais madura, cobrando ao máximo seu desempenho profissional. Robson sempre venerou sua esposa antes mesmo de conhecê-la, e depois que se casaram, não imaginava que ela fosse uma mulher tão contraditória, sempre sorrindo perante as pessoas ao seu lado, mas freqüentemente de mau humor no dia-a-dia, e isso o deixava com raiva e decepcionado, acabou se precipitando e se envolvendo com algumas mulheres mais jovens do que Larissa, aliás, o seu atual envolvimento, já dura quase quatro meses.
Larissa nem suspeita da traição, jamais imaginou que seu esposo pudesse fazer alguma coisa que arranhasse a imagem do casal, mas ela se sente segura, inabalável. Porém, durante os ensaios na quadra da Escola, fica quase impossível os amantes disfarçarem seus olhares, sorrisos e piscadas de olhos, evoluindo cada um no seu setor, mas se mostrando um para o outro, como numa disputa. No intervalo do samba, enquanto posava para fotógrafos ao lado de estrangeiros, ela avista uma mulher se insinuando para Robson, e irritada, disfarça e segue em direção ao casal, perguntando a moça se ela gostou do que estava vendo, e deixando ambos, tanto ele quanto a mulher, sem graça, e continuou gritando que podia olhar e desejar seu marido à vontade, mas sem tocá-lo, ir pra casa e se masturbar, porque no final da noite ele iria para a cama quentinha dela.
Concluiu a cena dando tapinhas no ombro da moça com ar de deboche. Ele fica sem ação mediante a atitude grosseira dela sob os olhares de curiosos, ela segura na mão dele o tira do meio da quadra, ele diz que ela não poderia fazer aquilo porque estava acostumado a vê-la sendo abraçada e beijada por vários homens que eram fãs de seu trabalho e nunca agiu daquela forma. Larissa confidencia para Mary, rainha de bateria, que seu casamento não está legal, e a passista lhe ensina algo para que a esposa coloque na comida dele e que fará com que ele só tenha olhos para ela, desconfiada por não acreditar em simpatias, Larissa ri da receita.
A severa diretora de harmonia pergunta com carinho se Larissa precisa de alguma coisa e se pode ajudar, e com a resposta positiva da sambista, segue em direção a rainha de bateria e pergunta com ar de deboche se esta tudo bem. Não obtendo resposta de Mary que a ignora e ainda a deixa falando sozinha. E ao virarem as costas no mesmo tempo. Uma chama a outra de idiota.
Aflita com a angústia que sente. Larissa se lembra da simpatia de Mary e segue o conselho da amiga, o faz sem pensar no que poderia resultar. A sambista prepara um jantar especial para o esposo na intenção de seduzi-lo. Robson estranha o gosto do feijão e pergunta o que sua esposa colocou, e ela diz que colocou um condimento para incrementar o sabor da comida, deixando o mestre-sala com nojo do prato, desistindo de jantar, para desespero de Larissa que já não sabe mais o que fazer, porque quanto mais ela tenta, mais piora a situação do casal. Desesperada, ela liga para a passista e relata o que fez e do desastre que foi ter seguido o conselho dela, Mary fica muda ao telefone, morde os lábios de felicidade e sugere a amiga que tenha paciência para obter o resultado, pois tinha visto a receita em uma revista de trabalhos de simpatia e que era de fonte segura.
Larissa encontra Dalva, diretora de harmonia na esquina de sua casa, a vizinha é uma mulher de gesto masculino. Solitária, mal humorada, e ao cumprimentar, pede a porta-bandeira para abrir os olhos com as falsas amigas dela, deixando a porta-bandeira sem entender a indireta. E antes que pudesse perguntar sobre quem ela estava falando. Dalva entra em casa e bate o portão.
Ronaldo, irmão mais velho de Robson, recebe um grupo de turistas franceses, no museu Carmem Miranda, e no Centro Cultural Cartola, seguindo com a equipe em direção aos bairros de Vila Isabel, Tijuca e Madureira, em direção às outras agremiações que se afastaram do centro da cidade.
6
Quatro meses se passam. Elisa pede à enfermeira que chame Larissa para uma conversa. À noite, na final da escolha do samba para o carnaval, os diretores de ala, presidente, diretores de harmonia percebem os olhares, o excesso de sorrisos e os gestos de carinho entre o mestre-sala e a Rainha de bateria, menos Larissa. Do lado de fora, vários ônibus com torcidas organizadas movimentam as ruas próximas, e intensificam o transito em torno da quadra da Escola, pessoas chegam cantando seus sambas favoritos. Alguns sambistas de nome chegam à quadra para prestigiar seus amigos compositores e diretores. Na final, estavam concorrendo quatro sambas, os compositores investiram distribuindo cd’s, camisetas, bolas de gás, fitas, confetes, faixas, cerveja e lanche para seus torcedores ajudarem na evolução de seus sambas na quadra, com o intuito de vencer o campeonato e ter o seu samba gravado e levado ao sambódromo, defendendo o enredo da agremiação.
Apesar desse grande evento, o patrono bastante irritado, chama a atenção asperamente da passista, por estar desrespeitando a sua colega de escola, a agremiação, e os familiares presentes, que assistem suas apresentações com olhar de reprovação. Mary se desculpa, e diz que se policiará para que não ocorra novamente o transtorno. Larissa, feliz pelo samba vencedor, guarda a bandeira, abraça os compositores, e diz que o campeonato já é deles.
Robson faz sinal para Mary, que finge não entender e manda um bilhete pelo seu primo, Marcelo, capitão da comissão de frente, marcando encontro pra depois da comemoração.
A porta-bandeira decide ir pra casa, e Robson diz que vai mais tarde, com os amigos, dando a chave do carro para ela voltar com seus vizinhos. Com a saída de sua esposa da quadra, o mestre-sala procura Mary no estacionamento, e seguem no carro dela para o motel mais próximo da quadra da Escola, sob o olhar de desaprovação de seu primo, Marcelo. Mestre-sala e Rainha de bateria não se importam com o risco que correm, a química que existe entre o casal é maior que o medo, se realizam plenamente na cama. Porém, Mary impõe que Robson tome uma decisão entre ela e Larissa, alegando que não pode mais viver em segundo plano na sua vida, por amá-lo perdidamente, e diz isso cantando “Amantes”.
“Eu queria ser bem mais que amante,
Quero ter você o tempo todo...”
Ele pede para ela parar de cantar a música, mas não diz que é por se lembrar de sua esposa, e que inclusive já cantou várias vezes para a porta-bandeira.
Enquanto isso, Larissa acorda assustada com o pesadelo, no qual lhe serviam um prato cheio de cobras. Vai até a cozinha, bebe um copo de água gelada, e estranha que seu marido ainda não tenha voltado. Liga para o celular dele, que atende na hora em que está abrindo a porta de casa, e pergunta a ela o que foi que houve. Ela conta o sonho que teve, deixando-o cismado. Em casa, pensativa com a revista de simpatias que comprou nas mãos, Mary se sente mal por estar traindo sua colega, mas o que sente por Robson é mais forte. Vestindo apenas camiseta e calcinha, levanta, pega o celular e manda um torpedo para Robson, dizendo que o ama acima de tudo, mas ele, por estar dormindo com o aparelho desligado, só lê a mensagem no dia seguinte. Sua esposa, ainda acordada, desconfia de algo ruim, e começa a suspeitar de várias pessoas, menos de seu marido, ela sente que algo está errado por conta dos pesadelos, da relação, das insatisfações em tudo que ela está fazendo. E pensa em procurar a zeladora de seu marido pra conversar e se, necessário, ver o que pode ser feito.
Larissa perde um dos empregos que tinha como professora de dança em um colégio particular no dia seguinte, e fica irritada com a situação, descarregando seu mau humor em cima das pessoas, principalmente em cima de Robson, pessoa que ela esperava ser a mais compreensiva, pois, ele sabia o quanto ela sempre foi batalhadora para alcançar sua independência financeira. Robson não suporta o comportamento cada vez mais agressivo de sua mulher, e a acusa de estar colhendo o que plantou, que estava pagando, palavras que ferem e pioram o humor da porta bandeira que não consegue assimilar a sua decadência e o afastamento contínuo de seu marido, e começa a odiá-lo, achando que ele está sendo injusto com uma pessoa que lhe ajudou, perdendo o ânimo para sair, e realizar seus afazeres. Os dois começam a discutir e travam uma luta brutal, Robson joga Larissa sobre a cama, e esta o estapeia descontroladamente, na tentativa de fazê-la parar, o mestre-sala agarra os cabelos da porta-bandeira e prende suas mãos. Ofegantes, beijam-se com fúria, desejo e ardor, arrancam suas roupas e se ofendem com palavras que aumentam a libido de ambos, se entregando, então, totalmente a um sexo sem pudores.
7
A sambista procura a mãe-de-santo de Robson, e a encontra dando consulta com a pomba-gira, que fala a respeito de seu casamento. A sambista nunca pensara que seu relacionamento estivesse correndo risco, pois achava se tratar de uma rotina conjugal e resolve seguir os conselhos da entidade que a recomenda ficar de olho bem aberto em uma moça bonita do meio em que vivem. Robson vai até o barracão da agremiação, vê e aprova sua fantasia, sendo convocado a comparecer na sala da diretoria pelo presidente, que chama atenção para os furos que ele e a rainha de bateria estão cometendo perante os outros integrantes. O mestre-sala desmente a impressão e desvia a conversa para outros assuntos de interesse da Escola.
Mary confessa ao seu primo, Marcelo, que Robson, na noite anterior, disse que será dela tão logo abandone Larissa. Seu primo a aconselha a se afastar do mestre-sala, por achar que ninguém pode ser feliz desejando a infelicidade dos outros. Finaliza dizendo que o sambista não pertence a ela, e não vai mais compactuar com suas atitudes, já que respeita e admira a sambista, embora não suporte o mestre-sala. O mestre-sala lê o torpedo enviado por Mary e, ao tentar responder, é surpreendido por Larissa que chega ao barracão para verificar a sua fantasia, e acha que ele estava tentando falar com ela, deixando-o sem graça. Ele decide não responder o torpedo, guarda o celular e resolve esperá-la.
O Carnavalesco Paulo César, sempre acompanhado de um rapaz diferente (geralmente são novos, bonitos, discretos e musculosos), percebe o clima não muito comum, pede um momento ao jovem, e chama a porta-bandeira para mostrar como o desenho de sua fantasia ficou deslumbrante, além de tirar as medidas da sambista em sua sala. Larissa, após conversar com o carnavalesco e ver o modelo de sua fantasia, pergunta o que a costureira faria se alguém tentasse tirar o homem dela. A funcionária do barracão responde que furaria os olhos da pessoa ousada, esperaria o marido dormir, e jogaria água ou óleo fervendo nas partes baixas. Espantado, por perceber que a sambista esta perto de descobrir a verdade, Paulo César prevê problemas entre os integrantes, e muda de assunto, dizendo que a costureira estava brincando. Enquanto isso, Robson caminha pelo barracão da escola por entre os profissionais. Neste universo de um único ideal, as imagens dos objetos e materiais de mão-de-obra vão se modificando, se moldando, se fundindo, e assim, nascendo e crescendo o enredo da agremiação.
O presidente da agremiação, senhor Cenísio vê Larissa e pede para comparecer a sua sala, e lá, ele pergunta se ela esta bem e se precisa de alguma coisa, obtendo uma resposta seca de que está tudo bem, mas que tem um projeto de montar uma escola mirim para as crianças da comunidade, agradando o gestor da escola com a idéia. Ao sair da sala ela escuta a conversa de dois funcionários do barracão que diz com muito orgulho ter saído com uma mulher e que para não deixar rastros, se limpou com as meias e jogou fora; assim sua esposa não suspeitou da traição. Larissa ao ouvir isso fica aflita, por lembrar que deu falta de um par de meias de Robson, atende nervosa ao telefonema de seu cunhado querendo marcar um show para ela e Robson exclusivamente para turistas.
Ao chegar em casa, Robson dá de presente o cd e o dvd da cantora Alcione que Larissa tanto ama e vive cantando, mas que prometa não ficar ouvindo e cantando o dia todo, e ela responde que só ouvirá quando estiver deprimida ou inspirada, caso contrário, isso não ocorreria, mas que iria preferir estar inspirada para o amor dela, se aproximando dele que se esquiva de seu abraço. Mais tarde, Robson apaga as luzes e procura por Larissa que finge não suspeitar de nada e mantêm até o fim, calada, a relação sexual. Ao final, ele acende o cigarro, levanta-se nu, vai ao banheiro, se olha no espelho, apaga o cigarro na torneira da pia, entra no Box, toma uma ducha, enquanto ela se enrola no lençol, coloca o CD da Alcione e se emociona com a música “Entidade” , que relata exatamente o que ela está passando.
“Eu tentei evitar
que o pior pudesse acontecer
Mas você me encostou na parede
Pois bem, vou te dizer...”
Mary liga para Robson e desliga ao perceber que foi Larissa quem atendeu. A porta-bandeira pega a cueca e começa a cheirá-la, alucinadamente, numa mistura de tesão, ódio, mágoa e perda. O mestre-sala volta se secando, ainda nu, e pergunta se está acontecendo algo. A esposa balança a cabeça negativamente e diz ‘nada’, e indaga por que ultimamente ele tem preferido transar no escuro. Robson disfarça com um sorriso nervoso, e diz que está acima do peso, sentindo-se gordo, barrigudo e cansado, com vergonha do próprio corpo. Larissa finge acreditar no argumento, por medo de ouvir a verdade e não querer sofrer e nem se aborrecer mais, pois dessa vez percebeu que ele estava mentindo para não feri-la, e resolveu parar de questionar. Todavia, está decidida a descobrir quem é a mulher que está abalando seu relacionamento, e destruí-la a qualquer custo. Durante a noite, Larissa em um de seus pesadelos sofre um empurrão de uma pessoa que não consegue ver, e antes do impacto da queda de uma enorme escadaria, dá um pulo da cama que chega a acordar o Robson assustado, e que questiona o que aconteceu. Ela conta o sonho que teve, e acha que estão mexendo com seu anjo de guarda, deixando seu esposo preocupado.
Na manhã seguinte, Larissa ainda insatisfeita com a desculpa de seu esposo, sem ter conseguido pegar no sono, espera Robson acabar de escovar os dentes e pergunta quem é a pessoa que está virando a cabeça dele, se é algum dos amigos de farra ou alguma mulher, e recebe a resposta de que ninguém está mexendo com ele, é apenas uma crise que ele precisa resolver sozinho. Larissa fica cismada com a reação de seu esposo, que se afasta dela para atender o telefone, muitas vezes falando monossilabicamente, e começa a verificar com as pessoas do convívio em comum, alguma informação que pudesse esclarecer os fatos, pois precisava de provas para dar um ponto final naquele tormento que dia-a-dia parecia piorar.
Pergunta a Dalva, que diz não saber de nada, e diz pra ela procurar saber com quem andava. Em casa, ao lembrar-se da entidade de dona Iracema, Larissa procura no guarda-roupa, do lado em que Robson guarda suas coisas, alguma informação, como telefone, nome desconhecido e acha um livro que pertenceu à sua mãe e que tinha dado a seu marido, sobre a história dos Orixás cultuados no Brasil e, decidiu conhecer melhor a lendas de seu orixá “Obà”, e de seu esposo. Imediatamente liga para dona Iracema e pergunta se ela sabe de alguma coisa, porque ficou bastante intrigada ao conhecer a história do triangulo amoroso entre os orixás: “Oxun”, “Xangô” e “Obà” e lembrou-se da história do corte da orelha de “Oba” posta no ‘amalá’ como prova de amor a “Xangô”. A mãe-de-santo responde que isso era uma lenda, mas pede para ficar de olho aberto com uma mulher de oxum que estava aparecendo no jogo de Robson, pedindo sigilo para não ficar em uma situação constrangedora com o seu ogan. Nervosa, ela diz que colocou algo no feijão do marido a mando de Mary, e quando pronuncia o nome da sambista, ela vê o exu da zeladora de santo em sua frente dando gargalhadas e levantando uma taça com sangue, bebidas e rosas em seus pés, caminhando de um lado para o outro em sua sala com as mãos na cintura.
Arrepiada com o que vê, Larissa dá um grito, deixando o fone cair, cortando a ligação em seguida. Dona Iracema sem entender o que estava acontecendo, sente um forte arrepio, seguido de um vento que apaga as velas que estavam próximas, e ao perguntar se Larissa estava bem, a ligação é finalizada. A zeladora alisa os braços com ar de espanto e surpresa, e após fechar as janelas de sua casa e se benzer, reascende as velas, corre para a mesa de jogo de búzios para saber se obtém alguma informação, e o jogo não responde. Ela volta a ligar para a sambista, que não atende ao telefone. Larissa assustada com a visão resolve tirar o aparelho da tomada. Ela pega o celular e liga para Mary e diz que quer conversar com ela, deixando a passista sem graça e mandando Robson ir para sua casa por ter achado a voz de sua esposa estranha.
8
Mary marca encontro com Larissa às onze horas, e pede à sua faxineira que ligue para o seu celular as onze e quinze, e assim que ela atendesse, desligasse. Mary parte para o encontro. Após iniciar a conversa na qual ela foi questionada sobre a simpatia, a rainha disse que foi assim que havia melhorado a situação com o homem da vida dela, e seu telefone toca conforme combinado, ela mente dizendo ser ele, em sua casa, querendo lhe falar.
Por várias noites Robson ainda dormindo, tem as mesmas atitudes, procurando sua esposa de forma seca, superficial, fato que estava se tornando cada vez mais freqüente, tocava em sua genitália com agressividade, deixando-a surpresa, porém; quando ele acordava e percebia que era Larissa, resmungava e desistia de acariciá-la, virando para o lado, e voltando a dormir. Essas ações estavam deixando Larissa irritada, principalmente, porque ele se negava a discutir sobre o que estava acontecendo, e que com essa atitude em particular, demonstrava estar pensando em outra pessoa, a sua meta nesse momento era descobrir quem era essa mulher. Já que havia descartado a hipótese de ser Mary, a quem ela continuava considerando sua amiga.
Sem parentes próximos, sua mãe, já falecida, o pai ela nunca soube quem era, tinha apenas uma madrinha adoentada, irmã de sua mãe a quem ajudava esporadicamente, pois ela sofrera um derrame após uma provável discussão com um homem não identificado, deixando-a confusa em tentar lutar por esse amor ou partir, deixar a casa que montaram juntos, e o sambista de vez. Robson pede mais um tempo a sua amante para sair de casa, alegando que não é o momento propício, pois Larissa estava um pouco chateada por ter perdido um dos empregos que mais gostava, onde desenvolvia um trabalho com crianças e estava apenas com os trabalhos de porta-bandeira da agremiação, e a participação em seminários sobre dança e samba em que eram convidados.
Mary sempre coberta de ouro, feminina ao extremo, sempre produzida e atraente, possuí a mesma profissão da esposa de Robson, e louca para ter seu amado o mais rápido possível, indica a ele algumas academias, cursos e escolas para ele recomendar a Larissa, e não ter mais desculpas para prolongar sua mudança. Larissa desconfia que ele esteja preocupado demais com sua demissão e bastante informado sobre os locais que estão à procura de profissionais e desconfia que sua rival está por trás das informações, podendo ser alguma profissional da área, pois já havia escutado uma conversa dele a respeito de um colégio, assunto que nunca lhe despertou interesse, bastava apenas saber quem era a mulher.
Uma semana se passa, e a ala das baianas da Escola realiza periodicamente almoços com pratos típicos, como angu à baiana, feijoada, sopa de ervilha, vaca atolada e caldo verde, com o intuito de arrecadar fundos para escola. Larissa chega simples como se nada estivesse acontecendo na relação, de mãos dadas com Robson, e uma das baianas pergunta ao mestre-sala porque está tão distraído e distante. Ele diz que está confuso. Larissa interrompe o papo, perguntando se está tudo bem, e ele diz que não. Ela insiste em saber se pode ajudá-lo, porque acha que a culpa seja dela. Ele diz que não é nada com ela, o problema é com ele, e que ninguém pode ajudá-lo, deixando sua esposa chateada e olhando para todos os lados, desconfiando até mesmo da própria sombra. Não satisfeita diz que precisam conversar seriamente e abrirem o jogo para poder manter pelo menos o carinho que existe entre ambos.
Após o almoço, as baianas começam a dançar em círculo, evoluindo com os giros tradicionais de sua ala, cantando o samba-enredo da Escola. Robson vê Larissa triste, e resolve, num impulso, pegar a bandeira do pavilhão e entregá-la, induzindo-a fazer com ele as evoluções no meio das senhoras. A porta-bandeira baila com um sorriso de felicidade para seu mestre-sala, sua paixão incondicional, estava fazendo o que sempre quis fazer, dançar ao lado de seu marido e orgulhava-se disso e dele, mas sem demonstrar seus sentimentos, em sua mente lembrava-se do assunto que escutou dos homens comentando sobre o fato de ter usado o par de meias para limpar o sêmen. A porta-bandeira só vê Robson à sua frente e, quando olha para as senhoras em sua volta, estão vestidas com roupas de candomblé, bailando arriadas, lentamente, como em um rito para “Nana”. Larissa se espanta com o que vê, e decide parar, puxando seu esposo rapidamente para fora da roda, sob os aplausos das baianas da escola que permanecem a cantar o samba-enredo.
Larissa ainda espantada e com a respiração ofegante, não acredita que tenha sido apenas uma visão, e quando seu esposo se aproxima e pergunta o que houve com ela, oferecendo-lhe um pote de sopa, ela se assusta, e após um momento de paralisação, joga o pote longe com um safanão e sai correndo para o carro chorando, pois ela viu uma entidade oferecendo-lhe uma porção cheia de cobras, como no sonho. O mestre-sala corre atrás dela e pergunta, já dentro do carro, mais uma vez o que aconteceu. Ela diz que não está se sentindo bem e que quer ir embora para casa. Sério, ao volante, Robson confessa estar cansado das agressões e mudanças repentinas de humor dela, descarregando tudo sempre em cima dele, justificando que discutem toda vez em que saem juntos. Ela alega que está estressada e que vai passar. Ele pára no posto de gasolina para abastecer e levanta para comprar um maço de cigarros. Quando volta, flagra Larissa mexendo em seu celular, iniciando nova discussão, na qual ele a chama de doente.
Larissa confessa que gosta dele, mas jamais pensou que seu sentimento fosse considerado uma doença, e que muitos gostariam de ter essa doença e ele não valoriza, porque essa era a sua forma de amar e que ele deveria já estar acostumado. O sambista pede para ela não mexer no seu celular, não invadir a sua privacidade e respeitar o espaço de cada um, que agindo assim estaria dando motivos para ele fazer o mesmo, e isso, era uma falta de respeito à individualidade. Larissa dá dinheiro para ele pagar a gasolina, ele aceita e entrega a frentista, agradecendo o serviço, saindo lentamente com o carro, pergunta como ela consegue ainda ter dinheiro se não estava trabalhando na escola, sugerindo que ela guardasse seu dinheiro. Sua esposa responde que não precisa se preocupar com isso, que dinheiro para ela jamais faltaria.
Robson fica apreensivo, porque ela sempre teve dinheiro e ainda ajuda sua madrinha doente e não seria possível ainda tê-lo e gastar sem preocupação com o dia de amanhã. Ela volta a perguntar onde ele colocou o par de meias que ela deu de presente, que ele saiu de casa com ela e voltou sem. Ele diz que ela estava confusa e que o par estava na gaveta. Os dois voltam para casa sem se falar, ele coloca o cd de Paulinho da Viola para quebrar o silêncio, e pergunta se todas as vezes que saírem haverá uma nova discussão, Larissa depois de um breve silêncio responde com a cabeça que não. Ela observa o mesmo carro seguindo eles mais uma vez, mas resolve não comentar nada, pega no porta-luvas um papel, anota a placa do carro e guarda na bolsa. Ele observa sua atitude e pergunta o que ela estava fazendo, e ela se mantém calada. Ao chegar em casa, espera ele se trocar, e anota o número que aparece várias vezes no celular dele com intuito de ligar e saber de quem é. Dormem virados de costas e nem se tocam durante a noite, como se não tivessem mais nada um com o outro, inclusive com um travesseiro no meio deles.
Ela se levanta e procura no cesto de roupas algum indício de que seu marido esteja lhe traindo, como: bilhetes ou marcas de batom, e se surpreende ao encontrar uma cueca suja de sêmen, provando que ele teve relações sexuais com alguém, não satisfeita, continua sua busca pelo par de meias que ele disse ainda estar no quarto e vê um pacote contendo apenas uma camisinha em sua carteira, deixando-a indignada por não utilizarem preservativos nas relações. Ao se aproximar de seu esposo para questionar o que encontrou, ao vê-lo dormindo desiste, com as mãos trêmulas, e com o coração batendo acelerado, nervosa com todos os dados que provam o adultério, vai até a cozinha e coloca uma panela com água para ferver, enquanto isso, volta ao quarto e pega uma caneta e escreve o seu nome na embalagem, para que quando ele utilize, perceba que ela já sabe o que ele esta aprontando. Volta à cozinha e ainda trêmula, pega a panela fervendo e leva até o quarto, se lembrando do que a costureira do barracão disse que faria se soubesse que estava sendo traída e com muita raiva derrama na bacia de alumínio ao lado da cama misturando com água fresca, resolvendo colocar os pés de molho e relaxar. No dia seguinte vai até a clínica e não consegue falar com sua tia por ela estar dormindo, ela deixa flores na cabeceira e avisa a enfermeira que voltará depois.
9
Duas semanas se passam. Marcelo com boa intenção procura o mestre-sala e pede que ele desista de Mary para o bem de todos. Robson diz que o primo da passista é grande, mas não é dois, e não se intimida com as ameaças. A rainha de bateria experimenta a fantasia, no barracão, quando é chamada pelo mestre-sala, que pede uma cópia da chave de sua casa, porque irá definitivamente para lá. No bar, do lado de fora do barracão, Moisés, o puxador oficial da Escola, amigo de Robson, ouve a conversa e o aconselha a não se precipitar. O mestre-sala desabafa, dizendo estar cheio de ser a segunda pessoa do casal a tomar alguma decisão. Ele diz que Larissa está chata e possessiva, e vai enlouquecê-lo, e finaliza, dizendo que se ela é tão auto-suficiente, que fique sozinha. O Carnavalesco Paulo César é cobrado pelo presidente Cenísio, que irritado pede para que corra com a execução dentro do barracão, a exigência é extensiva ao diretor de carnaval. Os profissionais começam a acelerar seus trabalhos, a dormir no barracão da escola, e o que antes era ferro, e madeira, começa a tomar forma.
Larissa decide, finalmente, ligar para o número que aparece tantas vezes no celular de Robson e descobre que é o de Mary, e quando a rival atende, ela desliga o telefone ao identificar sua voz. Ainda perplexa com o que descobriu Larissa não sabe o que fazer, com um calor que subia pelo corpo e a sensação de não ter o chão sob os pés, uma súbita dor de barriga a fez ficar trancada aos prantos no banheiro. Inúmeras cenas de momentos em que estiveram juntos os três ou dela mesma, com a passista em trabalhos, viagens e apresentações passam em sua mente, inclusive da receita que ela deu para colocar no feijão. Recordando da história dos orixás. Ela liga para Dalva que passa a ser uma pessoa com quem ela pode contar nesse momento de dor. Naquele momento, sente várias coisas, vontade de bater em Mary ou matar o marido, a de colocá-lo pra fora de casa e solicitar a agremiação outro mestre-sala, arruinando sua carreira, e por fim, pensa melhor com a cabeça fria, e decide se vingar de uma forma que não pudesse se envolver diretamente. Quando Robson chega, já a encontra dormindo e com um travesseiro no meio das pernas bem no centro da cama para evitar o contato intimo, ele a procura durante a noite e ela se afasta para surpresa dele que sabe que ela jamais tomou uma atitude dessas.
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O responsável pelas alas e carros coreografados da agremiação começa os ensaios, e inicia o trabalho com mais de mil profissionais que estão se juntando para abrilhantar o maior espetáculo popular da terra, e Ronaldo com um grupo de turistas, mostra todo o trabalho dessa equipe que se dedica, e por muito tempo, a fazerem o diferencial que as escolas estão aderindo. Na manhã seguinte, numa emissora de televisão, todos são surpreendidos quando Larissa declara que será seu último ano como porta-bandeira, porque pretende encerrar sua carreira, para se dedicar a outros projetos dentro da agremiação, como o de um curso de mestre-sala e porta bandeira que seu ex-companheiro administrava em uma agremiação mirim. A declaração ao vivo deixa Robson surpreso, pois ele não sabia que ela pretendia parar de bailar e se dedicar a outros assuntos, e no final da entrevista, pergunta por que ela declarou aquilo. Ela responde que “está acima do peso, se sentindo gorda, barriguda, e cansada, com vergonha do próprio corpo”, a mesma desculpa que ele deu pra ela há algum tempo atrás, deixando o mestre-sala sem ação.
Larissa procura a mãe-de-santo de Robson para falar que já sabe quem é a amante de seu marido e, mais uma vez, D. Iracema pergunta se a sambista não vai fazer nada para manter seu casamento. Ela responde com o ditado popular: “-Quando um não quer dois não brigam.” Diz que não quer mais saber do marido, pois está muito magoada com a traição, que não é a primeira que ele apronta, e vai resolver a situação do jeito dela, dando tempo ao tempo. A porta-bandeira liga para Dalva e, confessa que está muito mal e com vontade de chorar por perceber que desta vez vai perder seu marido de vez. Após ouvir os lamentos da sambista, Dalva incentiva a terem uma conversa séria e abrirem o jogo, pois não se pode jogar um relacionamento tão invejado pela janela. Larissa alega que Robson não quer conversar, está estranho e já percebeu que ele vai deixá-la a qualquer momento. Ouvindo de Dalva que já teve uma grande paixão por um homem, e por serem jovens demais, sem maturidade para resolverem os seus problemas, ela acabou perdendo-o, tornando-a uma mulher fria, com uma aparência masculina e pouco atrativa, o que a fazia ser pré-julgada por muitos, como lésbica.
Dalva diz que Larissa já tinha passado por essa situação outras vezes e se saiu muito bem delas, e exatamente por isso, não conseguia entender esta atitude insensata da sambista. E Larissa responde, que das outras vezes, ela sabia que era apenas por sexo, já que ele sempre voltava na mesma noite e cheio de amor por ela, mas desta vez a coisa era mais séria, e não via outro caminho a não ser deixá-lo partir e quebrar a cara. Sua amiga pergunta por que ela tem essa certeza desta vez, e ela responde que a amante de Robson é Mary, a rainha de bateria da escola de samba, uma garota que ela tratava bem e que tem a certeza de que eles não estão tendo apenas um flerte e sim um caso, porque ela já estava sentindo diferença nele há mais de seis meses, e conclui que quando voltaram da Europa em maio, juntos os três, eles já estavam se relacionando.
Dalva confessa que já sabia, mas, não podia falar nada, por saber que não se deve se meter em briga de marido e mulher, principalmente porque Robson sempre demonstrou amá-la acima de tudo e por perceber que a sambista gostava muito dele. Depois desse papo, Larissa vai para casa, entra na Internet e começa a pesquisar sobre a placa do carro que os seguia, pois acreditava ser de alguém ligado a rainha de bateria. Como se já soubesse o que iria acontecer naquela noite, Larissa permaneceu sentada na sala ao telefone com Dalva, sendo surpreendida com a chegada de seu marido, que entra, pega as suas roupas no quarto e diz que está indo embora, para dar um tempo na relação que está desgastada, e, sem permitir que sua esposa possa dizer alguma coisa, sai batendo a porta. A porta-bandeira se espanta com a atitude agressiva e precipitada do marido de terminar a relação, pois não é de costume ser grosseiro, pelo menos com ela, e Dalva ouvindo tudo pede do outro lado da linha que a sambista corra atrás da paixão da sua vida, e ainda atordoada e sem raciocinar, ela põe o telefone no gancho e obedece.
Larissa corre descalça pelo quintal, chamando-o pelo nome, demonstra ira, e ao vê-lo colocando suas coisas no carro questiona se ele está certo do que esta fazendo, diz que precisa conversar, ele não responde, pede apenas para que o deixe ir sem escândalos e dramas. Ela se nega a deixá-lo sair, segurando a porta do carro, mas sem argumentos concretos por estar atordoada. Ela não conseguia raciocinar naquele momento para responder as perguntas de seu marido que insistia em saber o porquê daquela atitude, nunca tinha demonstrado ser tão apaixonada por ele, e com a falta de argumentos dela, pede para se acalmar e conversarem numa outra hora. Ela pergunta para onde ele vai tão subitamente, se irá para a casa de sua mãe, não obtendo respostas. Robson fecha a porta do carro, ela abre a porta do carona quando ele já estava arrancando com o veículo, quase se machucando e o xinga de filho da puta, desgraçado, e que sabe que ele vai voltar arrependido, mas ela não terá pena dele.
O mestre-sala deixa a casa sem olhar para trás, largando Larissa no quintal olhando para a rua com ar de vingança, liga para o celular dela e pede que preste atenção na letra da música “Uma nova Paixão”
“Ta tudo errado
Eu não posso mais fingir que sou feliz...”
10
Mary estava ao telefone conversando
com seu primo quando Robson chega e, ela o recebe de braços abertos, preparando
jantar para comemorar a união tão esperada. Robson abre sua carteira e pega o
preservativo que estava lá e lê o nome de Larissa na embalagem, e se surpreende
com a atitude da esposa em marcar o produto. Diante dessa atitude ele fica
pensativo e confessa a Mary que sua esposa já estava desconfiada de que
houvesse outra mulher em sua vida. A passista resolve contar que uma vez o seu telefone
tocou e o identificador de chamadas mostrou o número de seu telefone, mas a
ligação foi encerrada e concluiu que Larissa sabe que ela é a sua rival. O
telefone da casa dela toca insistentemente e quando a passista atende,
desligam. Eles sabem que é Larissa, mas não se abalam e após a refeição,
começam a arrumar as roupas dele no armário.
Larissa põe o fone no gancho, e, num
ato de fúria, rasga todas as cartas de amor, algumas fotos do casal e se deita
na imensa cama vazia, ao som de “Na hora
da raiva”.
“Na hora da raiva eu
lhe disse tudo,
na hora da raiva eu
rasguei o verbo...”
Começa a chorar a perda de Robson,
que naquela hora curte sua nova paixão. Em suas lembranças, a porta-bandeira
promete se vingar e destruir o relacionamento de seu marido e da passista. No
dia seguinte, Larissa procura Marcelo no ensaio da comissão de frente, no
Sambódromo, e diz que não está satisfeita com o que a sua prima fez. O primo se
defende dizendo que não teve nada haver com o envolvimento dos dois, que também
é contra a atitude, por serem da mesma escola, e, principalmente, antes do
desfile. Ele segura a mão dela e pede para ter calma, que ele a ajudará. A
porta-bandeira, pela primeira vez em público, se desmancha em lágrimas nos
braços de Marcelo que, comovido com a situação, confessa que a admira o
suficiente para fazê-la esquecer o ocorrido, deixando a sambista sem graça, pois
ele não tinha a intenção de ajudá-la a recuperar o seu esposo, mas sim em se
tornar o seu mais novo companheiro, e ao perceber que se tratava de uma declaração
amorosa por parte dele, Larissa deixa claro que se sentiu tocada com o que ele
disse, e pede que não confunda as coisas, porque ela é apaixonada pelo marido,
e não quer magoá-lo com falsas esperanças, nem perder a amizade e o respeito
que tem por ele. Marcelo insiste querendo saber se o problema é com ele, e
Larissa mais uma vez tece inúmeros elogios àquele homem enorme, mas, reafirma
seu sentimento por Robson, cantando “Não
pense em mim”, deixando-o desolado.
“Não pense em mim,
sai do meu lado, se
cuida, não pensa em mim,
Estou arrasada por
dentro não pense em mim...”
Um mês se passa, Dalva descobre que
Robson e Mary estão freqüentando o quarteirão de sua amiga e corre pra casa. O
telefone de Larissa toca, é Dalva, avisando que o casal esta passando a pé na
porta da sua casa e vão parar como de costume na barraca de cachorro quente. A
porta-bandeira não acredita na informação, se esconde atrás do portão e vê os
amantes, com mais três pessoas conhecidas que ela considerava amigas em comum do
casal, comendo, bebendo e rindo com a nova paixão de Robson, deixando claro em
sua mente naquele momento, que nunca torceram pela sua felicidade ao lado de
Robson. Larissa não sabe o que dói mais, se é ver o casal expondo sua
intimidade na esquina de sua casa ou saber que seus amigos estavam compactuando
e comemorando com eles. Ela aumenta o som do walkman e escuta “Minha estranha loucura”
“Minha estranha loucura
é tentar te entender,
e não ser entendida,
é ficar com você
procurando fazer parte
da sua vida...”
Os sentimentos começam a se misturar, e ela já não
sabe o que é mais mágoa, dor, ódio, inveja, paixão, frustração ou nojo de todos
os que estão ao lado de Robson curtindo, enquanto ela está arrasada dentro de
casa. Suas pernas ficam bambas, seus batimentos cardíacos aceleram, sua mão
tremula, e sem reação, permanece observando por trás do muro. Mary percebe que
enquanto Robson canta, ele não tira os olhos da casa de sua ex-mulher. Larissa
entra em casa e retorna a ligação para sua amiga que passa diariamente a contar
todos os passos de seu ex-marido, o que ele faz, com quem faz, o horário que
sai e que chega, até as brigas pequenas com a passista lhe são passadas
detalhadamente, e embora ela saiba que aquelas informações a façam mal, ela se
torna dependente delas para poder viver e saber o que fazer.
Marcelo esbarra com Robson domingo à
tarde em um ensaio para a comunidade na rua, e o ameaça caso ele prejudique sua
prima. Os dois se agridem verbalmente e depois fisicamente, rolam no chão na
frente dos integrantes e da direção da escola, que pretende afastar os causadores
do escândalo, por desrespeito à agremiação. Larissa toma conhecimento da briga
no final do ensaio e finge não se abalar com o fato, porém quando volta pra
casa ao parar no sinal, Larissa vê de dentro do carro Robson de mãos dadas com
Mary demonstrando felicidade plena, como se nada estivesse acontecendo em tão
pouco tempo, esquecendo até que sua ex-esposa mora na rua ao lado. Num ato de
fúria ela tem uma imensa vontade de atropelá-los, e com essa intenção, ela faz
o retorno, mas tem seu plano mudado bem perto do casal, quando se assusta com a
chegada repentina de três garotos que cercam seu carro; um, jogando o detergente
no vidro da frente, outro fazendo malabarismo, e o terceiro, colocando em seu
retrovisor uma embalagem de doce.
Os ensaios permanecem ocorrendo
normalmente. Robson e Larissa continuam a se apresentar juntos, como primeiro
casal de mestre-sala e porta-bandeira. Ela não consegue olhá-lo nos olhos, procura
ser o mais profissional possível, e ele confuso se sente mal por causar tamanho
desconforto na pessoa que ele tanto amou por tantos anos. E sempre que tentava
tocar no assunto, era surpreendido com a chegada de Mary que cumprimentava
Larissa e o olhava com ar de reprovação. Ele finge não perceber a reação de sua
atual companheira e mesmo sob o olhar de indignação de Mary, acompanha Larissa até
seu carro e pergunta se ela está bem, e sempre firme ainda sem encará-lo nos
olhos, diz que sim, ligando o som do carro e começa a tocar “Enquanto houver saudade”.
“Em quanto houver saudades, eu não te esquecerei,
enquanto houver
amizade,
não vou pra longe
daqui,
enquanto houver
desejo,
mais uma razão pra
ficar...”
Os
comentários a respeito da separação do casal e da briga entre os integrantes da
agremiação começaram a tomar proporções maiores para desgosto da presidência da
escola que decide tomar uma atitude.
.
O veículo se distancia até sumir do
ângulo de visão de Robson que chuta uma lata vazia com raiva, indo parar nos
pés de um catador que agradece a gentileza, achando que o sambista estivesse
jogando o produto pra ele catar, o mestre-sala sorri para o catador, volta para
pegar o seu carro e demonstra instabilidade emocional para Mary, que já não
suporta mais ser olhada pelos integrantes da agremiação como vilã.
11
Robson se recorda do dia em que deu
o cd/dvd da Alcione de presente e, Larissa disse que só ouviria se estivesse
deprimida ou inspirada para ouvir a cantora, e conclui que ela não está legal. No
caminho pra casa Robson absorto em pensamentos já ia entrando na rua de sua
antiga casa e desfaz a tempo o percurso, indo em direção a sua nova moradia,
deixando Mary irritada com sua falta de atenção. Ele argumenta que é falta de
hábito, e que com o tempo isso não acontecerá mais, e isto não era motivo pra
ela ficar irritada. A passista escuta a desculpa com cara de desconfiança e pergunta
se ele quer voltar para a casa da outra. Deixando o próprio Robson chateado com
a situação que ele sem querer criou.
Com o decorrer de uma semana, a direção
resolve em uma longa reunião com a presidência, a quebrar uma regra da
agremiação, escolher em cima da hora outra rainha de bateria, causando um
alvoroço na estrutura da escola, e principalmente entre as passistas que
almejam o lugar de destaque, mesmo que seja passando por cima da amizade de
Mary. A decisão logo se alastra dentro da escola, se torna o principal
comentário entre os funcionários do barracão, e logo chega aos ouvidos das
pessoas ligadas diretamente à passista que insatisfeitos com a atitude da
presidência resolvem procurar justificativas concretas. Ao ligarem para seu
primo, ele demora a acreditar e não aceita a decisão da agremiação, e questiona
a decisão tomada pela escola diretamente com o presidente da agremiação. O
presidente, Cenísio, alega que se o integrante está insatisfeito com a decisão
tomada pela diretoria, ele pode e tem a liberdade para procurar outra
agremiação e arcar com as conseqüências posteriores, dizendo com ar de ameaça,
deixando o sambista sem resposta. Decepcionado com a firmeza do presidente que
sempre foi conhecido pela sua fama de bom e de flexível nas questões que diziam
respeito à comunidade e todos os integrantes, Marcelo pergunta se essa decisão
era definitiva, obtendo uma resposta positiva e seca do gestor.
Na saída da sala da presidência, ele
encontra Robson com a mesma intenção, a de pedir ao patrono para manter sua
namorada a frente da bateria, e escuta a mesma coisa do gestor irritado com os
últimos acontecimentos dentro daquela Escola de Samba. E ainda completa
alegando que já havia avisado aos dois que tomassem juízo em nome da moral e
dos bons costumes da agremiação. Marcelo procura sua prima, conta a decisão
tomada pela escola e lhe dá um sermão, para surpresa dela que percebe que seu
parente nutre um carinho muito grande por Larissa, enquanto Robson vai até sua
zeladora saber se a porta-bandeira tem algo haver com a decisão da escola, obtendo
um não como resposta. Sendo avisado de que deveria ter feito o que ela indicou,
e que ele está enfeitiçado pela passista. Robson ainda escuta que o melhor a
fazer é se afastar do circulo de amizades em que convivem, fala da receita que
Mary deu a Larissa para ela colocar no feijão e ele se surpreende com a
informação, lembrando da história dos orixás. E começa a suspeitar que ela esta
sendo influenciada por sua ex-esposa.
Ela diz que ninguém faz sua cabeça, mas que seria
legal ele se perguntar sobre seus sentimentos tanto por Larissa, quanto por Mary,
ficando um tempo sozinho para repensar na besteira que está fazendo com ambas, e
a voltar para sua esposa se necessário for, cuidando de seu orixá, como fazia
antes, porque prevê que sua nova companheira vai brigar pelo que ela acha que é
dela. Inconformado com a sugestão tendenciosa, diz que não sabe mais o que
fazer. Mas que talvez ela tenha razão, pois sente muita falta da
porta-bandeira, mas estava gostando de poder estar ao lado de uma mulher
sensível, mimada, doce, e o oposto de Larissa, finalizando que não quer ser
injusto com ninguém. O mestre-sala volta para casa, sem saber como contar para
a passista a decisão da escola em retirá-la, e a respeito dos conselhos que
recebeu se sua zeladora de santo, ele inclusive esta disposto a pedir conselho
a Mary, que o agride, achando ele o causador de sua substituição, jogando suas
roupas no chão.
Ele pede desculpas, pois solucionará
o fato, e diz que Larissa jamais faria aquilo numa situação daquelas, deixando-a
mais irritada com a comparação e o mandando de volta para sua casa. A passista
alega que ele e o Marcelo estão enfeitiçados pela mesma pessoa, a mulher que
quer destruí-la. Robson se surpreende porque não sabia que ela já soubesse, e
se desculpa por ter perdido a cabeça e ter brigado com seu primo na frente de
todo mundo. Ela responde que os dois se uniram a Larissa para prejudicar sua
imagem, completa que não tem nada haver com a briga dos dois e que foi a única
a ser excluída da agremiação que defendeu com tanta garra por tantos anos, e
pior, ficou sabendo disso pelo intermédio dos outros, através de fofocas de
gente que a odeia e tem inveja do seu trabalho e de sua imagem. Robson, pergunta
sobre o que ela sabe a respeito de Marcelo e Larissa, e ela responde que o
primo dela esta apaixonado pela porta-bandeira e, vai aproveitar que esta
sozinha para conquistá-la. E após a cara de espanto, Mary pergunta se aquilo
não seria maravilhoso para todos. Mas ele não responde e não acredita que
possam ficar juntos, a não ser que ela quisesse lhe ferir.
Achando que Mary está de cabeça quente e falando
besteiras, decide sair para tomar cerveja, e começa a comparar as atitudes de
ambas. Liga para Larissa para saber se está bem, e por não atender o
convencional, decide ligar para o celular, e ela o atende asperamente, dizendo estar
aguardando uma ligação, explicando que estava no hospital com sua tia que havia
piorado e pede para ser breve, deixando-o sem graça. Mary vai para academia, e
lá percebe que algumas pessoas estão olhando para ela e comentando, até que seu
treinador pergunta se é verdade de que ela vai deixar o cargo de rainha de
bateria, e ela responde que isso ainda não esta definido, e finaliza dizendo
que sairá da escola se outra oferecer melhores opções de trabalho, mas seu
coração por mais que não esteja na agremiação atual, sempre estará lá, onde foi
criada desde pequena.
O puxador Moisés liga para Robson, e
o chama para uma conversa na qual o mestre-sala confessa ainda gostar de Larissa,
mas que não pode permanecer vivendo com ela pensando em outra. Ele completa dizendo
que para piorar sua situação, Mary não é mais a mesma, não tem capricho com a
casa, é mimada, dependente e egoísta, ao contrário de sua esposa, que sempre
resolveu tudo pelo casal, mesmo com suas grosserias. O amigo diz a Robson que
essa é a Mary, sendo que ele só conhecia a amante e não a companheira. Finaliza,
afirmando, que só o tempo dirá a verdade. O mestre-sala pede ao carnavalesco Paulo
César uma fantasia em um carro ou na ala de passistas para Mary na escola, e escuta
que ela está proibida de pisar na agremiação por um bom tempo. Robson volta
para casa e encontra Mary mais calma, mas ainda chorando sua substituição. Ele,
então, sugere uma viagem no carnaval, para desagrado da passista, que não
aceita a idéia, e diz que não deixará barato. O mestre-sala atende ao telefone,
é Marcelo pedindo para falar com sua prima, convidando-a para sair numa
composição ou desfilar como musa em outra escola. Ela agradece e diz que não
quer.
Robson diz que é capaz de colocar em
risco a carreira dele, logo agora que está no auge, não desfilando no próximo
carnaval para terem mais momentos juntos, longe das discórdias e confusões e,
no entanto, se espanta com o egoísmo dela que nem ligou para os riscos que ele
estava correndo em prol de manter uma relação com ela, e percebe que ela é
egoísta e vaidosa demais para perceber o quanto às pessoas são capazes de se
anularem para demonstrar apoio e carinho. Mary sai batendo a porta, deixando o
mestre-sala falando sozinho no banheiro. Ela vai ao escritório do presidente e
é informada de que ele não se encontra, após muito aguardar, ela deixa recado
de que precisa falar com ele, ao sair do barracão os funcionários a observam
com um olhar diferente e ela pergunta o que esta acontecendo e todos voltam aos
seus afazeres. Seu telefone toca na hora em que passava no meio de bailarinos
que ensaiavam a coreografia de um carro e ela se afasta para atender. Era o
presidente informando sobre sua demissão do cargo de rainha de bateria, ao olhar
para a janela da presidência ela vê a sombra dele que na verdade estava dentro
da sala e preferiu não atendê-la. Na esquina de casa, Mary vê a notícia de sua
saída da escola na banca de jornal e, furiosa, arranca o jornal das mãos de um
senhor que estava comprando o último exemplar, ainda assustado com a ação da
jovem, o velho fica sem ação e, apenas pergunta se ela vai desfilar em outra
escola, e mediante ao silêncio da sambista, ele franze a testa e diz com receio
de ser agredido por ela, se pelo menos poderia deixar a sessão de esportes com
ele.
Começa a chover e Robson, ao arrumar
algumas coisas, encontra, no quarto, dois bonecos de pano amarrados por uma
fita vermelha e preta. Um com seu nome, e, outro, com o de Mary, uma quartinha de
barro embaixo da cama com seus dados, e um pote com mel contendo seus nomes completos,
seguidos da data de nascimento dos dois. Robson continua a procura, e sente
falta de duas cuecas sujas no cesto de roupas. Junta tudo o que achou e parte de
baixo de muita chuva para o barracão de sua zeladora, e é informado que por
sorte, acaba de quebrar um dos diversos trabalhos que Mary tinha feito para
aproximá-lo. Revoltado com a descoberta pede a D. Iracema para ajudá-lo a
desfazer o que possam ter feito para ele.
12
Larissa na sala de espera do hospital,
perdida em pensamentos decide não mais agredir Robson, desperta ao ser chamada
por um enfermeiro que diz que sua tia precisa lhe falar algo. A senhora estava
disposta a dizer o motivo de muitas coisas em sua vida, inclusive o que causou seu
derrame, deixando-a debilitada, para espanto da sambista que ao ouvir tudo o
que dona Elisa lhe contou. Sua madrinha adormece segurando as mãos da sambista
que chora copiosamente, e sai do quarto desesperada chamando a equipe médica,
mas com a certeza de que a senhora tinha falecido pela falta dos sinais vitais.
Apavorada com o que escutou da irmã de sua mãe, não sabia o que responder na
hora de preencher o prontuário de óbito e nem que procedimentos tomar naquele
momento, como por exemplo: ligar para uma pessoa próxima e informar o fato.
Porém Róbson ligou naquele momento e ela contou o que acabara de acontecer com
sua única parenta. Robson partiu direto para o hospital e ficou ao seu lado o
tempo todo lhe dando carinho e viu ali um lado da esposa que poucos conheciam,
e ele se chocou. Observou a sua mulher, frágil, abandonada e sozinha, sem a
imponência peculiar e as expressões e falas de superioridade. Estava chorando
nos braços da única pessoa que ela ainda amava, e que mesmo magoada, não lançou
nenhuma farpa ou destilou veneno algum.
Ao retornar do
sepultamento de sua madrinha, Larissa estava decidida a ficar bonita para todos
e dar a volta por cima. E justamente quando saía do salão de cabeleireiros,
encontra Mary, possuída por um desejo incontrolado de fúria, chama-a de cadela
para baixo, arrasta-a pelo cabelo, jogando-a no chão, iniciando uma briga no
shopping da Barra da Tijuca, resultando em roupas rasgadas, unhas quebradas e
sapados arrebentados. A multidão se aglomera ao redor, muitos atiçam, filmam em
seus celulares, tiram fotos e outros riem da cena patética. A segurança é
acionada e consegue separar as duas. Larissa pede desculpas aos funcionários
educadamente pelo transtorno, pega suas bolsas de compras espalhadas pelo chão,
e dá as costas como resposta. Mary indignada com a surra que levou, pede para a
soltarem, coloca os óculos escuros para disfarçar as lágrimas e continua
querendo briga, chamando Larissa de perdedora, negrinha louca, velha e
recomenda procurar alguém da sua idade. Larissa ao escutar a ofensa, decide
parar, respirar fundo, aperta uma de suas mãos ainda com raiva e percebe que
também quebrou uma de suas unhas, e muda de idéia, pois bateu o suficiente na
rival, e decide olhar para trás, sorri com ar de vitória, ajeita o cabelo e sai
do shopping, desfilando com ar de vingada, se equilibrando para não mancar por
ter um de seus saltos quebrado sob os olhares das pessoas que assistiram a cena
e comentavam.
Mary segue em direção ao banheiro do shopping, lava o
rosto, começa a chorar, e entra na primeira loja que encontra para comprar
roupas novas, e tirar a que estava amarrotada e rasgada da briga. No
estacionamento do shopping, ao entrar no carro, Larissa, liga o rádio que toca “Meu Ébano”.
“É, você é um negão de
tirar o chapéu,
não posso dar mole se
não você créo,
me ganha na manhã e
babau, leva o meu coração...”
Guarda as compras no banco de trás
sorrindo, ainda lembrando-se da surra que deu em Mary, atende a ligação de
Robson e o trata como se nada tivesse acontecido, dizendo que estava pensando
nele naquele momento, e estava indo para a apresentação na casa de shows e, de
lá, para o ensaio no Sambódromo. O mestre-sala pergunta se está tudo bem, e ela
diz, ironicamente, que está triste por ter quebrado um salto de acrílico tão
caro que ele deu para ela de presente, e uma unha tentando desossar uma
galinha.
Reboliço entre as passistas que
sonham em ocupar a vaga da rainha de bateria, Mary procura suas amigas
sambistas no final do espetáculo para se juntarem e darem uma surra em Larissa.
Elas se negam, afirmando que o errado é Robson, e recomendam dar um tempo, por
estarem com os nervos alterados, e saem deixando a ex-rainha sozinha porque não
podem ter suas imagens ligadas a ela, pois pretendem se candidatar à vaga que
era dela. Deixando-a triste e perguntando se elas iriam trair a amizade dela,
ouvindo uma resposta de uma das passistas que pediu para que ela não tocasse no
assunto de traição de amizade, pois ela não era exemplo para ninguém de
fidelidade a uma amiga. Uma das passistas ainda completa dizendo a Mary que
jamais pensou que ela fosse se envolver em escândalos dentro da agremiação,
sujando a imagem das outras profissionais que agora são vistas como mulheres
devassas, capazes de fazer qualquer coisa para conseguir uma ascensão, e
continuam alegando que por causa da atitude dela, podem ter perdido a chance de
substituí-la.
A passista se sente abandonada e
surpresa com a atitude de suas supostas amigas, e procura seu primo que diz que
ela tinha sido avisada por ele e pelo presidente da escola de samba, mas que a
ajudará a esquecer o mestre-sala, se ela quiser realmente esquecê-lo. A rainha substituída
se defende dizendo que não é vilã, apenas estava amando um homem que fez
promessas de fazê-la feliz e ela acreditou em suas justificativas, finaliza
dizendo que ninguém é de ninguém e que quando ‘um não quer, dois não brigam’. E
antes de sair ainda afirma que não pensava em se apaixonar como se apaixonou
pelo mestre-sala.
Robson volta para casa e não comenta
com Mary o que descobriu. Ele permanece indiferente ao analisar atentamente seu
comportamento hostil, seu rosto arranhado, e aguarda que ela sinta falta das peças
que ele levou para D. Iracema e comente com ele. A passista comenta o que
aconteceu no shopping esperando uma atitude dele, e ele calado, apenas continua
a assistir televisão.
Larissa revirando seu guarda roupa, abre
uma lata de cerveja, liga o rádio e ouve a música, “resposta ao tempo” e se
lembra do que ouviu de Mary quando a chamou de velha e perdedora. E percebe que
a letra narra a passagem do tempo, da relação com a idade, os amores e atitudes
tomadas impensadas e começa a chorar copiosamente, lembrando de seu esposo em
vários cômodos da casa em que viveram por nove anos.
“Batidas na porta da
frente, é o tempo...
eu bebo um pouquinho
pra ter argumento...
Mas fico sem jeito
calado, ele ri, ele zomba do quanto eu chorei
Porque ele sabe passar
e eu não sei...”
Já faz quatro dias, que ele se nega
a fazer amor com Mary alegando cansaço e indisposição por causa dos intensos
ensaios com a aproximação do carnaval e os preparativos para as festas de fim
de ano, problemas que a mudança dele causou e apresentações, e para piorar o
humor da passista, ele volta a ligar para Larissa combinando com entusiasmo, horários
de ensaios na sua frente. Robson liga para sua mãe, e Ronaldo diz que ela saiu
para comprar material para uma festa de fim de ano que esta organizando e pede
para ligar para o celular dela, e ele avisa a ela que passará lá para comer
suas comidas caseiras, e escuta de sua mãe que não esta satisfeita com a
separação dele.
13
As passistas começam a se apresentar
para um número restrito de pessoas influentes na agremiação para ocuparem a
vaga da rainha de bateria, no entanto, não se satisfazem com nenhuma das
candidatas, e após muito discutirem, chegam à conclusão de que deverão tomar
outra atitude que justifique a saída da antiga rainha, afastando os rumores que
poderiam não repercutir bem para escola, e fazer de sua saída um bom motivo
para contratação de uma celebridade. Aproveitando e utilizando a notícia como
marketing a favor da escola e com isso, conseguir com a imagem da celebridade,
arrecadar fundos para vestir a bateria e após decidirem, finalizam a seleção
dando a informação às passistas que tristes, vêm seus sonhos escaparem por
entre os dedos.
Ronaldo encontra Robson e diz mais
uma vez que sua mãe esta preocupada com ele, pois não aparecia em casa há algum
tempo e queria vê-lo, ele diz que irá para matar as saudades, e pergunta como
ela esta mediante a tantas coisas acontecendo na vida dele, e seu irmão diz que
esta bastante aflita porque gosta de Larissa e não aprova a separação. O
sambista lembra-se do que Mary disse sobre Marcelo gostar de Larissa e se
incomoda com a idéia de saber que sua esposa poderá estar nos braços de outro
homem e se aflige com a situação que esta vivendo. Na véspera da noite de
natal, o presidente da agremiação dá uma festa de confraternização aos
funcionários de barracão e aos elementos que são considerados fortes na
agremiação, entre eles, o intérprete, baianas, bateria, comissão de frente,
mestre sala e porta bandeira, alas e carros coreografados e sorteia brindes a
todos e pede garra, sigilo quanto às especulações que envolvem a agremiação e
determinação na reta final.
Robson não passa o natal com Mary que estava em casa aguardando, e
quando liga para ele, o sambista informa que passará com sua mãe e seu irmão,
deixando-a irritada por ter preparado uma ceia para os dois, então ela decide levar
o que preparou para casa de seu primo, tomando um porre, e falando a noite toda
sobre seu amor e do arrependimento do que tinha feito para ter sua paixão,
acabando dormindo na sala vendo televisão. Robson passa o natal com sua mãe que
pergunta o porquê de tudo o que estava fazendo com sua vida, mas ele pede para
não tocar no assunto naquela data, pois estava sem condições de falar e pede sua
mãe para ligar para Larissa por pensar que poderia estar sozinha e triste, mas
descobre que está com várias amigas, comemorando a data na casa de um casal de amigos
gays em uma cobertura na zona sul. Todos fazem silencio para ouvir ela atender
a ligação de sua sogra e após a finalização, começam a brincar com ela, dizendo
que ela deve realmente lutar pelo marido dela e não se abater por ser uma
mulher maravilhosa.
Uma semana se passa e no Réveillon,
a Escola seleciona integrantes da bateria, das baianas, o primeiro casal de mestre-sala
e porta bandeira, e alguns passistas para fazerem o show em um dos palcos montados
na praia de Copacabana, junto com Moises, o intérprete oficial da agremiação. Larissa
e Robson se apresentam esplendorosamente como se nada estivesse acontecendo,
para uma multidão que os assistia. Mary passa o réveillon em casa sozinha
assistindo a contagem regressiva pela televisão, a casa apagada, as horas
parecem não passar nunca, a felicidade e a barulheira dos vizinhos a incomoda,
pois está completamente abandonada. O telefone toca, é seu primo querendo saber
se ela estava bem e desejar um feliz ano novo. Mas por achar que seja o
mestre-sala, para causar irritação nele, decide não atender ao telefone. Deixando
seu primo preocupado. Até que amanhece o dia e pega no sono antes da chegada de
Robson. E acorda assustada ao perceber que Robson foi embora levando suas
roupas. Liga a televisão e assiste aos últimos preparativos das escolas, as
entrevistas, e se revolta jogando o controle remoto na parede, que vai parar
embaixo da cama. Ela não acredita e começa a socar a mesa chorando, e procura o
controle remoto e se recorda que o arremessou longe.
Ao abaixar para pegar o controle, percebe que a
quartinha de barro não está no lugar. Desesperada, começa a procurar pelos
outros trabalhos que não mais estão no quarto. Ela liga para a diarista que
arruma seu apartamento e pergunta se ela mexeu na peça, obtendo a resposta de
negativa e a afirmação de que não estava mais lá há muito tempo, descobrindo
então que Robson achou e descobriu tudo. E logo se lembra do que seu primo
disse de que ninguém pode ser feliz com a infelicidade dos outros. Ela liga
para o celular de Robson que não atende as suas ligações, e então resolve ligar
para a casa de Larissa com intuito de descobrir se seu amante voltou para a
casa da esposa. O telefone toca e ninguém atende, deixando-a mais preocupada.
Pergunta a seu primo se tem visto os dois juntos, ele diz que eles nunca
demonstraram que estavam separados, e quer saber onde ela esteve na noite
anterior que ele tentou falar e ninguém atendeu, e Mary responde que não
atendeu por achar que fosse Robson. Seu primo sugere que coloque um
identificador de chamadas em seu aparelho.
Mary encontra Robson na porta do
barracão e o segura pelo braço querendo lhe falar. O sambista se nega, e ela
começa a gritar, dizendo que ele vai se arrepender do que fez com ela,
prejudicando-a na agremiação e largando-a no momento em que ela mais precisava.
Com vergonha do escândalo na porta do barracão, principalmente por ter muita
gente ensaiando ala coreografada. Robson finge não escutar o que ela diz, e
parte arrancando com seu carro. A escola escolhe uma celebridade para
representá-la na avenida, e promove uma festa na quadra para dar boas vindas a
nova rainha de bateria que chega a agremiação sendo aplaudida por alguns, mas
vaiada por outros, já que a escola sempre teve o hábito de escolher moças da
comunidade para desfilar na frente de sua bateria.
14
Robson lembrou que apenas nos braços
maternos poderia encontrar o refúgio necessário, e decide ir para casa de sua
mãe, dona Ivonesa, a famosa boleira de Mesquita para se isolar e refletir
melhor sobre tudo o que fez, e chegando lá com quatro sacolas de roupa na mão,
quase mata a mãe do coração por não entender o que está acontecendo com o filho
mais próspero. O mestre-sala para não espantar sua mãe explicou que estava
precisando dar folga do agito da cidade grande e resolveu procurar o sossego
debaixo da asa dela, comendo as comidas caseiras e as guloseimas que só ela
sabia fazer e pergunta se sua cama ainda está lá no quarto dele, porque está
morrendo de sono e quer depois de comer, tirar um cochilo gostoso, longe do
estresse do trabalho. Robson na manhã seguinte reencontra seus amigos de
infância que jogavam capoeira com ele no terreno baldio ao lado da estação, e
se recorda de quando pensou em um dia se tornar um mestre de capoeira renomado
e viajar o mundo todo. Mas acabou cedendo a outra paixão nacional e que também
é sinônimo de brasilidade lá fora, o carnaval, “O carnaval é minha vida, é minha verdade”, é o que diz para os
amigos que o escutam falar sobre as viagens.
No meio da roda, Robson explica que
as escolas de samba tinham um lado muito mais cultural do que comercial, embora
o capitalismo esteja acabando com as tradições, e define o motivo das cores de
algumas escolas, dando como exemplo o orixá que a regi, assim como os
instrumentos utilizados e sua batida da bateria, que saúdam essas nações das
quais vinham os negros africanos. Inclusive que no início, cada uma fazia sua
própria comida em oferecimento as suas entidades, mas que atualmente todas
estavam fazendo a feijoada. Além dos animais que representam uma identidade e a
influência dos bicheiros da época que as patrocinavam. Fala da grande perda das
baianas que estão largando as agremiações por se converterem ao evangelismo. E
Ronaldo completa dizendo que trabalha exatamente mostrando tudo isso aos
turistas, que vêm sempre à cidade para conhecer os locais onde viveram no
período que antecedeu o período do prefeito Pereira Passos que tinha em mente
transformar o reduto em uma Paris brasileira, e com isso tombando os cortiços,
expulsando os negros para outras regiões, e construindo a cinelândia, por
exemplo. Contando sobre as tias baianas e seus casamentos com os sambistas
perseguidos pela policia, por serem considerados marginais.
Os dois explicam que a porta estandarte ganhou um capoeirista
para proteger o pavilhão e se tornaram mestre-sala e porta-bandeira, o homem
protegendo a mulher que carrega o símbolo da escola. E ao dizerem isso. Robson explicou
com lágrimas nos olhos para os colegas que ficaram em Mesquita que não existe
lugar mais maravilhoso que o nosso Brasil, em que todas as raças e credos podem
conviver em prol de um único ideal. Em
confidência a um amigo, se declarou apaixonado por sua mulher que o tirou dali,
e o transformou no que ele é hoje, e que graças a ela, pôde comprar a casa para
sua mãe, mas estava confuso depois de tudo que aconteceu entre eles. Confessa
ainda para seu amigo que o samba, Larissa e ele formavam uma composição química
tão bela que não podia acabar nunca. Encerrando o assunto e se levantando da
mesa onde acontecia um churrasco com pagode depois do jogo de capoeira e
retornando para almoçar em casa com sua mãe. Seu amigo pede para cantar um
pagode antes de partir e ele canta “Mal acostumado”. Música que tocava quando
ele e Larissa se conheceram.
“Amor de verdade eu só
senti,
foi com você meu bem,
e todas as loucuras
desse nosso amor,
você me deu também,
você já faz parte da
minha vida...”
Seus amigos brincam dizendo que Robson
é um homem de sorte, que está sendo disputado por duas mulheres maravilhosas,
bonitas e gostosas e, que muitos deles queriam estar em seu lugar, e ele sem
responder com palavras, apenas com um sorriso, decide voltar para casa de sua
mãe. No meio do caminho ele passa por um grupo de Clóvis que os cercam e
começam a bailar com suas sombras e roupas coloridas, e identifica um deles
pelo andar e ameaça tirar sua mascara, pois era seu primo mais novo que assim
como ele e seu irmão adoravam brincar o carnaval de bairro, se vestindo de
bate-bola com os amigos da redondeza, mantendo a tradição dos costumes locais.
Ao chegar em casa, suado e com a camisa no ombro, sua
mãe já o esperava sentada na cozinha e o almoço pronto no forno, querendo uma
justificativa para aquele aparecimento de repente com roupas emboladas em
sacolas plásticas e aquela aparência abatida e de preocupação. O filho não
entra no assunto e evita falar, enquanto sua mãe prepara seu prato e o observa
desconfiada. Robson pergunta por que sua mãe está fazendo aquelas perguntas, e
sua mãe com uma mão no peito, colocando seu prato na mesa, diz que não está
tendo bom pressentimento e acha que ele deveria tomar cuidado, pois é o filho
que mais lhe ajudou financeiramente e mais lhe deu carinho e, mas também foi o que
mais deu dor de cabeça com as mulheres. O mestre-sala responde com um abraço e
um beijo na testa, alegando que mulher na vida dele só ela mesma, mais ninguém.
Larissa redige um projeto, e após imprimi-lo, leva
para a direção da escola onde iriam preparar os futuros percursionistas, mestres-sala
e portas-bandeira para depois, inclusive oferecer oficina ensinando a comunidade
profissões dentro de um barracão, e assim capacitar jovens nas profissões de
arte plumária, aderecista, laminação, maquiagem caracterização, marcenaria,
serralheria, entre outros. O projeto depois de ser apresentado é imediatamente
aceito e aprovado por unanimidade pelos gestores que aplaudem a idéia de
Larissa, e seu ex-companheiro de bailado, agradece por se preocupar com a
perpetuação da cultura, da agremiação e, com a ajuda em retirar jovens ociosos
da rua, e se abraçam. Sendo interrompidos por um coquetel oferecido pela
agremiação. Ela não parou de olhar para o pulso de seu patrono que tinha uma
abotoadura faltando um pedaço de ouro e lembra da peça encontrada na sala de
sua tia e passa mal e pede um copo de água a secretária que pergunta se esta
tudo bem. Ela se refaz e diz que sim, vai até o banheiro, pega a peça que
guardava em sua carteira, repara a jóia e volta à sala do presidente,
disfarçando e dizendo que pensou ter esquecido alguma coisa na reunião.
Ela confere suas suspeitas. Ele é a pessoa que
visitava sua tia, e o último a sair de sua casa antes de passar mal e vir a
falecer mais tarde. Ainda sem saber o que fazer, ela pensa em ligar para
Robson, mas desiste por não mais confiar nele, pergunta há quanto tempo ele
perdeu aquela jóia e o gestor sem graça, não soube informar, nem sabia que
estava faltando uma peça. Ela sorri sem graça, vai ao andar de cima do
barracão, experimenta sua fantasia pela última vez, verifica os últimos acertos
que faltam, cumprimenta a nova rainha de bateria, olhando bem dentro dos olhos
dela e perguntando se ela tem namorado, deixando a passista sem graça e sem
entender o porquê da pergunta, e na saída, avista Marcelo com sua prima e finge
não vê-los. Coloca os óculos escuros e entra em seu carro, seguindo em direção
ao espaço em que será montada a futura escola. Marcelo vai em sua direção e
pergunta se ela esta bem e se pode ligar para ela, ela diz que sim, que apesar
dele ser primo de Mary, não tem nada contra ele e que respeita o sentimento de
carinho que ele nutre por ela. O integrante da comissão de frente dá um sorriso
de felicidade e ao voltar, pede para sua prima segurando-a pelo braço pára
tirar de vez o Robson da cabeça e partir para outra, não insistir com aquela
atitude imatura, e ela o responde imediatamente, batendo no peito que é
guerreira e luta por quem ela quer, não é como ele, um fraco que poderia se
aliar a ela para serem felizes, já que percebeu que ama a porta-bandeira.
15
Várias revistas, sites e canais de
televisão e rádio começam a fazer matérias sobre os últimos preparativos para o
carnaval e com isso, a dar ênfases as rainhas de bateria, e a nova rainha de
bateria, tem dificuldades em agradar a comunidade por não ser da região e por
estar no lugar de alguém da região da escola, ocupando mais espaço nos veículos
de comunicação do que os próprios sambistas de comunidade, que desfilam por
amor a agremiação. Paulo César chega acompanhado da nova rainha de bateria e de
outro rapaz ao sambódromo para supervisionar a decoração dos camarotes da
escola e assistir os ensaios da comissão de frente e do casal de mestre-sala e
porta-bandeira. Ao final, eles descem, cumprimentam o coreógrafo, o diretor de
carnaval, que também acompanhava o ensaio, e o casal que defende o pavilhão.
Marcelo não consegue deixar de
pensar no que sua prima disse a respeito de seu sentimento por Larissa e
resolve tentar mais uma vez uma aproximação, lhe mandando um buquê de flores
com um bilhete carinhoso constando o seu telefone convencional e celular para
que ela entre em contato. Ela sorri ao receber o presente ao chegar em casa por
achar ser de Robson, mas ao descobrir que não é dele, se agrada com a atitude carinhosa
de Marcelo e, decide ligar no dia seguinte para agradecer, quando no meio do
ensaio da comissão de frente, ele atende seu celular todo derretido por saber
quem era, e a convida para jantarem juntos ou assistirem a uma exposição sobre
carnaval que estava em cartaz no centro do Rio, e se surpreende com a resposta
positiva.
Mary vira matéria de vários jornais
e revistas na qual é protagonista de várias versões especulativas para sua
saída e a entrada da celebridade, e tira proveito das matérias para deixar
subentendido à possibilidade de ser contratada por outra escola do mesmo porte
para representar o cargo que deixou na agremiação da baixada, e para isso,
procura estar nas quadras de outras escolas, e fornecer fotos suas ao lado de
presidente e diretores das escolas para imprensa.
O tempo passa... E no último ensaio
técnico da escola de samba no sambódromo. Camarotes já quase prontos. Testes de
luz e som finalizados. Curiosos lotam a avenida como se fosse dia de desfile
oficial para assistir a agremiação evoluir. Os ambulantes faturam, circulam por
entre as arquibancadas vendendo cerveja e refrigerante.
Robson diz a porta bandeira que esta
passando um tempo na casa de sua mãe e que quer conversar com ela um assunto de
interesse de ambos. Larissa alega que se for para falar sobre uma volta, que
não estava interessada em tocar naquele assunto tão cedo, pois estava pensando
em dar uma chance a outra pessoa e olha para Marcelo. Ele pergunta por que ela
estava atrasada, se estava saindo com outra pessoa, e ela diz que não é da
conta dele, mesmo com as batidas do coração acelerada e, louca para abraçá-lo e
dizer que ele é o homem de sua vida e que jamais amará outro em seu lugar. Mas
se contem, mas é traída pelos tremores e o suor frio nas mãos, Robson percebe e
dá um sorriso. Larissa tinha passado o dia com Marcelo, foram almoçar e depois
pegaram uma sessão de cinema, ele foi para a concentração e ela decidiu ir ao
cemitério visitar sua mãe e sua tia antes de seguir para a Marques de Sapucaí,
o que a faz chegar atrasada ao ensaio.
Ela avista Mary na arquibancada de vermelho no meio
da multidão olhando-a com ira e as mãos na cintura. Ela não comenta com Robson
para não demonstrar importância. Mas diz que sentiu muita falta dele ao seu
lado, e ele mesmo ainda abalado com a declaração de que existe outro em sua
vida, diz que também esta muito mal sem sua companhia. Dalva que estava na
avenida informa a sua amiga que soube através de Moises que Robson deixou Mary,
para alegria de Larissa que demora a acreditar na notícia, e completa avisando
que ele está mal e morando de volta na casa de mãe carnal. Confirmando o que
ele havia dito anteriormente. A sambista pergunta por que ele fez isso, se sua
casa também é a casa dele, que montaram juntos cada detalhe, inclusive ela
lembra muito dele em cada cômodo, na hora de dormir, na hora de jantar, na hora
de assistir um filme, e nas datas comemorativas. Mas mudam de assunto com a
aproximação de Marcelo que a procurava para saber se estava tudo bem e após a
resposta positiva, ele vai ocupar o seu lugar no ensaio, sob fortes olhares dos
amigos da comissão de frente que torcem para que ele consiga conquistar sua
paixão.
Robson percebe quem é a pessoa com
quem sua esposa está saindo e fica irritado, se aproxima de uma barraca e pede
uma cerveja e ao encontrar Dalva, pergunta o que elas estavam falando; ela
desconversa e não responde. Larissa intrigada com a antipatia que ele demonstra
a diretora de harmonia resolve perguntar o porquê de tanta indiferença a uma
pessoa tão legal como a Dalva e, ele desconversa, dizendo que ela não é uma
pessoa confiável, para ela tomar cuidado com o que Dalva pudesse falar dele,
deixando a porta-bandeira sem saber o porquê da antipatia. Final do ensaio
técnico, Marcelo procura Larissa e pergunta quando eles poderão fazer um
programa como aquele de novo, sendo interrompido por Robson que pergunta se ele
poderia ajudá-lo em alguma coisa, demonstrando ciúmes com essa atitude. Marcelo
faz sinal para Larissa ligar para ele depois, deixando o mestre-sala irritado
com a cena e perguntando há quanto tempo ela tem o telefone dele, e obtendo
apenas um sorriso de sua esposa como resposta.
16
Sábado, Ronaldo leva um grupo de
pessoas para conhecer o cordão da bola preta no centro do Rio, param para
almoçar, e partem para as bandas de Ipanema e finaliza visitando a das Carmelitas,
no bairro de Santa Teresa. Domingo, véspera do desfile, o barracão cheio de
gente entrando e saindo para pegar suas fantasias, os operários concluindo o
trabalho às pressas. Todos sem dormir e tensos com a hora que se aproxima. Os
carros alegóricos são testados para saírem do barracão e caminhar até a concentração
na Avenida Presidente Vargas.
Mary vai até o barracão mais uma vez, e consegue entrar,
em meio à confusão, como se fosse conversar com a presidência da agremiação, e
depois de ter entrado, disfarça, pega um biquíni de passista e sai sem ao menos
subir as escadas para o andar onde fica a sala da presidência, ela estava decidida
a reverter à situação com Robson. O mestre-sala depois de muito pensar e
refletir sobre todas as suas mulheres, possuído pelo ciúme que brotava ao
relembrar a cena em que viu Marcelo convidando-a para sair e, decide voltar
para Larissa e retomar o casamento que havia deixado para traz, e com o apoio
de sua mãe, parte com a intenção de pedir perdão e a chance de uma
reconciliação. Robson deixa seu celular desligado, pede seu irmão Ronaldo uma
opinião sobre que atitude tomar sobre sua vida sentimental, e escutando o
conselho do rapaz de que ele deveria voltar para Larissa antes que fosse tarde
demais, quando o convencional de sua mãe toca e ele atende. Era Mary querendo
conversar sobre a relação deles e ele desliga deixando a passista irritada do
outro lado da linha. Ela retorna a ligação e dona Ivonesa atende pedindo para a
moça tomar tendência e procurar um homem solteiro e deixar o filho dela em paz,
antes que ela entrasse em defesa da felicidade de seu menino e desse umas boas
palmadas nela, e antes que Mary tente justificar, a senhora diz que a moça não
ama seu filho, está apenas com sentimento de perda, desligando o telefone e
pedindo para não ligar mais para sua casa.
Decidido a acertar o erro cometido,
Robson, beija sua mãe na testa e pede para não se preocupar, pois voltará para
Larissa e colocará a cabeça no lugar, pede a seu irmão para lhe acompanhar até
o desfile, e ao sair pelas ruas de Mesquita, assiste pais levando seus filhos
para brincarem carnaval nas praças, e se recorda de quando se fantasiava com
sua turma de amigos, emocionando-se com as recordações de quando seu pai os
levava para brincar nos bailes, sendo abraçado por Ronaldo. Ao passarem por
Madureira, encontram um congestionamento em função do bloco de piranhas que
movimentava o bairro em baixo do viaduto de Madureira, e felizes, mexem com os
foliões que lançam espuma, confetes e serpentina em seu carro ao som de
marchinhas carnavalescas. Robson só aparece no barracão com seu irmão para
pegar sua fantasia no domingo á tarde, véspera do desfile, guarda sua fantasia
no escritório de seu irmão no centro partem para a Zona sul assistir o banho de
mar a fantasia e caminhar pelas ruas do centro do Rio, aproveitando o carnaval
que deixou de atrair familiares. E juntos curtirem como crianças as festas do
reinado de Momo. Voltam para casa bêbados e abraçados, deixando dona Ivonesa
preocupada porque tinham compromissos sérios no dia seguinte, e depois do banho
tomado, dormem no quarto, enquanto a mãe prepara um lanche especial para seus
filhos. Ela estava feliz com a farra dos irmãos, se sentindo dona se sua prole
de novo, mas mesmo assim, ligou para dona Iracema para pedir pela saúde dela e
de seus filhos no carnaval.
À noite, ela os acorda para assistirem ao desfile das
agremiações de domingo com uma farta refeição e pede para não fazerem bagunça
porque ela queria assistir com eles, e os três assistem na sala até uma
determinada hora. Ela levanta, arruma confortavelmente o quarto de seus filhos
e os coloca para dormir e volta para sala com um sorriso nos olhos, lembrando
de quando desfilava ao lado de seu falecido marido. Eles acordam tarde, tomam
um lanche preparado por sua mãe e juntos seguem para a agência de Ronaldo no
centro e de lá, para a concentração, chegando atrasado por não conseguir um
lugar próximo para estacionar, apesar da credencial de livre acesso, deixando
Larissa apreensiva na concentração. Marcelo já vestido se aproxima da sambista
e diz que ela é a mulher mais linda da agremiação e que ficaria muito feliz se
ela tirasse uma foto ao lado dele para guardar com carinho, ela aceita e dá um
beijo no rosto dele, alisando seu queixo com um sorriso e brilho no olhar, ele
acredita que esse sorriso talvez seja a chance que tem para entrar na vida
dela, mas na verdade o sorriso é o fruto da esperança que ela nutre em ter o
seu marido de volta.
Faltam poucos minutos para a escola
entrar, ela já está praticamente armada na concentração aguardando o
encerramento da outra agremiação, tensão geral nos integrantes que iniciam a
contagem regressiva para o desfile, a população que assiste na arquibancada
montada em cima do canal do Mangue grita os nomes das personalidades e dos
artistas que começam a se posicionar. Marcelo é chamado a comparecer no seu
posto a frente da escola e segue dizendo pra Larissa que jamais haverá uma
mulher tão importante em sua vida, e que tem certeza de que ela não se arrependerá
se der uma chance para ele. A direção da escola pergunta a sambista onde está o
mestre-sala e ela não tem uma resposta, até que é sugerida a substituição dele
caso não chegue a tempo, eles a mandam bailar ao lado do segundo mestre-sala,
Larissa tenta mais uma vez ligar para o celular dele e não consegue, fica
nervosa e começa a tremer pela primeira vez em muitos anos de profissão e pede
uma garrafa d’água.
Robson finalmente chega à
concentração com muita dificuldade por causa da multidão de curiosos que se
aglomeram pra ver as escolas na presidente Vargas, ele caminha por entre as
alas espremidas e carros alegóricos até encontrar Larissa, nervosa que achava
que algo de ruim tivesse acontecido. A escola toda se prepara para desfilar,
quando o presidente ao microfone, pede garra aos integrantes e dá início à
queima de fogos. A escola acha uma irresponsabilidade de Robson não ter
aparecido na concentração no horário marcado e o atraso somado ao fato de estar
com o celular desligado e o Capitão da comissão de frente olha pra trás e tenta
avistar a porta bandeira que já mais tranqüila ao lado de Robson faz o sinal de
tudo bem pra ele, desejando boa sorte para todos, e deixando Marcelo triste com
a cena. Robson pede desculpas a todos pelo atraso e ao terminar de se vestir, tenta
arrastar sua companheira para lhe confessar algo importante, mas não pensou que
fosse chegar tão em cima do desfile, é que ele queria saber se haveria a
possibilidade dela aceitá-lo de volta e juntos consertar o que foi feito. A
porta-bandeira não escutou bem a pergunta por causa da queima de fogos e do
som, e para piorar são orientados pela diretoria a caminhar ao som da terceira sirene
que causa um friozinho na barriga de todos, pois a escola já iniciou o desfile,
o casal caminha de mãos dadas pela concentração sob os gritos dos fãs que se
apertam no setor zero para conseguirem assistir a entrada da escola.
A escola evolui com a garra, fazendo
jus a sua fama e ao grito das arquibancadas de que balançavam bandeiras de
plástico, distribuída pela escola para a torcida aos gritos de “-É Campeã”. A comissão de frente termina
o desfile e aguarda a agremiação, enfileirada na praça da Apoteose. Cenísio vê
Mary desfilando na ala das passistas e se irrita com o alvoroço da imprensa que
dá destaque à presença dela na agremiação, mas como não pode fazer nada, pede
aos seus seguranças que a acompanhem durante todo o desfile para que não haja
mais tumulto e procura Paulo César para saber como ela conseguiu a fantasia. O
carnavalesco não sabe responder. Marcelo pede para sair, alegando estar se
sentindo mal, desaparecendo dos olhos de seus amigos, na verdade ele não queria
ver Robson com Larissa, os carros chegam impecáveis no final do sambódromo e
são retirados, o casal de mestre-sala e porta-bandeira defende o pavilhão
maravilhosamente e se apresentam sob aplausos, e as alas passam sem deixar furo
na harmonia.
Dona Iracema e Dona Ivonesa assistem
ao desfile atentas e com uma dor no coração, se emocionam em ver o casal
bailando em perfeita sintonia e sendo aplaudidos por todos que o assistem,
principalmente por um comentarista que diz jamais ter visto o casal em tão boa
forma, com tanto garbo e entrosamento em muitos anos de parceria. Depois de
cada apresentação nos quatro setores para os jurados, Robson olha para Larissa
com um sorriso e grita, porém, ela não consegue olhar por muito tempo, mas por
três vezes o encarou e, leu nos seus lábios o que dizia: “Larissa, eu te amo,
volta pra mim meu amor!”. Não acreditando naquela atitude que parecia mais uma
de suas brincadeiras, ela se fazia desentendida e continuava a bailar arrepiada
com a declaração, até que gritou no final do desfile um refrão da música: “Faz uma loucura por mim”.
“Faz uma loucura por
mim,
sae gritando por aí
bebendo e chora,
toma um porre, pixa o
muro que me adora...”
Na dispersão é só emoção. Robson vê Mary
no meio das passistas e comenta com Larissa. Ambos não se preocupam com a
presença dela. Ele pergunta se sua esposa quer voltar para ele, e ela diz que o
ama muito mais do qualquer coisa no mundo, mas mesmo magoada, queria conversar
a respeito de tudo o que aconteceu, e decidem saírem dali. Robson agarra
Larissa e a beija intensamente. Em meio a vários flashes de fotógrafos, ela
sorri, e diz que ele nunca a perdeu, e que ele será sempre, por mais que não
demonstre, o seu verdadeiro amor. Os jornalistas se aproximam dos sambistas que
terminam o desfile. Vários sambistas pedem para serem fotografados ao lado do
casal. Robson dá um salto de felicidade, segura na mão de sua esposa, e saem
juntos da dispersão sob olhares de muitos que aplaudem a cena. Ele pede um momento
para ir ao banheiro e beber água, enquanto ela aguarda ansiosa e com um sorriso
no rosto pelo momento tão esperado, que é estar com ele de novo e retomarem a
relação, recebendo os parabéns dos integrantes que passam.
Desmaios de emoção das baianas, entrevistas às
celebridades, quando três disparos dispersam a agitação. Correria e desespero
de integrantes que ainda desciam dos carros alegóricos, a mobilização de policiais
e do corpo de bombeiros para socorrer a vítima, caída de bruços, baleada. No
posto médico, a vítima recebe os primeiros socorros, enquanto aguarda a chegada
da ambulância para removê-la para o hospital mais próximo. O integrante é identificado
pelo nome de Robson de Souza, o mestre-sala da agremiação. A imprensa é
notificada e dá a notícia ao vivo, direto da dispersão, deixando todos
apreensivos. Larissa corre no sentido ao contrário da multidão para acompanhar
a ambulância e chegar ao hospital onde estava sendo socorrido, e depois de
muito insistir para vê-lo, deixam ela entrar, e no meio de tantos corredores e
pouca informação, ela se recorda das perdas que teve em sua vida. Uma a uma. A
correria no hospital para remover sua falecida tia do hospital, a do
falecimento de sua mãe ainda pequena e ao recobrar a lucidez, próximo ao leito
de seu esposo, observa a equipe médica cobrindo o seu corpo com o lençol branco.
Robson acabara de falecer. Ela se aproxima diminuindo os passos, arrancando
acessórios de sua fantasia, demonstrando descontrole emocional com o choro alto
e escandaloso, segurando e socando fortemente os médicos, e por fim levantando
o lençol e agarrando o corpo de Robson no leito do pronto socorro.
Os canais continuam na cobertura do desfile,
e a todo instante, entram flashes diretos da dispersão, entrevistando sambistas
que ainda assustados, não tem idéia de quem poderia ter feito os disparos. Após
o desfile de mais duas escolas, a TV, ao vivo, do hospital, informa o
falecimento de Robson, deixando dona Ivonesa e dona Iracema, que acompanhavam o
desfile, apavoradas.
17
Terça feira de carnaval, muita
agitação na quadra onde é velado o corpo do sambista. Larissa mantém-se fria,
contendo suas lágrimas, ao lado de dona Iracema e dona Ivonesa. Os integrantes,
revoltados, tentam saber quem foi o causador da tragédia que envolveu o nome da
agremiação. Mary chorando copiosamente acompanha o velório e o sepultamento
pela televisão. Marcelo chega ao velório e é interrogado pelo investigador por
ter brigado com Robson, que informa que ele é um dos suspeitos pela morte do
sambista, sendo intimado a comparecer à delegacia para prestar depoimento,
assim como sua prima Mary, com quem o sambista teve um envolvimento amoroso, e
que foi vista no desfile da agremiação depois de roubar uma roupa no barracão. Em
cima do caixão, as bandeiras do Vasco da Gama, time do coração, e de sua Escola
azul e branco. A polícia, após diversas abordagens aos componentes da escola, também
suspeita de sua esposa, e a intima a comparecer a delegacia para prestar
depoimento. Logo após saber de seu convite para depor, o presidente Cenísio
Tavares contrata um dos melhores advogados para acompanhá-la.
No cemitério, Larissa e dona Ivonesa recebem a notícia
de que o casal ganhou o Estandarte de Ouro de Mestre-sala e Porta-bandeira. E
na hora de descer o caixão, começam a cantar. “Não deixe o samba morrer”
“Não deixe o samba
morrer,
não deixe o samba
acabar,
o morro foi feito de
samba,
e samba pra gente sambar...”
A escola da baixada ganha o
campeonato por meio décimo de diferença da agremiação que ficou em segundo
lugar. A imprensa presente ao sambódromo desde o início da apuração do
campeonato faz link direto com a
quadra, e entrevista o carnavalesco Paulo César que é só alegria, e se diz
feliz por já ter em mente o enredo para o ano seguinte, na mesma comunidade. O
repórter questiona o meio ponto de diferença, tirado pela jurada no quesito
harmonia, o diretor diz que foi apenas ela quem viu o buraco, e que não vale a
pena questionar o fato, apenas tentar melhorar para não acontecer de novo o que
somente ela viu. O diretor oferece cerveja de graça para a comunidade que
invadiu a quadra para comemorar o campeonato até a quinta feira do dia seguinte.
Larissa, em entrevista no camarote
da quadra, chora emocionada pela colocação, pelas notas dez que deu a escola,
pelo estandarte conquistado, e pela perda do esposo. Não consegue concluir a
entrevista, sendo amparada por amigos, deixando o repórter sem saber o que
falar, encerrando a matéria com um panorama da quadra lotada, mas com a faixa
preta de luto no palco. Mary é intimada e comparece à delegacia de óculos
escuros, acompanhada do advogado, e com uma camiseta branca amarrada na frente
e escrita nas costas “Robson, paixão
eterna” pintada com esmalte de unha na cor vermelha para depor no dia e
horário marcados, causando alvoroço nos repórteres e curiosos. Todos os
veículos de comunicação falam do assassinato de Robson. O delegado pergunta
quanto tempo tinha o romance dos dois; por que terminaram; o motivo da briga na
porta do barracão; e qual à intenção em entrar no barracão, depois de ser
banida da escola, para furtar um biquíni de passista. Mary responde que há mais
de seis meses tinha um romance, mas apenas um mês residindo juntos, não sabia o
porquê do término do relacionamento, sendo esse o motivo da discussão na porta
do barracão. Ela alega não ter invadido o barracão, apenas entrou na frente de
todos, apanhou o biquíni e saiu, mas na verdade queria falar com Robson que
fugia dela sem dar justificativa. Afirma ter sido vista por todo mundo, por
isso tinha álibis, e declara ser inocente do crime. Seu primo Marcelo entra em
seguida e diz que brigou com Robson porque ele tinha virado a cabeça de sua
prima, e ambos estavam desrespeitando a escola. Ao ser surpreendido pela
pergunta feita sobre a sua paixão por Larissa, o suspeito desconversa,
afirmando ter apenas uma enorme consideração e um respeito muito grande pela
sambista.
A viúva acompanhada de dona Iracema procura dona
Ivonesa e deixa alguns objetos dele, se dispondo a ajudá-la no que fosse
preciso, e as três juntas se abraçam. A mãe do sambista diz que é grata a tudo
a que ela fez pelo seu filho, que foi uma excelente nora, que levantou Robson e,
que graças a ela, seu menino tinha comprado uma casa própria. A senhora vai até
o seu quarto pegar algumas fotos que ela tinha de seu filho, da época em que
eram namorados e decide dar de presente, como forma de retribuir a gentileza da
sambista. Ao retornar com várias fotografias de Robson, elas lembram vários
momentos da vida do falecido, até que dona Iracema deixa cair algumas fotos.
Dona Ivonesa se estende e pega as fotos, e entre elas estavam duas fotografias
viradas e em uma, Robson e Dalva se beijando, e em outra, abraçados sob
lençóis, inclusive fotos muito antigas em que eles estavam muito mais jovens,
para surpresa da sambista que ficou por um bom tempo olhando as fotos com as
mãos tremulas, lembrando de algumas cenas de Dalva conversando com o Robson, e
inclusive ligando para ela informando os passos dele.
A boleira vai até a cozinha preparar
um cafezinho com bolo e na volta pergunta se Larissa esta bem, pois estava
estranha, e sua nora diz que não sabia que os dois tinham sido namorados na
adolescência. E Dona Ivonesa explica que foi uma paixão doentia entre eles, com
direito a escândalos de Dalva, mas que tinha acabado muito antes dele ter
conhecido a porta-bandeira. Completa perguntando se ela realmente não sabia do
romance, obtendo resposta negativa. Após segundos, a sambista respondeu que nem
suspeitava, Dalva demonstrou ser sozinha, mal amada e dedicada apenas ao
trabalho, nunca demonstrou interesse por homem algum, e que até pensou que ela fosse
homossexual, mas agora compreendia as implicâncias de Robson com ela, e o
porque dela saber tanto da vida dele, “- ela nunca o esqueceu.” Afirmou
irritada!
Larissa deixa os números de seus
telefones na casa de sua sogra e sai com dona Iracema levando algumas fotos
dela com Robson, inclusive a que ele estava ao lado de Dalva. Ao lado de fora,
muitos vizinhos e curiosos observavam a saída de Larissa da casa da boleira e
comentavam entre si a beleza da viúva. A sambista deixa a zeladora de santo em
casa, ordenando que faça o que for necessário com as coisas do santo dele, e
segue em direção a casa de Dalva. Chegando lá, pergunta diretamente porque não
sabia que ela tinha sido uma namorada de seu marido, e porque ela tinha tanto
interesse em contar sempre tudo o que ele fazia com Mary. E antes que pudesse
responder, ainda finaliza com mais uma pergunta sobre onde estava que não
percebeu que a escola abriu um espaço, que fez perder pontos, já que sempre foi
a melhor diretora de harmonia e que jamais a agremiação perdeu ponto naquele
quesito.
Dalva começa a gaguejar, pede às
fotos que Larissa tinha em mãos e a convida a entrar para conversarem, e lá,
confessa que amou muito Robson, e foram felizes na adolescência; contou que
perdeu um filho dele na época, mas que por imaturidade jamais souberam conduzir
a relação, e a partir de então, não quis mais saber de homem nenhum, a não ser
o capoeirista, que não conseguia esquecê-lo, mas quando viu ele ao lado de uma
mulher que poderia ajudá-lo; resolveu abrir mão de pensar em tê-lo de volta. E
continua dizendo que até a aparição de Mary, estava tudo bem, mas por querer o
bem de uma pessoa que a fez feliz por muito tempo, resolveu aliar-se a porta-bandeira
e ajudá-la a resgatar o homem maravilhoso que é o mestre-sala. Eles se tornaram
confidentes, e a diretora de harmonia alega que sabia de todas as suas
traições, mas que não passava de aventuras, diferente do que estava acontecendo
com Mary, mas não podia falar nada, pois poderia parecer despeito. Aquelas
palavras magoaram Larissa, mas ela pode compreender a atitude de Dalva que
inclusive mostrou-se solidária naquele momento e jurou ser inocente na morte de
Robson, apesar de não responder onde estava na hora dos disparos, e porque a
Escola perdeu pontos em harmonia.
18
Na noite seguinte, um verdadeiro reboliço
na quadra da agremiação, a diretoria, ainda de luto, mas feliz com o campeonato
descobre por meios escusos, o causador
dos disparos. Fora um integrante da ala da comunidade que se negou a dizer o
nome do mandante, e disse ter aproveitado a grande quantidade de pessoas na
dispersão para fazer o serviço ao qual havia sido contratado, e disparou os
três tiros que causaram a morte de Robson. Por ordem da Presidência, ele é
executado e o corpo mutilado sem digitais, crânio esfacelado, e queimado para
dificultar o reconhecimento, e finalmente pendurado na entrada do município
como exemplo e com um enorme texto no qual ele confessa ser o autor do crime
cometido com sambista. A polícia descobre, na manhã de sábado, o corpo junto com
uma carta-confissão, e conclui que o assassino foi descoberto e eliminado pelo
grupo de extermínio que age no local há muitos anos, encerrando um inquérito, e
iniciando outro que, provavelmente, não será concluído por diversas questões
políticas, se tornando provavelmente mais um número na estatística de vítimas
da violência.
Ao chegar em casa cansada pelo
trabalho que esta desenvolvendo dentro do projeto que entre vários benefícios a
comunidade, está o de capacitar jovens para o mercado de profissionais de áreas
técnicas na construção de fantasias e alegorias, afastando-os da ociosidade e
direcionando-os para o mercado de trabalho da própria agremiação. Larissa
assistia a um documentário contando a história de Noel Rosa, um dos prediletos
de Robson e depois de comer uma pizza com vinho, recebe a ligação de Marcelo
que estava querendo saber se ela estava bem, ela agradeceu a preocupação e
encerrou a conversa um pouco seca, liga o som e coloca um cd com músicas de
samba de terreiro e acaba pegando no sono na sala mesmo.
Mary é despedida da escola em que
dava aulas de samba para crianças por causa dos escândalos ao qual está
envolvida, responde a um processo por furto da fantasia do barracão da
agremiação, inclusive deixa de ser convidada para as algumas apresentações, mas
é procurada por uma revista masculina a posar nua, e aceita imediatamente
porque precisa manter seus gastos pessoais.
Na missa de um mês do falecimento de
sua tia, Marcelo, Dona Ivonesa, Dona Iracema e alguns amigos de Larissa comparecem,
inclusive o presidente da agremiação, que olha para ela com lágrimas nos olhos
e ela retribui com um ar seco e apenas erguendo a cabeça séria. Ao ser
cumprimentada por ele, ela entrega um envelope e pede para ele abrir depois que
saísse dali. Sendo fotografados por investigadores da polícia.
Sábado à noite, desfile das campeãs,
Larissa decide desfilar sozinha, embora a escola tenha indicado o segundo
mestre-sala para acompanhá-la, mas depois de insistir com os dirigentes,
consegue argumentar de que será melhor para ela, para a imagem de Robson, e
para a escola. Uma forma de se promover e manter o assunto sobre o ocorrido
ainda sendo lembrado pela população. A atitude da sambista vira notícia e corre
solta até chegar ao setor um, local onde a escola dá o início ao desfile,
considerado o termômetro do sambódromo, onde ficam, inclusive, os repórteres,
que correm em direção a ela para falar sobre a colocação da escola, a premiação
do estandarte de ouro, e do boato de que iria desfilar sozinha com uma tarja
preta. Larissa declarou estar feliz com o estandarte de ouro, com a colocação
da escola, lamentou o ocorrido, e se negou a tocar no assunto. E quanto a
desfilar sozinha, ela afirmou que jamais permitiria que outra pessoa desfilasse
no lugar de seu esposo, pois as notas e o prêmio eles conseguiram juntos, e que
seria falta de respeito ao sambista, se impusessem um outro em seu lugar. A
declaração ao vivo causou uma revolução na história do carnaval. A harmonia
pede respeitosamente que os jornalistas se afastem de Larissa para o início do
desfile, e ela começa a sorrir para todos que se encontram na arquibancada,
acenando como uma verdadeira estrela, amada pelas pessoas que gritavam o seu
nome.
Ela se apresenta com uma tarja preta
em sua saia em sinal de luto no setor um, levantando todos os que estavam no
local, o segundo mestre-sala se sentiu frustrado porque já tinha comentado com
todos que viria ao lado dela, mas foi confortado com a notícia de que se
tornaria o primeiro mestre-sala no ano seguinte. Cenísio fala ao microfone,
dona Ivonesa chora ao ver Larissa entrando fazendo o sinal da cruz. Com o soar
da campainha, ela olha para trás e vê nos fogos, o rosto de Robson, e sob os
aplausos do sambódromo de pé, ela evolui sob lágrimas. O comentarista informa
que ela voltou no tempo, em que os pavilhões eram trazidos pela porta
estandarte, hoje conhecida como porta-bandeira. Em sua mente sempre que olhava
para frente, se via bailando com seu finado marido em diferentes anos de sua
vida, cada rodada, uma roupa diferente, um ano diferente, uma retrospectiva dos
nove anos de casamento, nem parecia que estava sozinha, como se o espírito dele
estivesse ali cortejando do jeito que ela sempre quis que ele o fizesse.
Na dispersão, após mais uma entrevista coletiva. O
presidente se aproxima da porta-bandeira que é ovacionada pelos últimos setores
e iniciam uma longa conversa na qual pode se perceber o clima tenso entre
ambos. Inclusive dos investigadores policiais e de Dalva que não tira os olhos
dos sambistas.
Marcelo se aproxima de Larissa e
pergunta se ela esta indo para casa e lhe oferece uma carona, e os dois saem da
dispersão juntos, negando-se a dar entrevistas aos repórteres. A caminho de
casa, Marcelo pergunta se ela está bem e ela informa que precisará dele para
iniciar os projetos na agremiação e ele aceita. Ele a deixa na porta de seu
carro e segue pra casa dizendo que a ama muito e que gostaria muito de ter uma
chance com ela. A sambista sorri e se despede com um beijo na testa do
integrante da Comissão de frente, no caminho pensava no que tinha dito ao presidente,
no que sua madrinha disse antes de falecer a respeito do Cenísio e ao chegar em
casa, foi tomar uma ducha, se deitou, tomou um remédio para pegar no sono.
Na manhã seguinte, a polícia inicia
a reconstituição do crime com a ajuda de dados colhidos pelos interrogados, os
últimos passos de Robson são pesquisados, a história de Robson vira matéria dos
principais jornais, e a imprensa questiona o envolvimento da contravenção e dos
comandos alternativos que dominam comunidades da cidade. Dona Ivonesa e, Ronaldo
são chamados para interrogação pela manhã e a boleira indignada ainda com a
perda de seu filho não se contem e passa mal durante o interrogatório, sendo
dispensada e avisada de que poderia ser chamada outras vezes se necessário
fosse. Seu filho a leva para casa, e amparada também pela zeladora de santo que
pede aos repórteres para se afastarem em respeito à dor da mãe do mestre-sala.
19
Mary pede para seu primo ouvir algo
que precisa confessar e quer um conselho. Marcelo assustado tem medo do que
Mary possa dizer, e tranca a porta, fecha a janela. A passista diz que esta
arrependida do que fez para Larissa, pois não foi justa com uma amiga e que
estava com vergonha do que fez. Mesmo com medo da resposta, seu primo perguntou
o que ela tinha feito. E Mary disse que aproveitou a ingenuidade de Larissa e
fez simpatias de revistas para pegar o homem da vida dela, que se arrependia de
ter feito escândalo e ter xingado ela no shopping. E encontraria um modo de
consertar o que fez, ajudando a sambista de alguma forma no que ela precisasse.
Em conseqüência de uma aventura, pôs a carreira dela em jogo, causou dor em
diversas pessoas, como a mãe do sambista, o irmão, a desavença de profissionais
de uma agremiação, correndo o risco de ser presa por ter roubado um biquíni ou
até mesmo ser morta misteriosamente, e que só não foi, porque o escândalo foi
grande e com a participação da imprensa.
Seu
primo chora ao ouvir e abraça Mary, se diz orgulhoso do que ouviu, e aconselha
ela a procurar Larissa, pedir desculpas e torcer para ela perdoá-la. E se fosse
necessário, ele faria a intermediação dessa conversa, pois todos têm o direito
de se arrepender, mas apenas se fosse uma atitude de coração, e não mais uma de
suas estratégias malignas. Ele diz a sua prima que sabia de tudo, pois a
porta-bandeira já havia dito tudo isso a ele em uma conversa. O capitão da
comissão de frente liga para Larissa com sua prima ao lado, e diz querer
conversar, a sambista responde que a tarde irá depor com o advogado da
agremiação, e que depois podem se encontrar, e então, marcam à noite.
Larissa
nervosa em seu depoimento diz não suspeitar dos motivos para a execução de seu
marido, e tão pouco o responsável pelo crime, afirma olhando sempre nos olhos
de seu advogado que concorda com sua declaração, mas não imaginavam que o
delegado tinha dúvidas a serem esclarecidas. Surpreendida pelo delegado que
insinua sua participação em parceria com o presidente após ser flagrada entregando
a ele um envelope na missa de sua tia e logo depois sendo vista discutindo com Cenísio
no final do desfile das campeãs. O delegado pergunta o que tinha no envelope e
o que estavam discutindo no desfile das campeãs. Ela nervosa e muito irritada
com a insinuação declara que a razão da conversa era o fato de ter descoberto
quem na verdade era Cenísio Tavares, o presidente de honra da agremiação. O
advogado pede que ela se acalme, por estar nervosa. O delegado pede que ela seja
mais clara nas declarações, e manda o escrivão anotar seu depoimento. Para a
surpresa de todos, ela conta o que conversaram: “-Naquele sábado das campeãs, ele
disse que eu chorando, fazia lembrar minha falecida mãe, que foi porta-bandeira,
que estava emocionado, mas triste pelo que aconteceu com meu marido. Perguntou
se eu precisava de alguma ajuda, e se eu não voltaria cumprimentá-lo?”
O delegado pergunta qual foi sua
resposta, e ela disse que nos argumentos do presidente, estava o de bom moço,
por ter aprovado os projetos dela de fazer uma oficina com cursos
profissionalizantes, aulas de dança no espaço da quadra, e logo depois a
liberação da verba para a fundação da escolinha de samba mirim, em que ela seria
a presidente de honra. Ela disse que olhou dentro de seus olhos e não poderia
cumprimentá-lo e nem tão pouco agradecê-lo, pois ele não fez nada mais do que a
sua obrigação como presidente de uma escola de samba grandiosa como a que ele
presidia há tantos anos, e não estava fazendo nenhum favor a ela, porque todos
iriam se beneficiar com o trabalho dele. Completou alegando que não o perdoaria
por ter feito sua mãe chorar a vida inteira, ter sido o responsável pelo
derrame de sua tia com suas torturas para não contar a ela a sua verdadeira
origem, e nesse momento, as imagens turvas dele discutindo na casa de sua tia,
ao fundo, a voz da sambista narrando que ele nunca a reconheceu como filha
legítima, negligenciando amor, carinho e outras coisas que ela sempre precisou.
Após o silêncio, o delegado perguntou se ela tinha
certeza do que estava dizendo, pois sua declaração era oficial, entraria para o
inquérito e se tornaria pública, questionou quais eram as provas para a
acusação contra Cenísio. Ela pede calma, pois não se tratava de especulação, e
sim de uma acusação. Ela disse que sua mãe sempre escondeu o nome de seu pai, e
com o falecimento, sua madrinha, única irmã de sua mãe, passou a ser sua tutora,
e a criá-la com uma renda de origem desconhecida, lhe dando de tudo, e sempre alegando
que era a mesada de seu pai desconhecido, mas omitindo o nome dele. Até que
quando ela teve o derrame, foi encontrado pela empregada, uma jóia de ouro que
fazia parte de uma abotoadura, e foi quando ela soube que pertencia ao Presidente
da agremiação, então os fatos começaram a se esclarecer em sua mente, depois
disso, ela começou a juntar as peças do jogo e decidiu a descobrir a origem de
sua história. O delegado perguntou o que ela fez, e ela completou dizendo que
conseguiu perceber tudo o que queria, ver com mais facilidade e compreender
determinadas situações em sua vida, e na missa de um mês de sua tia, ela
entregou a jóia dentro de um envelope para o presidente, dizendo que sua
madrinha havia dito que pertencia a seu verdadeiro pai, e faleceu antes de
pronunciar o nome.
Sem graça, não questionou, até que no desfile das
campeãs ela avisou que sabia de tudo, e ele por achar que a sambista ainda não
soubesse quem era o seu pai, abaixou a cabeça. O delegado pergunta se a jóia
era o suficiente para ela achar que o presidente fosse seu pai, inclusive sua
tia poderia estar desorientada quando fez a revelação por causa do derrame. Ela
continua depondo. Citando conquistas que ela teve sem esforço, a aprovação de
seus projetos, e das coisas ruins que aconteciam com quem lhe fazia sofrer, no caso
da expulsão de Mary, a morte do laranja encomendado pra despistar a trama
envolvendo o assassinato do mestre-sala, as vezes que foram seguidos por um
carro que ela identificou como de um de seus seguranças. E ainda, sugere a
policia a verificar a quebra de sigilo bancário e descobrir a origem dos
depósitos feitos em sua conta. Disse que seus guarda-costas quando a seguiam, a
deixava assustada, por achar ser um seqüestro, e nunca imaginou ser os
seguranças de seu pai zelando por sua segurança, mas desta vez apuraria o
assassinato do marido e do suposto assassino confesso, e passaria a ser seu
pesadelo, porque se ele estivesse realmente envolvido, teria ido longe demais e
pagaria caro por tudo o que fez. Larissa sai da delegacia discutindo com o
advogado, pois ela não informou o que diria, não seguiu seus conselhos e ela
irritada diz que cansou de tudo. Liga para Marcelo e pede para encontrar com
ela na Lagoa, e ele parte com sua prima com a finalidade de reatar a amizade de
ambas. No meio do caminho eles escutam pela rádio o resultado do depoimento da
porta-bandeira.
O advogado liga para Cenísio e avisa
o que sua protegida fez, irritado, o presidente liga para ela e sem tempo de
questionar sua atitude, recebe ordens dela para sumir da cidade, do Estado e do
Brasil, pois será seu pesadelo assim como ele foi, matando todas as pessoas que
ela amou e desliga aliviada quando Marcelo chega, e os dois correm e se
abraçam. Marcelo após conversar com a sambista pede que perdoe uma pessoa
arrependida por tudo o que fez a ela, Larissa diz que todos foram vitimas, e
que não é a pessoa mais adequada para julgar a atitude de uma mulher apaixonada
e aperta a mão de Mary, não prometendo ser sua amiga como antes, pedindo tempo
para que tudo volte a ser como antes. Marcelo deixa as duas conversando a sós.
O presidente aciona seus homens de
confiança e sua família, inclusive o verdadeiro assassino de Robson, pois eles
mataram e colocaram outro homem inocente no lugar para despistar os crimes e
fogem para local desconhecido. O presidente é procurado pela polícia, sendo
expedido um mandado de busca, o vice-presidente assume seu posto, e a
comunidade indica Larissa para o posto de vice, e ela aceita orgulhosa. Ela
convoca uma reunião com seus sócios no projeto, o capitão da comissão Marcelo e
Ronaldo para concluírem o projeto de eventos ligados a carnaval com duração de um
ano inteiro.
Mês de junho, Mary disfarçada, liga
para a policia fornecendo o paradeiro de Cenísio, que é preso, a ação vira
notícia nos jornais locais e Mary voltando para o Rio de Janeiro mais aliviada,
decide ligar para Larissa e dizer que delatou o pai dela como prova de que
estava arrependida das besteiras que fez. Ao chegar no Rio, é abraçada por
Larissa que a convida a entrar para o grupo de gestores, e ela aceita. Eles iniciam
a gestão elaborando a semana de eventos com palestras sobre carnaval com
presença de celebridades, pesquisadores, julgadores, compositores, e carnavalescos,
finalizando com a peça onde atores interpretam uma peça sobre a história dos
sambas de enredo.
Mês de julho, um ano após um senhor
pergunta de um celular se esta tudo bem com o projeto, finalizando a ligação
ordenando que seja um sucesso o evento. A sala é uma cela, e o autor da ordem é
Cenísio que mesmo preso continuou ligado a agremiação e ajudando sua única
filha.
FIM
Contatos com o Autor: (21) 99606-8338 / paulocesarpintodealcantara@yahoo.com.br / contatopauloalcantara@gmail.com
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