Por Eduardo Lamas
A felicidade é o estado
de espírito dos insensatos. Sim, é verdade, vez por outra sou acometido pela
falta de bom senso. Mas o que tenho visto mesmo antes da insensatez e muito
aquém da falácia que camufla as verdadeiras intenções, esta verborragia que
mascara personalidades fracas e vazias, é a inconsequência travestida de
coragem, a displicência travestida de tranquilidade, o estresse travestido de
produtividade, a estupidez travestida de inteligência, a afetação travestida de
sensibilidade, a sensualidade travestida de promiscuidade.
Vejo um mundo repleto
de seres felizes, sorrindo e acariciando suas infantis desculpas e adiamentos,
e a pieguice descomunal com que se maquia diariamente diante de um espelho
opaco ou fosco ou côncavo ou estilhaçado. Ter uma imagem distorcida de si mesmo
é ver o mundo, a natureza, os monumentos, as pessoas, a arte de forma
equivocada.
Mas, claro, a vida tem as cores e as
formas que lhes emprestamos com nossos sentidos, mesmo quando nos anulamos e
nos esforçamos, ou simplesmente nos deixamos enxergar pela ótica de outro.
Distorção, espelho com rachaduras, imagens fragmentadas e disformes.
E eu que já quis ser mais rápido que
a minha imagem no espelho? Sim, tentei inúmeras vezes fazer um movimento tão
veloz que a imagem refletida não conseguisse acompanhar com a mesma velocidade.
Olhei para o lado de lá e quis saber como era, quem era aquele que me imitava e
que mundo era aquele que reproduzia fielmente invertido o que estava aqui, do
meu lado, à minha volta. É, eu sonhei...
Narciso olhou-se no
lago e se apaixonou pelo que viu. Ele não voltou a olhar quando as águas se
agitaram. Hoje, os narcisos miram-se nesse espelho d’água diariamente e mesmo
que as águas estejam extremamente revoltas jamais conseguem enxergar os seus
esgares, suas faces mais horrendas, só conseguem captar sempre a mesma imagem:
a do sorriso embasbacado do idiota feliz.
O narcisismo exposto, principalmente nas redes sociais, revelam o pouco conteúdo que uma grande parcela de pessoas mantêm dentro de si. No entanto, me perco na dialética do reflexo do espelho, neste período de forçada autoanálise eu vejo no espelho imagens distorcidas da realidade, ou, antes eu não conseguia enxergar o que hoje é tão óbvio?
ResponderExcluirParabéns pelo texto Eduardo, e mais uma vez, Muito Obrigada!
Eu que agradeço muito pelo convite e pelo carinho e respeito ao meu trabalho, Conceição. Foi um grande prazer.🙏
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